28/06/2024

“Do sonho à realidade: rumo a uma presença plena”

“Do sonho à realidade: rumo a uma presença plena”
Foto: Divulgação

Nos dias 26 e 27 de junho, em formato totalmente on-line pela plataforma Zoom, a Rede Salesiana Brasil (RSB) promoveu o II Encontro Nacional de Comunicação (ENAC). Este ano, o evento trouxe o tema “Do sonho à realidade: rumo a uma presença plena” e alcançou mais de 400 inscritos, entre Comunicadores, Gestores e Educadores de todas as presenças da RSB.

Com o objetivo de potencializar os espaços de formação, interação, debates, partilhas e construção colaborativa de propostas que contribuam para a inovação nos processos (edu)comunicacionais da ação educativa em Rede, o II ENAC contou com a colaboração do Comitê de Coordenadores Inspetoriais de Comunicação da RSB na organização e realização, além do apoio do Centro Salesiano de Formação (CSF).

Na manhã do primeiro dia, contou com a Coordenadora Inspetorial de Comunicação da Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, Ir. Luzinete Freitas, animou e conduziu a Oração Inicial. Logo em seguida, os Inspetores Referentes da Comunicação, Ir. Maria Carmelita de Lima Conceição e Pe. Francisco Inácio Vieira Júnior, deram as boas-vindas aos participantes, abrindo oficialmente o II ENAC e trazendo uma rica reflexão sobre o Sonho dos 9 anos de Dom Bosco que também norteia o tema principal do evento.

“Falar de sonho é sempre muito bom, alimenta a nossa esperança, o otimismo. Esse sonho de Dom Bosco é mais lindo ainda porque nos fala da experiência da sua vida [...]. “Um Sonho que faz sonhar” foi o tema da Estreia deste ano, sonhar um mundo melhor, mais fraterno e solidário”, disse Ir. Carmelita. “O tema do sonho nos instiga muito, a todos nós que procuramos fazer na nossa vida do sonho de Dom Bosco também o nosso sonho. Uma das frases que Dom Bosco escuta de Nossa Senhora no sonho [...] é: ‘Eis o teu campo’. Sem dúvida o campo da ação, toda essa frente de missão que é a Comunicação, é um novo campo para a missão salesiana. Na verdade, o foi desde o início, desde de Dom Bosco, e é preciso dar cada vez mais identidade salesiana à nossa Comunicação”, concluiu Pe. Francisco Inácio.

Dando continuidade às primeiras ações da manhã, a Coordenadora Nacional da Comunicação da RSB, Ir. Maike Loes, protagonizou a contextualização do encontro, retomando a dinâmica e o tema do I ENAC, ocorrido em maio de 2023. “Naquela ocasião, lembro que nós definimos o I ENAC como um encontro inédito porque [...] foi uma proposta formativa oferecida para todas as equipes com quem compartilhamos o carisma salesiano, a missão no dia a dia. Não foi um encontro exclusivo para comunicadores, assim como hoje”, disse Ir. Maike.

A primeira palestra do dia trouxe o tema “O sonho dos 9 anos de Dom Bosco: entre carisma, comunicação e missão”, proferida pelo Decano e Professor da Faculdade de Ciências da Comunicação Social da Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), de Roma (Itália), Pe. Fabio Pasqualetti.

Em sua palestra, Pe. Fabio se deteve nos motivos que levaram Dom Bosco a redigir, em forma de testamento, o Sonho dos 9 anos e nos estudos posteriores, realizados justamente para entender os ensinamentos que estão por trás da grande narrativa do sonho.

Com o Sonho dos 9 anos, ficam evidentes o campo de ação de Dom Bosco, o objetivo da sua ação apostólica e o método educativo: o Sistema Preventivo. Por meio de um percurso histórico, Pe. Fabio mostrou que “tudo mudou” na sociedade, mas o sonho de Dom Bosco e o Oratório continuam sendo atuais e sendo resposta na educação das novas gerações.

Vale destacar que, para as participações internacionais do evento, o ENAC 2024 contou com traduções simultâneas de italiano e espanhol.

