O segundo evento na Basílica de Maria Auxiliadora, de Turim-Valdocco, sobre o ‘Sonho dos Nove Anos’ de Dom Bosco, e relativo à Estreia 2024 do Reitor-Mor, propôs, na segunda-feira (15), o aprofundamento teológico do Pe. Andrea Bozzolo, Reitor Magnífico da Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), de Roma.
Conforme esperado, esta releitura do momento fundador do carisma salesiano proporcionou, ao grande público, presencial e virtual, elementos que mostram a plena ancoragem da experiência do pequeno João à tradição bíblica e ao anúncio do Evangelho. Um caminho original, escolhido pelo Reitor Magnífico da UPS para alargar o seu olhar para além do “programa” educativo do Pai e Mestre dos Jovens – evidente à primeira abordagem – e entrar no coração da sua espiritualidade.
O encontro, desejado e organizado pelo Reitor da Basílica, Pe. Michele Viviano, foi aberto com a exibição do filme Dom Bosco, de Leandro Castellani (feito em 1988, centenário da morte do santo), no qual Pio IX pede ao sacerdote de Turim, ainda incerto sobre seu caminho, que identifique o momento fundador da sua experiência.
O fundador dos Salesianos levou tempo para compreender aquele acontecimento tão íntimo. Em sua atividade, não “empregou” explicitamente o sonho para atrair os jovens a Valdocco ou para tracejar o método de acolhimento, embora o tivesse, guardado, no coração. Foi apenas em 1874, que sentado à sua escrivaninha, respondeu ao Papa, reconstruindo os elementos daquilo que compreenderá ter sido uma extraordinária vocação pessoal.
É esta a chave disponível para reler a biografia deste “fundador”, comparável a Bento de Nórcia, Francisco de Assis, Domingos de Gusmão, Inácio de Loyola; e com uma tarefa adequada aos tempos da História e da Igreja: a de descobrir a possibilidade de reconduzir cada jovem num caminho de aproximação a Deus, até tocar os cumes da santidade.
Há também uma perfeita adesão teológica do “Sonho dos Nove Anos” à tradição judaica e cristã: o mesmo “caminho” do sonho foi seguido por Deus para se dirigir a Jacó e aos Patriarcas; e depois a Maria de Nazaré, a José, a Paulo de Tarso. É um método que não garante certezas, a não ser a possibilidade de compreender retrospectivamente a extensão da solicitação recebida do Espírito.
Mesmo porque estes “sonhos” confiam responsabilidades tais que a pessoa não aceitaria tão facilmente se percebesse a sua consistência. Estes são desafios reais à razoabilidade e à concretude. São projetos “impossíveis”, observou o Pe. Bozzolo, mas que, por isso mesmo, são confiados a pessoas que têm Fé em Deus: “Você o tornará possível”, foi a resposta a João Bosco que, ainda sonhando, não perdera o sentido da realidade; e queria saber “como” se daria a metamorfose dos “lobos” em “cordeiros”.
A resposta no sonho, e na realidade da Fé, é a mão d’Aquela – a quem Mamãe Margarida ensinou a dirigir-se em oração – que repousa sobre o ombro do menino: a “senhora” não dá resposta, instruções, nem mesmo recomendações; mas garante proximidade, benevolência, proteção. É o suficiente para lançar-se ao seguimento de Cristo, clareza imediata. Paradoxalmente, explicou o orador, quanto mais luz você recebe, mais você se encontra na escuridão: é apenas caminhando que o discípulo consegue caminhar o caminho. É uma “aposta” que se baseia no fundamento da ressurreição de Jesus, ou seja, no fato de ter deixado vestígios da vitória sobre a morte, o impossível mais extremo.
O sonho termina em lágrimas: de medo? De prazer? E ele sente como se tivesse levado uma surra. Joãozinho pergunta aos seus interlocutores “quem são vocês?” e não obtém resposta. .... Foi assim também para Abraão e para Moisés, quando foram alcançados pela Palavra: Deus não tem um nome que possamos conhecer. Quando tentamos citá-lo, só conseguimos gaguejar algumas consoantes. Se esta é a matriz comum da experiência dos ‘Nove Anos’, estamos perante uma santidade que atravessa todos os tempos, um trabalho que supera contingências.
Ao contemplar este episódio místico, surge a pergunta – que uma jovem fez no final do encontro na Casa de Maria de Valdocco: “Como reconhecer a transcendência na nossa experiência?”. “A vida é habitada por uma vocação - respondeu o orador -, o que nos rodeia não é um espetáculo. A vida de cada um está destinada aos outros, cada vida é estruturalmente uma vocação. É algo que nos pertence mesmo que não o tenhamos colocado dentro de nós. Por esta razão, devemos dar espaço à Palavra de Deus, para que possa emergir e ser compreendida".
Esta contemplação encontra um subsídio válido no livro, que no final do encontro foi colocado à disposição dos presentes: "O sonho dos nove anos - Leitura teológica", escrito pelo próprio Pe. Bozzolo, da Livraria da Universidade Salesiana, editado e traduzido em diversos idiomas.
A gravação do encontro com o Pe. Bozzolo pode ser acessada, em italiano, no canal oficial da Basílica de Maria Auxiliadora no YouTube.
Fonte: Agenzia Info Salesiana (ANS)