Comunicação em tempo de urgência ecológica: 14º Muticom em Manaus propõe caminhos para transformação
26/09/2025

Comunicação em tempo de urgência ecológica: 14º Muticom em Manaus propõe caminhos para transformação

Comunicação em tempo de urgência ecológica: 14º Muticom em Manaus propõe caminhos para transformação
Foto: Equipe Multicom

Coletiva de imprensa apresentou os principais destaques do evento, que começa nesta quinta (25) e reúne cerca de 400 participantes no Centro de Convenções Vasco Vasques

Na manhã desta quinta-feira (25), os organizadores do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), participaram de uma coletiva de imprensa no próprio palco principal do evento, apresentando a programação e os objetivos da iniciativa. Estiveram presentes: Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, Dom Edilson Soares Nobre, membro da mesma Comissão, Pe. Geraldo Bendaham, da coordenação de pastoral da Arquidiocese de Manaus e também da equipe organizadora do Muticom e Osnilda Lima, assessora da Comissão para a Comunicação da CNBB. A mediação da coletiva foi conduzida pelo Padre Tiago Sibula, também assessor da comissão na CNBB.

Manaus se torna, a partir desta quinta-feira (25), a capital da comunicação católica no Brasil. A cidade recebe o evento nacional promovido pela Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, em parceria com a Arquidiocese de Manaus, que este ano traz o tema: “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”.

Reunindo aproximadamente 400 comunicadores e comunicadoras de todas as regiões do país, além de mais de 200 voluntários e voluntárias, o Muticom será realizado até o dia 28 de setembro, no Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques. A proposta é oferecer um espaço de formação, partilha e inspiração para agentes da comunicação, religiosos e religiosas, leigos, pesquisadores e profissionais da comunicação, refletirem seu papel diante dos desafios sociais e ambientais contemporâneos.

 

Comunicação que transforma

Durante a abertura da coletiva, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, expressou gratidão pelo acolhimento e o  esforço coletivo das comunidades que tornou o evento possível. “Agradecemos a escolha da Arquidiocese para sediar este 14º Mutirão da Comunicação”, afirmou, reconhecendo o empenho de diferentes setores da sociedade local. Ele mencionou com carinho a disponibilidade de tantas famílias que acolheram os participantes em hospedagem solidária, bem como o apoio do Governo do Estado do Amazonas, da prefeitura de Manaus e da Rede Amazônica. “Queremos que este Muticom seja realmente um momento de buscar um cuidado cada vez maior com a nossa Casa Comum”, sublinhou Steiner.

O presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, uma das organizadoras do evento, dom Valdir José de Castro, expressou  reconhecimento  e o apoio da Arquidiocese de Manaus e pelo esforço coletivo que viabilizou o evento. “Não aconteceria o 14º Muticom se não fosse o apoio da Arquidiocese de Manaus”, afirmou, dirigindo-se ao cardeal Leonardo Steiner com gratidão. Ao destacar o eixo temático do evento, Dom Valdir pontuou: “Que este evento possa se realizar dentro, é claro, da perspectiva da Campanha da Fraternidade 2025, que é justamente fraternidade e ecologia integral. Aqui, nós estamos tratando de como trabalhar a comunicação dentro dessas questões ambientais, na proteção da Casa Comum”, disse.

Para dom Edilson Soares  relacionou a escolha do tema à coerência com os apelos da igreja, citando o décimo aniversário da encíclica LaudatoSi` como um marco para o conceito de ecologia integral. O bispo destacou a urgência da reflexão.   “Tínhamos em mente a Laudato Si’, que este ano faz dez anos que o Papa Francisco havia publicado”, explicou. Para ele, a encíclica é um marco fundamental na construção do conceito de ecologia integral. O bispo lembrou que a reflexão foi ampliada pela publicação da Laudate Deum, além da própria Campanha da Fraternidade de 2024, que abordou o mesmo tema. “Tudo isso para que nós tivéssemos a oportunidade de parar para entender melhor, afinal de contas, o que é que nós estamos querendo falar quando se diz ecologia integral”, indagou Soares. Segundo dom Edilson, pensar comunicação à luz da ecologia integral “é algo muito importante porque diz respeito à nossa sobrevivência, ao nosso presente e ao nosso futuro, ao nosso modo de ser e ao nosso modo de agir, ao nosso comportamento”.

