Santidade Salesiana

Nascimento: 16/08/1815
Beatificado: 02/06/1929
Canonizado: 01/04/1934
Celebração litúrgica: 31/01
João Melquior Bosco nasceu do segundo casamento de Francisco Bosco com Margarida Occhiena, em 16 de agosto de 1815, e foi batizado no dia seguinte como João Melchior Bosco. O pai era inquilino dos Biglione e habitava numa de suas casas nos Becchi, território de Morialdo, povoado de Castelnuovo d’Asti. Morrendo de pneumonia em 11 de maio de 1817, Francisco deixou aos cuidados da esposa Margarida os seus três filhos: Antonio, nascido em 1808; José, nascido em 1813, ambos da primeira esposa, Margarida Cagliero; e João. A pequena família, transferida para uma pequena edificação rural adaptada como habitação, passou anos difíceis em tempos de circunstâncias desfavoráveis para o mundo agrícola. Joãozinho, educado pela mãe com profundo discernimento humano e cristão, foi dotado pela Providência de dons, que fazem dele, desde os primeiros anos, o amigo generoso e diligente de seus conhecidos. Entretanto, devido às penúrias familiares e as tensões com o meio-irmão Antônio, pelas suas inclinações ao estudo, foi enviado, de fevereiro de 1828 a novembro de 1829, a trabalhar como ajudante na granja Moglia.
Retornando em família, graças ao apoio do velho capelão Pe. João Calosso, foi-lhe permitido continuar os estudos elementares em Castelnuovo e os humanistas no Régio Colégio de Chieri. Desde criança, ele sentiu ter recebido uma vocação especial e ser assistido e quase guiado pela mão, para realizar a sua missão, pelo Senhor e pela intervenção da Virgem Maria, que desde o sonho profético dos nove anos lhe indicam o campo de trabalho e a missão a realizar. Sua juventude é assim a antecipação de uma extraordinária vocação educativa e pastoral. Apóstolo entre os colegas, funda nos anos de escola em Chieri a Sociedade da Alegria. Desde criança, sente o chamado a configurar-se de maneira perfeita à figura de Cristo Bom Pastor, e essa identificação amadurecerá ao longo de toda a sua existência com uma progressiva encarnação do ministério sacerdotal segundo uma modalidade própria: ser sinal do Bom Pastor para os jovens e para a gente do povo. Aos vinte anos, em 1835, faz a opção definitiva: entra no seminário episcopal de Chieri. Os anos de seminário foram para ele anos de trabalho espiritual, se não por outro motivo, porque o ambiente disciplinado e o ensinamento teológico moral rigorista contrastavam com o seu temperamento levado à liberdade expansiva e à inventiva no campo operativo. No seminário, João Bosco assimilou os valores que o austero regulamento e a tradição formativa propunham aos jovens clérigos: estudo intenso, espírito de sincera piedade, vida retirada, obediência, disciplina interior e exterior. Entretanto, pôde contar com o conhecimento do padre José Cafasso, também natural de Castelnuovo e colaborador do teólogo Luís Guala em Turim, no “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis”, destinado ao aperfeiçoamento do clero jovem na prática pastoral. Até o fim de sua vida, Cafasso será para Dom Bosco mestre de teologia moral e de “pastoral prática”, e também confessor, diretor espiritual, conselheiro.