Após o intervalo, os Coordenadores Inspetorias de Comunicação das Inspetorias Santo Afonso Maria de Ligório e Madre Mazzarello, respectivamente Euclides Fernandes e Cícero Gabriel Albuquerque Soares, conduziram um momento de interação com os participantes do evento por meio do Painel Virtual, onde cada um podia compartilhar suas respostas às perguntas propostas, bem como registrar sua participação com fotos e mensagens.

Na segunda palestra do dia, as Coordenadoras Nacionais das áreas programáticas da RSB, Ir. Lucia Jacinta Finassi, Carolina Neves de Oliveira e Ir. Maike Loes, deram sua contribuição sobre o tema “A concretização do sonho dos 9 anos nas presenças da Rede Salesiana Brasil”, segundo a perspectiva da Escola, da Obra Social e da Comunicação, além de oferecer um panorama das ações de cada área.

O momento de ressonâncias e perguntas do primeiro dia também foi conduzido pelos Coordenadores Inspetorias de Comunicação, Euclides Fernandes e Cícero Albuquerque.

O encerramento dos trabalhos foi coordenado por Ir. Maike Loes que compartilhou o primeiro ponto do “Manifesto às Juventudes”, documento elaborado no Encontro Nacional da RSB (Aparecida/SP 2023), recordando o compromisso de “habitar e resgatar a experiência do pátio em suas diversas manifestações, onde se encontram as juventudes, a exemplo das redes sociais...”. Fazendo memória deste compromisso, convidou os participantes para o segundo dia do ENAC destinado à reflexão sobre o tema “Habitar as redes sociais salesianamente”.

 

RUMO À PRESENÇA PLENA: ENCONTRAR OS JOVENS 

O segundo dia do Encontro Nacional da Comunicação teve início com a Oração protagonizada pelo Coordenador de Comunicação da Inspetoria São Domingos Sávio, Pe. Francisco Alves de Lima. A abertura oficial dos trabalhos foi comandada pelos Diretores Executivos da RSB, Ir. Silvia A. da Silva e Pe. Sérgio Augusto Baldin Júnior.

Em sua fala, Ir. Silvia retomou o primeiro compromisso do “Manifesto às Juventudes”, reforçando o comprometimento da missão salesiana em estar onde os jovens estão.

“Habitar as redes sociais também é um compromisso assumido por nós. Nós não podemos negar esse pátio, mas assim como para estarmos no pátio da escola, da obra social, da universidade, da paróquia, das periferias, precisamos estar preparados e preparadas, qualificados e qualificadas para estarmos nos pátios das redes sociais também”, comentou Ir. Silvia. “Hoje se torna fundamental para nós conhecermos os mecanismos de comunicação, os processos, as narrativas que são construídas a partir também de todo esse espaço do território virtual, lembrando que ele faz parte do cotidiano e não há uma distinção entre realidade e virtualidade nesse horizonte da comunicação social, da comunicação popular, mas é toda uma realidade própria de todo o conjunto da vida humana e de tudo aquilo que nós somos chamados a viver como comunidade, como sociedade e, particularmente hoje, como missão salesiana”, concluiu Pe. Sérgio.

A primeira palestra do segundo dia trouxe o tema “O continente digital, um jogo em que se ganha amigos com gentileza e caridade”, e foi ministrada pela Responsável de Comunicação da Congregação das Irmãs da Assunção (Espanha), Ir. Mercedes Méndez Siliuto.

Ir. Mercedes, em sua palestra, trouxe aspectos referentes ao Sistema Preventivo e ao estilo de educar e evangelizar de Dom Bosco. Ressaltou expressões do Sonho dos 9 anos e comentou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações (2024), associando-a ao tema da sabedoria do coração. Indicou também a beleza-bondade-verdade como critérios para ser presença de qualidade nas redes sociais e para que a educomunicação seja eficaz. Concluiu sua palestra com um convite: “Fundemos casas no continente digital, não presenças isoladas, mas um ‘nós salesiano’. Educadores e educandos, juntos, isso é realmente ser presença salesiana no continente digital”.

