No dia 16 de maio de 1887, Dom Bosco celebrou sua primeira e única Missa no altar de Maria Auxiliadora, na igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Castro Pretorio, em Roma, igreja cuja construção lhe custou muito esforço e sofrimento nos últimos anos de sua vida. Naquela Missa, interrompida 15 vezes pelas lágrimas, Dom Bosco, já próximo do fim da sua vida mortal, teve a graça de compreender todo o caminho realizado nos mil apostolados e nas infinitas iniciativas para os jovens ao longo da sua vida, e o sonho que teve aos nove anos de repente tornou-se claro para ele, cumprindo, assim, a afirmação profética daquele sonho: “A seu tempo tudo compreenderás”.
Neste ano em que toda a Família Salesiana celebra o Bicentenário daquele sonho de Dom Bosco, o aniversário da Missa “no altar das lágrimas” – como ficou famoso na literatura salesiana – é uma oportunidade para redesenhar da mesma fonte que apoiou Dom Bosco durante toda a sua vida, como fundador da Congregação e da Família Salesiana, como formador e educador, guia espiritual, sacerdote e antes disso como cristão: a sua fé sem limites na Divina Providência.
Essa confiança em Alguém que seria capaz de ir além de suas forças e suprir o que ele poderia ter feito era visível em todos os seus gestos e projetos; mas talvez sua manifestação mais clara e óbvia tenha sido quando ele aceitou a proposta de Leão XIII de assumir pessoalmente a construção da igreja do Sagrado Coração, que já estava esperando há vários anos para ser construída e que, por várias razões (econômicas, natureza do terreno, acordos devido aos trabalhos pré-existentes, a suspeita das autoridades civis anticlericais...) era humanamente desaconselhável.
Eis o que relatam a este respeito as Memórias Biográficas de Dom Bosco (MB XIV, 580-581):
Segundo as nossas Constituições, Dom Bosco não poderia comprometer-se plenamente num assunto de tal magnitude sem antes consultar o seu próprio Capítulo. Tendo chegado, portanto a Turim e reunido os seus conselheiros, explicou-lhes a proposta do Santo Padre. A discussão foi longa. Todos concordaram que a proposta pontifícia era honrosa, mas muito onerosa; ter dívidas superiores a trezentas mil liras não parecia prudente nem conscienciosamente aconselhável embarcar numa empresa que teria absorvido milhões. Da discussão passamos às votações: seis contra e apenas um a favor, certamente Dom Bosco.
Ao ver assim rejeitada a proposta do Santo Padre, sorriu e disse: “Todos vocês me deram um sonoro não, e tudo bem, porque agiram com a prudência necessária em casos graves e extremamente importantes como este. Mas se, em vez de um não, vocês me derem um sim, posso garantir que o Coração de Jesus enviará os meios para construir sua igreja, pagar nossas dívidas e ainda nos deixar uma bela gorjeta”.
Suas palavras, inspiradas por uma confiança tão viva na Providência Divina, mudaram repentinamente as opiniões, de modo que, quando a votação foi repetida, os seis nãos tornaram-se todos sim. Com efeito, visto que, examinado o desenho, se constatou que era demasiado estreito, decidiu-se imediatamente propor ao Santo Padre outro maior, que fosse digno do Sagrado Coração e de Roma. E assim foi feito.
A gorjeta nada mais era do que o hospício, que não fazia parte das intenções do Papa, mas seria um extra, dado quase como recompensa do Sagrado Coração. As dívidas da Congregação, como havia prometido o Servo de Deus [Dom Bosco, na época, NdE] e como atestou o Cardeal Cagliero nos julgamentos, foram pagas sem problemas”.
Com a construção do templo do Sagrado Coração no Castro Pretorio, Dom Bosco tornou-se, depois de apóstolo de Maria Auxiliadora, também apóstolo do Sagrado Coração de Jesus. E a "gorjeta" que Dom Bosco profetizou ainda está presente e viva, multiplicou-se e implanta o carisma salesiano na Cidade Eterna e no coração da Igreja.
Fonte: Agenzia Info Salesiana (ANS)