Ordenado sacerdote em Turim pelo arcebispo Luís Fransoni em 5 de junho de 1841, Dom Bosco passou o verão e o outono entre os Becchi e Castelnuovo auxiliando o pároco. Em novembro, preferiu retornar a Turim, ao Colégio Eclesiástico, para ali fazer o triênio de aperfeiçoamento teórico e prático. Recebeu uma qualificação pastoral teórica e prática e consolidou a sua vida interior. Aspectos relevantes desta espiritualidade sacerdotal propugnada por Cafasso são: centralidade do serviço divino, animado pelo profundo amor do Senhor, pelo desejo de conformação com a divina vontade, pela total disponibilidade ao seu serviço com prontidão, exatidão e delicadeza; espírito de oração, doçura e caridade, de pobreza, desapego e mortificação, de humildade e trabalho intenso; entrega absoluta de si no cuidado pastoral do próximo, zelo incansável para acolher, aproximar-se, buscar, animar, exortar, instruir; tendência missionária; dedicação sem pausa à pregação, à catequese, ao sacramento da penitência; terna devoção mariana, sentido de pertença eclesial e devoção ao Papa e aos pastores da Igreja. Além da formação moral, o novel sacerdote dedicou-se à instrução catequética dos meninos e acompanhou o padre Cafasso na assistência espiritual aos jovens encarcerados nas prisões da cidade.
O jovem sacerdote torna-se também sempre mais envolvido nas profundas e complexas mudanças políticas, sociais e culturais que marcarão toda a sua vida: movimentos revolucionários, guerra e êxodo da população dos campos para as cidades são fatores que incidem nas condições de vida do povo, especialmente se pertencente às camadas mais pobres. Concentrados nas periferias das cidades, os pobres em geral e os jovens em particular tornam-se objeto de abuso ou vítimas do desemprego; durante o seu desenvolvimento humano, moral, religioso, profissional, são acompanhados de maneira insuficiente e muitas vezes não são cuidados de modo nenhum. Sensíveis a qualquer mudança, os jovens ficam muitas vezes inseguros e perdidos. Diante desta massa desenraizada, a educação tradicional fica perplexa: filantropos, educadores e eclesiásticos esforçam-se para ir, por vários títulos, ao encontro das novas necessidades.
Em outubro de 1844, Dom Bosco obtém o emprego de capelão, primeiramente da Obra do Refúgio e, depois, do pequeno Orfanato de Santa Filomena, dois institutos femininos fundados por Júlia Colbert, marquesa di Barolo, ambos a nordeste da cidade, não distantes da Pequena Casa da Divina Providência, do cônego José Cottolengo, e não longe da “Porta Palácio”, local de um grande mercado da cidade. Dom Bosco acolhe, em sua nova residência, os jovens que se afeiçoaram a eleno Colégio Eclesiástico; serventes de pedreiro, aprendizes, estudantes e como estrelas no céu imigrantes afluem em número sempre crescente. Graças às capacidades pessoais, ele os entretêm empenhando-se diretamente em seus divertimentos e obtendo a participação deles nos momentos de instrução religiosa e de culto. Às reuniões feitas no Refúgio, dá o nome de “catecismo” e, depois, estavelmente, de “Oratório de São Francisco de Sales”.
Dotado de uma feliz intuição realista e conhecedor atento da história da Igreja, ele tira do conhecimento dessas situações e das experiências de outros apóstolos, especialmente de São Felipe Neri e de São Carlos Borromeu, a fórmula do “oratório”. Para ele, este título é singularmente caro: o Oratório caracterizará toda a sua obra, e ele o modelará segundo uma perspectiva pessoal, adaptada ao ambiente, aos seus jovens e às suas necessidades. Como principal protetor e modelo dos colaboradores, escolhe São Francisco de Sales, o santo de zelo multiforme e humaníssima bondade manifestada, sobretudo, na doçura do acolhimento.