Após o intervalo, a segunda palestra, protagonizada pelo Secretário do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, Pe. Lucio Adrian Ruiz, trouxe o tema “O digital, de instrumento a cultura: um desafio para a Igreja. Uma visão a partir de ‘Uma presença plena’".

Pe. Lucio apresentou um percurso histórico da visão da Igreja a respeito dos meios de comunicação social, destacando que os mesmos não são meramente instrumentos, mas uma cultura a ser evangelizada. Destacou temas como a inculturação, a dinâmica missionária da Igreja, a presença da Igreja no continente digital.

Responsável pela redação do documento “Rumo à presença plena. Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, Pe. Lucio insistiu muito na necessidade de “passar da tecnologia ao querigma, ao primeiro anúncio, porque a tecnologia é atividade, enquanto que o querigma é a essência”, já que “a cultura digital é um espaço de evangelização e de missão”.

Logo em seguida, o integrante da Comissão Nacional da Pastoral Juvenil Salesiana, Pe. Raimundo Marcelo Maciel, trouxe algumas ressonâncias sobre os temas abordados a partir do olhar da Pastoral, destacando a sua experiência com o povo Yanomami e a chegada da Internet na missão indígena de Maturacá, distrito de S. Gabriel da Cachoeira (AM). O momento de ressonâncias e perguntas dos participantes aos palestrantes do dia contou com a participação dos Coordenadores Inspetorias de Comunicação das Inspetorias Maria Auxiliadora e São João Bosco, respectivamente Flávio Medeiros e Igor Gomes.

O intervalo do segundo dia foi diferenciado. Janaína Lima, Analista de Comunicação da RSB, trouxe muita animação ao ENAC, promovendo a interação dos participantes com sorteios diversos. Entre os brindes, foram sorteados kits de mochila com caderno, bloco de notas e caneta, além de 5 Funkos de Dom Bosco, item exclusivo e colecionável que energizou o momento do evento.

Na conclusão do II ENAC, além dos agradecimentos aos palestrantes, participantes e equipes, a Coordenadora Nacional de Comunicação da RSB, Ir. Maike, fez um breve paralelo entre o documento “Rumo à presença plena”, do Dicastério da Comunicação do Vaticano, e o “Manifesto às Juventudes”, da RSB. Ambos os documentos salientam que “os jovens pedem para ser encontrados onde estão, inclusive nas redes sociais”, e que é preciso “compreender os jovens a partir do lugar onde se encontram e querem ser encontrados”.

Os participantes do ENAC se despediram com um convite-desafio: “habitar as redes sociais salesianamente, passando do sonho à realidade sem deixar de sonhar: sonhar e trabalhar pelo presente e pelo futuro das crianças, adolescentes e jovens que diariamente atravessam os portões e as portas [...] de nossas presenças”, disse Ir. Maike.

A realização do II Encontro Nacional de Comunicação (ENAC) contou com o trabalho em rede das equipes salesianas do Brasil, o apoio e organização do Centro Salesiano de Formação (CSF), tendo a Coordenadora Executiva da RSB, Maria Dantas, à frente das ações, em conjunto com a Gestora de Eventos Formativos da RSB, Ana Paula Costa e Silva.

  

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59º dia mundial das comunicações sociais

