A espiritualidade de Dom Bosco: uma bússola para a Igreja na era digital
01/12/2025

A espiritualidade de Dom Bosco: uma bússola para a Igreja na era digital

A espiritualidade de Dom Bosco: uma bússola para a Igreja na era digital

A 104ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais (USG) encerrou-se sexta-feira, 28 de novembro, no centro de retiros “Fraterna Domus”, em Sacrofano, nos arredores de Roma. Foi um dia repleto de encontros e debates para abordar os perigos e vantagens da Inteligência Artificial e o "abuso espiritual". Ontem, 27 de novembro, o Reitor-Mor dos salesianos, P. Fábio Attard, participou de uma mesa-redonda sobre oração, durante a qual disse que a espiritualidade salesiana continua viva e espiritual, mesmo no contexto mundial atual.

Após o encontro com o Papa Leão XIV, quarta-feira à tarde, no Salão Sinodal – pouco antes de sua partida para a primeira Viagem Apostólica Internacional à Turquia e ao Líbano – os religiosos da USG reuniram-se na manhã de quinta-feira na Fraterna Domus, em Sacrofano, para um encontro intitulado: “Oração Hoje: Comparando Tradições Religiosas”. Também discursaram ao lado do P. Attard o P. Jeremias Schröder, Abade Primaz da Ordem de São Bento (Beneditinos), e o Ir. Pascal Ahodegnon, Superior Geral da Ordem Hospitaleira de São João de Deus (‘Fatebenefratelli’).

A experiência de Dom Bosco

"Toda espiritualidade é marcada por seu contexto. Mas também sabemos muito bem que - sendo um dom do Espírito - toda tradição espiritual consegue tornar-se uma experiência capaz de se encarnar não só no tempo em que surge mas em todas as épocas. Seria um grave erro" - enfatizou o P. Attard - "se faltasse essa compreensão fundamental de toda tradição espiritual. Basta observar o grande dom que as diversas tradições que marcaram os séculos - e continuam a fazê-lo hoje - ainda oferecem à Igreja e ao mundo inteiro: cito as tradições beneditina, franciscana, dominicana, inaciana... Sua vitalidade é o sinal mais claro e encorajador de que hoje somos chamados a encarar o novo sem medos e sem acanhamentos".

Por isso, o XI Sucessor de Dom Bosco lançou um convite a ler o presente sem medo e sem nostalgias, adotando “uma leitura inteligente, afetiva e efetiva do tempo”, pois, caso contrário, corre-se o risco de “não colher as sementes de bondade que o Senhor nos está a presentear”.

Com foco na tradição espiritual salesiana, o Reitor-Mor falou do carisma educativo e pastoral que emergiu da experiência de Dom Bosco, o qual "assumiu formas típicas que ainda hoje o caracterizam. O encontro desejado e buscado com a realidade dos jovens, o desejo de encarnar-se na história dos jovens que encontrava — onde eles estão, como eles são — tornou-se um ponto fixo, pois a partir dessa escolha, fundada em relações de amor, fraternidade e confiança mútua, entre jovens e pastores, uma proposta pastoral foi gradualmente tomando forma. As quatro dimensões que caracterizam a proposta pastoral salesiana, já claramente evidentes na vida de Dom Bosco, não são objetivos a serem alcançados — recordou o Reitor-Mor — mas processos e experiências que devem advir dessa relação pastoral".

O Sistema Preventivo

Segundo o salesiano, “trata-se de processos interligados que se concentram na pessoa integral: educação na fé, promoção cultural, vivência em grupo, dimensão vocacional. São escolhas pastorais que somos chamados a interpretar em cada contexto e cultura. Este trabalho de interpretação da proposta começa sempre com a situação atual das crianças e jovens que acompanhamos”.