O Oratório torna-se itinerante nos anos 1845-1846, embora gravitando na região entre os prados degradados de Valdocco em direção ao Dora Riparia e Porta Palácio, onde era mais fácil manter contato com os jovens. Em Valdocco, Dom Bosco estabelece-se definitivamente na primavera de 1846, de início, em poucas salas e um galpão adaptado como capela, alugados numa construção da extrema periferia (a casa Pinardi); em seguida, com a aquisição de todo o edifício e do terreno adjacente. Já naqueles anos ele dá ênfase ao lema “Da mihi animas caetera tolle” (que se habituou a traduzir: “Senhor, dai-me almas e ficai com todas as outras coisas”), e o teve como muito importante e significativo a ponto de fazê-lo reproduzir num cartaz fixado em seu quarto até os últimos dias de sua vida. O Oratório de Valdocco inspirava-se no do “Anjo da Guarda”, aberto em 1840 pelo padre Cocchi às margens do bairro de Vanchiglia. Dada a simpatia obtida pelos dois primeiros oratórios, um terceiro intitulado a “S. Luís Gonzaga” foi aberto em 1847, na região de Porta Nova. A “Obra dos Oratórios”, iniciada em 1841, com um “simples catecismo”, expande-se progressivamente para responder a situações e exigências prementes: internato para acolher os abandonados, oficina e escola de artes e ofícios para ensinar-lhes um trabalho e torná-los capazes de ganhar a vida honestamente, escola humanista aberta ao ideal vocacional, boa imprensa, iniciativas e métodos recreativos próprios da época (teatro, banda, canto, passeios outonais), para favorecer o desenvolvimento sadio dos meninos.
Também para os oratórios 1848 (ano de grandes convulsões político- sociais) foi um período de crise. Padre Cocchi inclinava-se a compartilhar os entusiasmos patrióticos dos jovens; Dom Bosco manteve-se mais cauteloso e atento à linha de oposição assumida pelo arcebispo Fransoni. A retomada aconteceu ao redor de 1850, graças à tenacidade de eclesiásticos e leigos seus colaboradores (entre eles, o teólogo João Batista Borel e os primos Roberto e Leonardo Murialdo). Por iniciativa de Fransoni, agora no exílio em Lyon, Dom Bosco é nomeado em 1852 “diretor-chefe espiritual” dos três oratórios masculinos de Valdocco, Porta Nova e Vanchiglia. Dado o aumento da afluência juvenil nos oratórios, com o apoio da população e das autoridades da cidade, pôdese substituir o galpão-capela de Valdocco por uma igreja mais ampla intitulada a São Francisco de Sales (1851-52), e, depois, empenhar-se na aquisição de novos terrenos e na construção de uma “Casa anexa ao oratório”, para acolher e instruir tanto os jovens estudantes como os aprendizes de alguns ofícios mais auspiciosos: sapateiros e alfaiates (1853), encadernadores (1854), marceneiros (1856), tipógrafos (1861), artesãos e ferreiros (1862). Após o ano da cólera (1854), a população juvenil hospedada na escola-internato de Valdocco superou rapidamente uma centena e chegou a mais de oitocentas pessoas em 1868. Nesse ano, por iniciativa e empenho de Dom Bosco, foi consagrada no terreno do Oratório de Valdocco uma grande igreja dedicada a Maria Auxiliadora (Auxilium Christianorum) destinada aos jovens e às necessidades espirituais do bairro. Para a defesa e a promoção da fé entre o povo cristão, ele instituiu em 1869 a Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora.
O conjunto destas realizações permitiu a Dom Bosco lançar os mais variados apelos na intenção de mobilizar consensos e ajudas financeiras; a partir de 1853, organizou sorteios de beneficência obtendo entradas que lhe permitiram aumentar e melhorar os edifícios dos oratórios e acolher, gratuitamente ou quase, jovens aprendizes e estudantes das classes ginasiais. Em apelos endereçados à população em geral, ele declarava que desejava formar “cidadãos honestos e bons cristãos”. Quando se dirigia às autoridades políticas e administrativas, pedia apoios e subsídios para obras que visassem prevenir a delinquência de menores, tirar da rua os jovens que, de outra forma, acabariam nas prisões, formar cidadãos úteis à sociedade. Eram fórmulas que, depois, se condensaram no seu escrito pedagógico mais conhecido: O sistema preventivo na educação da juventude (Turim, 1877). A feliz expressão: “Basta que sejam jovens para que eu os ame muito” é a palavra e, antes ainda, a opção educativa fundamental do santo: “Prometi a Deus que até o meu último respiro seria pelos meus pobres jovens”. E, de fato, ele desenvol como estrelas no céu veu uma impressionante atividade com palavras, escritos, instituições, viagens, encontros com personalidades civis e religiosas, manifestando principalmente uma cuidadosa atenção voltada aos jovens para que eles pudessem ver no seu amor de pai o sinal de um Amor mais elevado.