Mensagem de sua santidade Papa Francisco para o LIX dia mundial das comunicações sociais Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16) Queridos irmãos e irmãs! Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo. Ao pensar no Jubileu que estamos a celebrar como um período de graça em tempos tão conturbados, com esta Mensagem gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho. Desarmar a comunicação Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública. Há ainda um outro fenómeno preocupante: poderíamos designá-lo como a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa percepção da realidade. Acontece, portanto, que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos «encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos» [1]. Não podemos render-nos a esta lógica. Na verdade, ter esperança não é de todo fácil. Georges Bernanos dizia que «só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. [...] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos» [2]. A esperança é uma virtude escondida, pertinaz e paciente. No entanto, para os cristãos, a esperança não é uma escolha, mas uma condição imprescindível. Como recordava Bento XVI na Encíclica Spe salvi, a esperança não é um otimismo passivo, antes pelo contrário, é uma virtude “performativa”, capaz de mudar a vida: «Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova» (n. 2). Dar com mansidão a razão da nossa esperança Na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16), encontramos uma síntese admirável na qual se relacionam a esperança com o testemunho e a comunicação cristã: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito». Gostaria de me deter em três mensagens que podemos extrair destas palavras. «No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor». A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado. A sua promessa de estar sempre connosco através do dom do Espírito Santo permite-nos esperar contra toda a esperança e ver, mesmo quando tudo parece perdido, as escondidas migalhas de bem. A segunda mensagem pede-nos para estarmos dispostos a dar razão da nossa esperança. É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança «a todo aquele que vo-la peça». Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim? Por fim, na expressão de São Pedro encontramos uma terceira mensagem: a resposta a este pedido deve ser dada “com mansidão e respeito”. A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos 2 companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras. Por isso, sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança. Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217). Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança. Martin Luther King disse: «Se eu puder ajudar alguém enquanto caminho, se eu puder alegrar alguém com uma palavra ou uma canção... então a minha vida não terá sido vivida em vão» [3]. Para isso, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos: o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu. Esperar juntos A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. E entrelaçadas com tudo isto estão a dimensão pessoal e a dimensão comunitária. É em conjunto que nos pomos a caminho, peregrinamos com tantos irmãos e irmãs, e, juntos, atravessamos a Porta Santa. O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem. O Jubileu recorda-nos que todos os que se tornam construtores da paz «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). E, deste modo, abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo. Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer. Ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado. Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos. Não esqueçais o coração Queridos irmãos e irmãs, perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior. O que é que isto significa? Deixo-vos algumas pistas. Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho. Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos. Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade. Daí espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida. Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo. Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro. Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo. Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2025 Francisco [1] “La pace come ricerca del volto”, in Omelie e scritti quaresimali, Molfetta 1994, 317. [2] Georges Bernanos, La liberté, pour quoi faire?, Paris 1995. [3] Sermão“ The Drum Major Instinct”, 4 de fevereiro de 1968. Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana

[SDB] A Congregação Salesiana saúda o Papa Leão XIV, Farol de Esperança para a Igreja

Com mui jubilosa e grata alegria, a Congregação Salesiana acolhe a eleição do Papa Leão XIV, Robert Francis Prevost, como 267º Sucessor de São Pedro. Da Varanda da Basílica do Príncipe dos Apóstolos, suas primeiras palavras - “A paz esteja convosco. Deus ama a todos!” - ressoaram nos corações dos Fiéis de todo o Mundo. Missionário por vocação, filho de Santo Agostinho e Ex-Prefeito do Dicastério para os Bispos, o Papa Leão XIV traz humildade, serenidade, proximidade pastoral ao seu novo ministério. Eleito por 133 cardeais de todos os Continentes, suas raízes abrangem a França, a Itália, a Espanha e as Américas. A escolha do nome Leão recorda Leão XIII, pioneiro da doutrina social da Igreja. Saudou o mundo em italiano, espanhol e latim, convidando todos à unidade, à oração, ao serviço. Em nome da Congregação Salesiana e de toda a Família Salesiana, o Reitor-Mor dirige sinceros votos ao Santo Padre no início de seu pontificado. Em sua Mensagem, o Reitor-Mor assegura ao novo Papa a nossa devoção e orações, pedindo ao Espírito Santo que o guie com sabedoria e força, para que seu Ministério seja um farol de esperança, unidade e paz tanto para a Igreja quanto para o Mundo. Seguindo o exemplo de Dom Bosco, reafirmamos que todo o empenho é pouco quando se trata da Igreja e do Papado, confiando o Papa Leão XIV a Maria SS. Auxiliadora. «Ad multos anos!», Santo Padre!  Acesse a carta nos links abaixo: A_Sua_SantitaY_LEONE_XIV.pdf  To_His_Holiness_LEO_XIV_ENG.pdf  Fonte: Agência Info Salesiana

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