Ao abordar a responsabilidade do ser humano na crise ecológica, Dom Edilson foi enfático: “Quem ameaça a sociedade é o ser humano, o seu mau comportamento, por não saber cuidar da Casa Comum, como se fosse algo que não tivesse a ver com a nossa própria vida”. Em sua fala, também convocou os comunicadores a assumirem suas responsabilidades diante da crise climática: “Se você não tiver a sua responsabilidade, todos pagam e você também paga as consequências; os seus filhos pagarão as consequências, os seus netos pagarão as consequências”, finalizou.

 

Mutirão é fruto de processo contínuo e coletivo

Responsável pela coordenação do Muticom na Arquidiocese de Manaus, Padre Geraldo Bendaham ressaltou o cuidado com cada detalhe do evento, desde a estrutura física até a profundidade da proposta temática. “Trabalhamos para que cada pessoa possa encontrar um ambiente acolhedor e toda a estrutura que é colocada à disposição, desde as sessões desse espaço público do Estado até as cadeiras, tudo que será colocado aqui pra que ajude todos a refletir e aprofundar cada vez mais essa temática da ecologia integral”, ponderou o padre.  

“Não só por causa da gravidade da crise ecológica que a gente está vivendo, mas justamente pra gente tentar propor uma mentalidade de mudança, de transformação, que tem que ocorrer a partir da vida, da intervenção, a partir do qual a ação que as nossas práticas possam mudar e a gente estabelecer todo o relacionamento com a natureza e com o direito às pessoas”, completou Bendaham.  

A assessora Osnilda Lima destacou que o Muticom 2025 é fruto de um processo que começou muito antes de sua realização presencial em Manaus. “Desde 2023, ou seja, este Mutirão Brasileiro de Comunicação não está acontecendo agora neste evento, mas ele é fruto de processo desde 2023”, afirmou Osnilda. Segundo ela, o mutirão é uma construção contínua e seguirá gerando frutos mesmo após o encerramento, com a previsão de publicação de um e-book que reunirá os debates, propostas e reflexões realizadas ao longo dos dias.

Ao tratar da espiritualidade que inspira o evento, Osnilda afirmou: “A paz esteja com vocês. E aí eu entendo que a paz não conseguirá nunca ser plena se as comunidades indígenas são impactadas, se as comunidades ribeirinhas são impactadas, se as comunidades tradicionais são impactadas pelo modelo exploratório que nós vivemos. Não é possível ter paz”, denunciou Lima. Ela destacou a importância da presença de comunicadores e comunicadoras desses territórios será essencial para a partilha de saberes e fortalecimento das lutas populares: “Eles estarão presentes para partilhar conosco e também nos ensinar nessa perspectiva de como fazer uma comunicação para defender o território”. Por fim, reforçou que os Rios Temáticos, uma das metodologias do evento, foram pensados como espaços de “partilha profunda e escuta profunda”, que garantam a “circularidade da palavra, da circularidade do ensinar e do aprender”, finalizou.

 

Modelo econômico que ameaça a ecologia integral e as relações humanas

Com um tom profético, o Cardeal Leonardo Steiner encerrou a coletiva apontando para a urgência de uma transformação nas estruturas que sustentam a atual crise ambiental e social. Ele questionou o sistema dominante, alertando que por trás da destruição da Casa Comum está um modelo que “poderíamos chamar de sistema do mercado, sistema econômico, que está destruindo o meio ambiente”, denunciou. Para ele, se o Muticom conseguir despertar consciências sobre essa lógica destrutiva, poderá oferecer uma grande contribuição. “Se quisermos uma ecologia integral, quisermos uma casa comum, não pode ser no horizonte do mercado, mas no horizonte da fraternidade”, enfatizou Steiner.

Dom Valdir Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB; Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e Dom Edilson Soares Nobre, membro da Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB.