Dom Bosco começa a distinguir-se também com a publicaçã de alguns opúsculos destinados aos jovens e reeditados muitas vezes: História Eclesiástica para uso das escolas (1845), História Sagrada par uso das escolas (1847), O Jovem Instruído na prática dos seus deveres (1847), O Sistema métrico decimal reduzido à simplicidade (1849). Em 1853, com o apoio do bispo de Ivrea, L. Moreno, inicia a publicação das Leituras Católicas, coleção de pequenos fascículos periódicos de formato pequeno, em média com uma centena de páginas, de caráter monográfico, redigidos em estilo facilmente acessível a leitores de primeira alfabetização do mundo do trabalho manual e agrícola. Nas Leituras Católicas, Dom Bosco concentra grande parte de seus escritos apologéticos, catequéticos, devocionais e hagiográficos visando apresentar de modo positivo a Igreja Católica, o Papado, a obra dos oratórios. A Lei Casati (1859), que dispõe sobre a obrigação da organização escolar nas Cidades, ofereceu a Dom Bosco a ocasião de alargar o campo das suas iniciativas. Depois da experiência de pequenos seminários episcopais administrados sob a sua responsabilidade (Giaveno, diocese de Turim, em 1859, e Mirabello Monferrato, na diocese de Casale, em 1863, transferido em 1870 a Borgo San Martino), ele caminhou com mais decisão pelo terreno das escolas públicas, oferecendo-se para administrar sob a sua responsabilidade alguns colégios-internatos municipais; foi a vez de Lanzo Torinese (1864), Cherasco (1869), Alassio (1870), Varazze (1871), Vallecrosia (1875), institutos que, por norma, tinham um oratório anexo, que se acrescentava aos demais que, por vários títulos, eram legalmente reconhecidos como internatos de beneficência ou escolas privadas (em 1872, Genova – Sampierdarena, etc.). Dom Bosco, portanto, não foi um padre que se deixou paralisar pelas situações instáveis e mutáveis em que vivia, mas um padre que, justamente estas situações e circunstâncias, soube ser ministro do Senhor, filho da Igreja, apóstolo de Cristo no anúncio do Evangelho, na acolhida dos pobres e, sobretudo, na predileção pelos meninos e jovens. Pode-se sublinhar a sua audácia, a sua atividade, a sua fantasia inspiradora de soluções, mas jamais se pode separar estas qualidades tão visíveis do homem Dom Bosco da sua riqueza interior substanciada por vigorosa e rigorosa ascese, de profundo sentido de fé e também de contínua dedicação ao ministério na Igreja. Esta harmonia entre os dotes humanos e os recursos misteriosos da fé e da graça caracterizou o seu sacerdócio, tornando-o tão resplendente e tão fecundo. Nele, a simbiose entre ação e contemplação aparecia como consequência lógica do sacerdócio ministerial. Em sua vida, não havia lugar para dualismos problemáticos, mas apenas para obedecer ao Espírito, ser tocado pelas urgências da caridade, continuamente nutrido e substanciado por uma força que derivava da oração e da Eucaristia, que o tornava incansável, mesmo vivendo ele próprio uma misteriosa consumação do seu ser pelo bem da Igreja e da juventude.