Por fim, o P. Attard enfatizou a importância do Sistema Preventivo, que é “um legado carismático que ainda hoje nos permite, a nós, Salesianos, e aos muitos leigos que vivem e partilham conosco a missão salesiana, estabelecer processos educativos e pastorais em todos os Continentes e em todas as culturas. Foi isso que Dom Bosco vivenciou e formulou no final da sua vida. O Sistema Preventivo ainda hoje consegue criar espaços de convergência humana e pastoral, educativa e espiritual, com jovens de todas as religiões ou sem religião, de todas as culturas, em todos os Continentes”.

Na conclusão, o P.  Attard referiu-se ao Sistema Preventivo como bússola para habitar também o território da IA: “Humanizar o algoritmo não é uma operação tecnológica, mas pastoral”.

E por isso as comunidades religiosas são chamadas a respirar “o ar dos jovens” e a caminhar com eles. Porque “temos jovens santos”, capazes ainda hoje de buscar autenticidade, relacionamento, Evangelho.

A oração beneditina

Por sua vez, o P. Schröder lembrou que o coração da oração monástica continua sendo a vida em comunidade e, sobretudo, a ‘opus Dei’, o ritmo diário da liturgia das horas que marca o dia dos mosteiros e constitui a “rocha” da experiência espiritual beneditina. Uma oração coral, sóbria, bíblica, que não busca efeitos, mas guarda a memória da história da salvação.

“Não nos sentimos muito atraídos pelas liturgias caseiras”, afirmou, sublinhando o valor da tradição como lugar de equilíbrio e fidelidade eclesial. Junto com a dimensão comunitária, o abade mostrou como, ao longo dos séculos, também se desenvolveu um espaço significativo para a oração pessoal, desde a antiga «trina oratio» até a redescoberta moderna da meditação, até a contribuição de figuras como García Cisneros (um dos primeiros místicos espanhóis pioneiros no uso de técnicas meditativas), ou Willigis Jäger (sacerdote e mestre zen, conhecido por unir a sabedoria ocidental e oriental).

Uma pluralidade de caminhos que, na formação, não é imposta, mas oferecida, para que cada monge possa encontrar sua própria maneira autêntica de encontro com Deus.

Um elemento agora compartilhado em toda a ordem é a lectio divina, tempo diário dedicado a uma escuta lenta e “ruminada” da Palavra e dos textos espirituais: uma ponte entre a oração e a vida, um exercício de interioridade que se contrapõe bem à fragmentação do mundo digital.

"Espiritualidade Hospitaleira" na Era da IA

O Ir. Ahodegnon, por sua vez, abordou a espiritualidade hospitaleira na era da inteligência artificial (IA) e da tecnologia digital. Ele lembrou que, neste mundo onde milhões de pessoas "clamam sua solidão, seu sofrimento, sua necessidade de sentido, não mais em voz alta, mas no silêncio ensurdecedor das redes sociais, fóruns e chats", chegou a hora de parar e refletir. "Parar para amar, parar para olhar, ouvir, tocar, curar. É exatamente isso que São João de Deus representou nas ruas de Granada e que faz parte da nossa Ordem há quase quinhentos anos. Nossa missão", acrescentou, "não é resistir à era digital mas transfigurá-la, transformá-la, habitá-la com nosso carisma. Para nós, irmãos e colaboradores, trata-se de estar neste novo caminho, de fertilizar a terra árida do esquecimento e do isolamento com a hospitalidade evangélica. Para cumprir esta missão, devemos lembrar de onde viemos e quem somos. É enraizando-nos na rocha da nossa tradição que poderemos enfrentar o vento da mudança”.

A partir disso, o Ir. Ahodegno relembrou que “a espiritualidade hospitaleira na era da inteligência artificial e da tecnologia digital não é uma herança a ser preservada, mas uma semente a ser plantada no novo mundo. Ela está mais viva e necessária do que nunca.”

Os trabalhos da USG continuaram na parte da tarde, com o P. Carlo Casalone SJ, que fez uma apresentação sobre “Inteligência Artificial e Mídias Sociais: Impactos Antropológicos e Espirituais na Oração”.