O Cardeal destacou que a Igreja tem outro horizonte: “o horizonte da fraternidade, o horizonte das relações harmônicas, que é a relação do meio de Deus”, disse o dom. “A obra criada tem uma fundamentação teológica para nós que somos Igreja. Mas nós queremos atingir as pessoas que não têm essa compreensão teológica”, concluiu o bispo.

O 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) começa nesta quinta-feira, 25 de setembro, e segue até o domingo, 28 de setembro, no Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques, em Manaus (AM). Com o tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”, o evento reúne centenas de comunicadores, agentes de pastoral, pesquisadores e lideranças de todo o Brasil. A programação inclui painéis temáticos, celebrações, atividades culturais, partilhas em Rios Temáticos e uma imersão prática em comunidades locais. Mais informações estão disponíveis no site oficial: www.muticom.com.br.

Por: Henrique Cavalheiro do site da Multicom

Mais Recentes

Delegação do Dom Bosco Green participa do “Simpósio Internacional - Igreja Católica na COP30”, em Belém

A Igreja Católica promoveu, na tarde do dia 12 de novembro, o “Simpósio Internacional – Igreja Católica na COP30”, que reuniu aproximadamente 500 lideranças de diferentes regiões do Brasil e do mundo, com o objetivo de refletir e dialogar sobre os caminhos da ecologia integral, a justiça climática e a conversão ecológica. O evento foi realizado durante a Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas (COP30), sediada na Amazônia brasileira. Ele integrou o itinerário de reflexões promovido pela Igreja Católica, chamado Pré-COP, que percorreu as cinco macrorregiões do Brasil, onde diferentes interlocutores refletiram e dialogaram sobre o compromisso com a justiça climática e a ecologia integral. O simpósio teve início com a bênção de Nossa Senhora de Nazaré, conduzida pelo arcebispo de Belém (PA), Dom Júlio Akamine, que também foi o primeiro a saudar os participantes, atuando como anfitrião do encontro na mesa de abertura. A mesa contou com a participação de Dom Giambattista Diquattro (Núncio Apostólico no Brasil), Dom Jaime Spengler (presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), Cardeal Filipe Neri (presidente das Conferências Episcopais da Ásia), Cardeal Fridolin Ambongo (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar – SECAM), Cardeal Ryan Rimenes (presidente da Conferência Episcopal do Pacífico) e Cardeal Ladislav Nemet (vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa – CCEE).Durante a mesa, os participantes refletiram sobre temas como “Transição energética e cuidado dos pobres”, “O ser humano no centro de uma nova economia”, “Ilhas submersas no Pacífico” e “Igreja na Europa e a conversão ecológica”. Na sequência da abertura, foi realizado o painel “Diálogos pela Ecologia Integral”, mediado por Dom Vicente de Paula Ferreira, presidente da Comissão Especial para a Mineração e a Ecologia Integral. Participaram da mesa: Marinez Rosa dos Santos Bassotto, bispa da Igreja Anglicana do Brasil, que abordou o tema “Ecoespiritualidade e missão profética da Igreja na Amazônia”; Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus (AM), que aprofundou o tema “Caminhos da Ecologia Integral para a Conversão Ecológica”; Kleber Karipuna, representante da APIB, que falou sobre “A presença dos povos originários da Amazônia brasileira com suas lutas e perspectivas”; e a professora e ecóloga Ima Vieira, que apresentou um diagnóstico científico sobre as mudanças climáticas, com evidências e soluções práticas. Representando a Inspetoria São João Bosco (ISJB) na delegação da Dom Bosco Green na COP 30 , Camila de Paula destacou a importância do simpósio e dos demais momentos de diálogo que vêm acontecendo durante a COP30.Segundo ela, “nesses dias estamos sendo convidados a ampliar nossa percepção sobre a crise climática, especialmente em relação aos efeitos provocados pela forma como habitamos o planeta Terra e nos relacionamos com toda a criação”. Após esse momento de reflexão e diálogo, os participantes realizaram uma procissão em memória dos mártires que lutaram pela defesa dos povos originários e da vida no bioma amazônico, em direção à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. O evento foi concluído com a Celebração Eucarística presidida pelo Cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB e do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM). Em sua homilia, Dom Jaime convidou à conversão interior, diante da crescente crise ambiental e humana que afeta o planeta.   Assessoria de Imprensa da Inspetoria São João Bosco   ‍

2º Encontro On-line de Boas Práticas Comunicacionais e Produção Cultural destaca a força da comunicação salesiana em rede

Na manhã desta quarta-feira, 12 de novembro, a Rede Salesiana Brasil promoveu o 2º Encontro On-line de Boas Práticas Comunicacionais e Produção Cultural, reunindo comunicadores, educadores e colaboradores de diversas presenças salesianas do país. O encontro, foi marcado pelo espírito de comunhão, partilha de experiências e fortalecimento da missão comunicacional que sustenta a presença salesiana no ambiente digital e cultural. A abertura foi conduzida pela Ir. Kelly Gaioso, Coordenadora de Comunicação da Inspetoria Maria Auxiliadora, que animou o grupo com uma acolhida fraterna e lembrou que comunicar, no carisma salesiano, é sempre um gesto de proximidade, esperança e serviço educativo. A comunicação, em suas palavras, continua sendo “um lugar de missão”. Podcasts que evangelizam e conectam O encontro apresentou iniciativas inspiradoras que mostram a criatividade e a atualidade da comunicação salesiana. O Pe. Antônio João do Nascimento Neto, SDB, da Inspetoria Salesiana do Nordeste, compartilhou o processo de criação, produção e objetivo pastoral do podcast “Vamos Juntos”, que busca dialogar com jovens e educadores a partir de temas formativos e espirituais. Clique e acesse aqui o link do podcast "Vamos Juntos".   Na sequência, representantes das rádios parceiras apresentaram o podcast “Minuto Salesiano em Rede”, um projeto colaborativo que integra diversas emissoras ligadas ao carisma: Marcos Mariano, Coordenador das Rádios Parceiras - Rádio AMA Wilson Firmo, Diretor da Rádio Amanhecer Online - Rádio AMA Jamil Feitosa, Coordenador de RH - FM Dom Bosco de Fortaleza/CE Francisco Mário, Gerente – FM Padre Cícero (Juazeiro/CE) Thais Cândido, Jornalista – FM Padre Cícero (Juazeiro/CE) Angélica Novais, Analista de Comunicação - Escritório da RSB O grupo apresentou os bastidores da produção, a metodologia de trabalho em rede e os impactos positivos da iniciativa, que já se tornou um espaço de formação e informação salesiana no ambiente radiofônico. Acesse aqui o "Minuto Salesiano em Rede".   A Inspetoria São João Bosco trouxe ao encontro a experiência do Estúdio da Pastoral Juvenil Salesiana (PJS) e do “Boa Noite Podcast”, mostrando como os jovens e as equipes de comunicação estão protagonizando novos formatos de evangelização. Albanusa Costa, Analista de Comunicação da PJS contextualizou a origem da iniciativa de criar um estúdio de gravação da PJS, bem como o objetivo do “Boa Noite Podcast” e o processo de definição de pautas. A proposta demonstra como o ambiente digital pode ser um verdadeiro “pátio”, onde a linguagem, o estilo e a presença comunicativa se moldam ao universo juvenil, sem perder a profundidade da espiritualidade salesiana. Acesse aqui o “Boa Noite Podcast”. Caminho de rede, avaliação e próximos passos Ao longo do encontro, os participantes registram feedback e sugestões, reforçando o compromisso com a construção colaborativa e transparente das ações comunicacionais da RSB. A diversidade das experiências apresentadas confirma que a comunicação salesiana permanece viva, dinâmica e missionária, um espaço de evangelização, cultura, diálogo e criatividade, fiel ao espírito de Dom Bosco e de Madre Mazzarello.   Comunicação da Rede Salesiana Brasil