Hoje, último dia, será realizado um encontro sobre “Abuso Espiritual”, com a participação da Ir. Tiziana Merletti, Secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Em seguida, haverá uma apresentação do Dr. Tomás Insua, Diretor do Instituto «Laudato Si’», sobre o significado de celebrar o “Mistério da Criação em Cristo”.

Fonte: Vatican News, SIR

Mais Recentes

Colégio Salesiano São Gonçalo inicia 2º ciclo do Projeto Escola [h(i²)a²q] com foco na construção dos planos de ação para 2026

Nos dias 27 e 28 de novembro, o Colégio Salesiano São Gonçalo, em Cuiabá/MT, deu mais um passo significativo em seu processo de fortalecimento institucional ao iniciar o 2º ciclo do Projeto Escola [h(i²)a²q]. A iniciativa, que integra o movimento estratégico proposto pela Rede Salesiana Brasil, tem como propósito aprofundar o diagnóstico da escola e orientar de forma qualificada o planejamento pedagógico, pastoral e administrativo para o próximo ano. Durante os dois dias de atividades, gestores, coordenadores, representantes da Pastoral Escolar e lideranças das diferentes áreas reuniram-se para construir coletivamente os planos de ação que irão nortear as iniciativas de 2026. O trabalho foi orientado pelos Parâmetros Institucionais da Rede Salesiana Brasil, garantindo coerência entre a prática escolar e o projeto educativo da RSB. O encontro marcou uma etapa decisiva do processo formativo e organizacional da obra, reafirmando o compromisso do colégio com uma gestão baseada em evidências, processos claros, melhoria contínua e centralidade na experiência do estudante. Nesse ambiente de reflexão e diálogo, o grupo analisou indicadores, revisitou metas e projetou ações capazes de fortalecer ainda mais a missão educativa salesiana. A proposta colaborativa do Projeto Escola [h(i²)a²q] ficou evidente na construção dos planos, que envolveu escuta ativa, troca de experiências e planejamento integrado entre as equipes. Essa dinâmica expressa o espírito salesiano de educar com o coração, unindo competência técnica, espiritualidade e cuidado com cada pessoa da comunidade educativa. Com esse avanço, o Colégio Salesiano São Gonçalo dá passos firmes rumo a um 2026 mais estruturado, eficiente e alinhado aos valores e objetivos da Rede Salesiana Brasil, reforçando seu compromisso com uma educação que transforma, acolhe e inspira novos caminhos para crianças e jovens.   Comunicação da Rede Salesiana Brasil