MENSAGEM DO SANTO PADRE LEÃO XIV PARA O IX DIA MUNDIAL DOS POBRES

MENSAGEM DO SANTO PADRE LEÃO XIVPARA O IX DIA MUNDIAL DOS POBRES XXXIII Domingo do Tempo Comum16 de novembro de 2025 ___________________________   Tu és a minha esperança (cf. Sl 71,5) 1. «Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus» (Sl 71,5). Essas palavras emanam de um coração oprimido por graves dificuldades: «Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais» (v. 20), diz o Salmista. Apesar disso, o seu espírito está aberto e confiante, porque firme na fé reconhece o amparo de Deus e o professa: «És o meu rochedo e a minha fortaleza» (v. 3). Daí deriva a confiança inabalável de que a esperança n’Ele não decepciona: «Em ti, Senhor, me refugio, jamais serei confundido» (v. 1). No meio das provações da vida, a esperança é animada pela firme e encorajadora certeza do amor de Deus, derramado nos corações pelo Espírito Santo. Por isso, ela não decepciona (cf. Rm 5, 5) e São Paulo pode escrever a Timóteo: «Pois se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo» (1 Tm 4, 10). O Deus vivo é, verdadeiramente, o «Deus da esperança» (Rm 15, 13), que em Cristo, pela sua morte e ressurreição, se tornou a «nossa esperança» (1 Tm 1, 1). Não podemos esquecer que fomos salvos nesta esperança, na qual precisamos permanecer enraizados. 2. O pobre pode tornar-se testemunha de uma esperança forte e confiável, precisamente porque professada numa condição de vida precária, feita de privações, fragilidade e marginalização. Ele não conta com as seguranças do poder e do ter; pelo contrário, sofre-as e, muitas vezes, é vítima delas. A sua esperança só pode repousar noutro lugar. Reconhecendo que Deus é a nossa primeira e única esperança, também nós fazemos a passagem entre as esperanças que passam e a esperança que permanece. As riquezas são relativizadas perante o desejo de ter Deus como companheiro de caminho porque se descobre o verdadeiro tesouro de que realmente precisamos. Ressoam claras e fortes as palavras com que o Senhor Jesus exortou os seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam» (Mt 6, 19-20). 3. A pobreza mais grave é não conhecer a Deus. Recordou-nos isso o Papa Francisco quando escreveu na Evangelii gaudium: «A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé» (n. 200). Há aqui uma consciência fundamental e totalmente original sobre como encontrar em Deus o próprio tesouro. Realmente, insiste o apóstolo João: «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1 Jo 4, 20). É uma regra da fé e um segredo da esperança: embora importantes, todos os bens desta terra, as realidades materiais, os prazeres do mundo ou o bem-estar económico não são suficientes para fazer o coração feliz. Frequentemente, as riquezas iludem e conduzem a situações dramáticas de pobreza, sendo a primeira dessas ilusões pensar que não precisamos de Deus e conduzir a nossa vida independentemente d’Ele. Vêm-me à mente as palavras de Santo Agostinho: «Seja Deus todo motivo de presumires. Sente necessidade d’Ele para que Ele te cumule. Tudo o que possuíres fora d’Ele é imensamente vazio» (Enarr. in Ps. 85,3). 4. A esperança cristã, à qual a Palavra de Deus remete, é certeza no caminho da vida, porque não depende da força humana, mas da promessa de Deus, que é sempre fiel. Por isso, desde os primórdios, os cristãos quiseram identificar a esperança com o símbolo da âncora, que oferece estabilidade e segurança. A esperança cristã é como uma âncora, que fixa o nosso coração na promessa do Senhor Jesus, que nos salvou com a sua morte e ressurreição e que retornará novamente no meio de nós. Esta esperança continua a indicar como verdadeiro horizonte da vida os «novos céus» e a «nova terra» (2 Pe 3, 13), onde a existência de todas as criaturas encontrará o seu sentido autêntico, visto que a nossa verdadeira pátria está nos céus (cf. Fl 3, 20). Consequentemente, a cidade de Deus compromete-nos com as cidades dos homens, que, desde agora, devem começar a assemelhar-se àquela. A esperança, sustentada pelo amor de Deus derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5, 5), transforma o coração humano em terra fértil, onde pode germinar a caridade para a vida do mundo. A Tradição da Igreja reafirma constantemente esta circularidade entre as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes. E precisamos de caridade hoje, agora. Não é uma promessa, mas uma realidade para a qual olhamos com alegria e responsabilidade: envolve-nos, orientando as nossas decisões para o bem comum. Em vez disso, quem carece de caridade não só carece de fé e esperança, mas tira a esperança ao seu próximo. 5. O convite bíblico à esperança traz consigo o dever de assumir, sem demora, responsabilidades coerentes na história. Com efeito, a caridade é «o maior mandamento social» (Catecismo da Igreja Católica, 1889). A pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas. À medida que isso acontece, todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, como fizeram, em todas as épocas, muitos santos e santas. Os hospitais e as escolas, por exemplo, são instituições criadas para expressar o acolhimento aos mais fracos e marginalizados. Eles deveriam fazer parte das políticas públicas de todos os países, mas as guerras e as desigualdades frequentemente ainda o impedem. Hoje, cada vez mais, as casas-família, as comunidades para menores, os centros de acolhimento e escuta, as refeições para os pobres, os dormitórios e as escolas populares tornam-se sinais de esperança: são tantos sinais, muitas vezes ocultos, aos quais talvez não prestemos atenção, mas que são muito importantes para se desvencilhar da indiferença e provocar o empenho nas diversas formas de voluntariado! Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos a tocar com as mãos a verdade do Evangelho. Por isso, o Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia. Através das suas vozes, das suas histórias, dos seus rostos, Deus assumiu a sua pobreza para nos tornar ricos. Todas as formas de pobreza, sem excluir nenhuma, são um apelo a viver concretamente o Evangelho e a oferecer sinais eficazes de esperança. 6. Este é o convite que emerge da celebração do Jubileu. Não é por acaso que o Dia Mundial dos Pobres seja celebrado no final deste ano de graça. Quando a Porta Santa for fechada, deveremos conservar e transmitir os dons divinos que foram derramados nas nossas mãos ao longo de um ano inteiro de oração, conversão e testemunho. Os pobres não são objetos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho hoje. Diante da sucessão de novas ondas de empobrecimento, corre-se o risco de se habituar e resignar-se. Todos os dias, encontramos pessoas pobres ou empobrecidas e, às vezes, pode acontecer que sejamos nós mesmos a possuir menos, a perder o que antes nos parecia seguro: uma casa, comida suficiente para o dia, acesso a cuidados de saúde, um bom nível de educação e informação, liberdade religiosa e de expressão. Promovendo o bem comum, a nossa responsabilidade social tem o seu fundamento no gesto criador de Deus, que dá a todos os bens da terra: assim como estes, também os frutos do trabalho do homem devem ser igualmente acessíveis. Com efeito, ajudar os pobres é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade. Como observa Santo Agostinho: «Damos pão a quem tem fome, mas seria muito melhor que ninguém passasse fome e não precisássemos ser generosos para com ninguém. Damos roupas a quem está nu, mas Deus queira que todos estejam vestidos e que ninguém passe necessidades sobre isto» (Comentário à 1 Jo, VIII, 5). Desejo, portanto, que este Ano Jubilar possa incentivar o desenvolvimento de políticas de combate às antigas e novas formas de pobreza, além de novas iniciativas de apoio e ajuda aos mais pobres entre os pobres. Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas. Congratulo-me com as iniciativas já existentes e com o empenho que é manifestado diariamente a nível internacional por um grande número de homens e mulheres de boa vontade. Confiemos em Maria Santíssima, Consoladora dos aflitos, e com Ela entoemos um canto de esperança, fazendo nossas as palavras do Te Deum: «In Te, Domine, speravi, non confundar in aeternum – Em Vós espero, Meu Deus, não serei confundido eternamente». Vaticano, 13 de junho de 2025, memória de Santo António de Lisboa, Patrono dos pobres LEÃO PP. XIV Acesse a imagem original aqui Copyright © Dicastério para a Comunicação - Libreria Editrice Vaticana

Receba as novidades no seu e-mail

Somos Rede
O futuro que você merece

Siga a RSB nas redes sociais:

2025 © Rede Salesiana Brasil