Conclusões da COP30 para os Educadores Salesianos

Na COP130 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - a Família Salesiana foi representada pelo P. Mathew Thomas, de New Rochelle-NY; pelo P. Silvio Torres, da Argentina; e por Camila de Paula, do Brasil. No final do encontro, o P. Mathew compartilhou cinco reflexões essenciais para os educadores salesianos - cuja missão é acompanhar e formar as novas gerações. 1. A mudança climática é uma preocupação dos jovensA crise climática não é apenas uma questão científica ou política: ela afeta diretamente a vida e o futuro dos Jovens. Professores, catequistas e animadores juvenis têm um papel decisivo na forma como os jovens compreendem as causas e consequências das mudanças climáticas e percebem o impacto de seus hábitos e escolhas. Os educadores ajudam a despertar esperança, responsabilidade e atitudes concretas. 2. Conectar a Fé ao cuidado pela CriaçãoO cuidado com a terra tem raízes profundas na Fé Cristã. A Criação é um dom de Deus, entregue à Humanidade como guardiã. Preces simples, reflexões bíblicas e gestos de gratidão pela natureza podem ajudar os jovens a integrar Fé e ciência. A ecoespiritualidade oferece, ao empenho pelo ecológico, um fundamento sólido. 3. Manter a justiça no centroOs efeitos das mudanças climáticas atingem com mais força os grupos mais vulneráveis: comunidades indígenas, famílias de baixa renda, populações que vivem próximas a florestas, rios e zonas costeiras. Suas vozes e vivências devem estar presentes nas salas de aula e nos grupos juvenis. Estimular os jovens a perguntar “Quem ganha com isso?” e “Quem fica de fora?” contribui para formar um senso de justiça, enraizado no amor salesiano preferencial pelos pobres. 4. Transformar nossos ambientes educativos em modelos de vida ecológicaEscolas e Centros salesianos podem tornar-se exemplos concretos de cuidado pela Casa Comum. Práticas simples e consistentes - economia de água e energia, redução de resíduos, eliminação do plástico descartável, uso de meios de transporte sustentáveis, plantio de árvores nativas... - educam pelo exemplo. Mais que isso: os jovens devem ser protagonistas dessas iniciativas. 5. Envolver a comunidade mais ampla O tema da educação climática precisa ganhar outros espaços, além das escolas e oratórios. É preciso envolver famílias e comunidades locais por meio de oficinas práticas – sobre resfriamento de casas, redução de contas de energia ou cuidados com árvores – torna a ação climática mais acessível. A colaboração com cientistas, profissionais da saúde, lideranças indígenas e especialistas regionais... reforça o senso de corresponsabilidade. Uma das mensagens centrais da COP30 foi que a educação segue sendo essencial para uma ação climática eficaz. Ela fornece às sociedades os meios para compreender o fenômeno, fazer escolhas informadas e participar ativamente das soluções. Para os educadores salesianos, isso significa ajudar os jovens a acreditar que cada gesto conta! Cada decisão — aquilo que compram, dizem, estudam ou defendem — é uma semente plantada para o futuro do Planeta. A COP30 reafirmou, assim, que a educação é um dos caminhos mais poderosos para uma transformação ecológica conduzida pela Juventude. Agência Info Salesiana

Nova Diretoria da RSB é eleita para o triênio 2025–2028

Dentro da programação da 40ª Assembleia Geral, foi realizada também a eleição da nova Diretoria Nacional da Rede Salesiana Brasil, que atuará de novembro de 2025 a novembro de 2028. O processo ocorreu em conjunto com as Assembleias Gerais da CIB e CISBRASIL, reunindo representantes das inspetorias FMA e SDB para o discernimento e escolha dos novos responsáveis pela animação e coordenação da missão salesiana no país. Após as manifestações dos membros de direito e o diálogo entre os presentes, foi eleito como Diretor-Presidente o Pe. Ricardo Carlos, SDB, inspetor da Inspetoria São João Bosco. Sua eleição simboliza a continuidade de um caminho de unidade e fortalecimento da missão educativa e evangelizadora realizada pelas obras da Rede Salesiana no Brasil. A composição da nova Diretoria Nacional ficou assim definida: Pe. Ricardo Carlos, SDB – Diretor-Presidente Ir. Alaíde Deretti, FMA – Vice-Diretora-Presidente Pe. Francisco Inácio Vieira Júnior, SDB – Diretor-Secretário Ir. Maria Américo Rolim, FMA – Diretora-Tesoureira Continuam, ainda, na Direção-Executiva da Rede Salesiana Brasil a Ir. Silvia Aparecida da Silva e Pe. Sergio Augusto Baldin. A nova equipe assume a missão de conduzir a RSB com visão de futuro, fidelidade criativa ao carisma salesiano e atenção às urgências das juventudes brasileiras, especialmente as mais vulneráveis. O processo reforça o espírito de sinodalidade e corresponsabilidade que marca a atuação da Rede no país.   Comunicação da Rede Salesiana Brasil

Receba as novidades no seu e-mail

O futuro que você merece
O futuro que você merece

Siga a RSB nas redes sociais:

2025 © Rede Salesiana Brasil