Fechado o seminário metropolitano por ordem de dom Fransoni (1848), Dom Bosco oferece hospedagem aos clérigos diocesanos que seguiam na cidade as aulas dadas por professores do seminário. A estes clérigos era natural que se acrescentassem os meninos dos oratórios que entravam na carreira eclesiástica. De Valdocco e de seus outros colégios, com ele ainda em vida, saíram cerca de 2.500 sacerdotes para as dioceses do Piemonte e da Ligúria. O exemplo e o encorajamento de Dom Bosco levam muitos bispos a superar hesitações devidas a problemas econômicos e abrir ou reorganizar seminários menores. Diversos reitores aprenderam dele a utilização de instrumentos pedagógicos e espirituais, idôneos à formação dos jovens sacerdotes, como a bondade (amorevolezza) e a assistência paterna que suscitam confiança, a confissão frequente e a comunhão, a piedade eucarística e mariana. Singular para os tempos, e mais tarde imitado por muitos, foi o cuidado específico pelas vocações adultas com a instituição de seminários e escolas adequados. Estas circunstâncias se prolongaram até além de 1860 e permitiram a Dom Bosco ter um pessoal mais estável e mais sintonizado com os seus métodos educativos para os oratórios e as escolas. Amadureceu assim o plano de substituir à Sociedade ou Congregação dos Oratórios, formada em geral por eclesiásticos e leigos de boa vontade, por um grupo recrutado entre os seus clérigos e colaboradores leigos. Vivia-se nos anos do debate político que levou nos Estados Sardos à supressão de ordens religiosas e outras entidades eclesiásticas. Seguindo o conselho de Urbano Ratazzi, Dom Bosco pensou numa associação de pessoas que, sem renunciar aos direitos civis, se propusesse uma finalidade de bem público, e mais concretamente a educação da juventude mais pobre e abandonada. No interior do grupo, porém, Dom Bosco, dava coesão às finalidades comuns com vínculos religiosos. Para aos seus Salesianos elaborou então a fórmula: “Cidadãos peranteo Estado; religiosos perante a Igreja”. Em Roma, em fevereiro de 1858, foi recebido por aqueles que o conheciam como diretor das Leituras Católicas e de florescentes oratórios juvenis, ou também pela fama de santo sacerdote e taumaturgo. Obtida uma audiência pontifícia, entrou em sintonia com Pio IX e recebeu dele ardorosos encorajamentos para os seus projetos. Em 18 de dezembro de 1859, com outros dezoito jovens, deu início oficial à Sociedade de São Francisco de Sales. Em 1864, obteve de Roma o Decretum laudis para a Pia Sociedade de São Francisco de Sales e o início das práticas para o respectivo exame das Regras ou Constituições; em 1869, a aprovação pontifícia da Sociedade Salesiana e em 1874, das Regras ou Constituições.
Segundo os mesmos critérios e com o mesmo espírito, Dom Bosco procurou encontrar uma solução também para os problemas da juventude feminina. O Senhor suscitou ao seu lado uma cofundadora: Maria Domingas Mazzarello, hoje santa, coadjuvada por um grupo de jovens companheiras já dedicadas, na paróquia de Mornese (Alessandria, Itália), à formação cristã das meninas. Em 5 de agosto de 1872, funda, com Maria Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora.
Nos anos seguintes, com o apoio das mais variadas instituições públicas e privadas, pôde abrir oratórios, colégios, internatos, escolas agrícolas, além de na Itália, também em vários países da Europa: Nice (1875), La Navarre (1878), Marselha (1878), Saint-Cyr (1880) e Paris (1884), na França; Utrera (1880) e Barcelona – Sarriá (1884), na Espanha; Battersea (1887), na Inglaterra; Liége (1887), na Bélgica.
Nesses anos, entretanto, vão aumentando as incompreensões e os contrastes com a cúria da arquidiocese de Turim, sobretudo devido ao tipo de formação oferecido nas obras de Dom Bosco; de fato, ia sendo traçado um modelo de religioso e de sacerdote em contraste com o que se propunha um pouco em todos os lugares pelos bispos e pela própria Santa Sé, um modelo mais aberto e tendendo a superar certa separação entre clero e povo. A divergência tornou-se conflito quando, ao arcebispo Riccardi di Netro (falecido em 1870), sucedeu como arcebispo dom Lourenço Gastaldi (1871), que no passado fora admirador, colaborador e benfeitor de Dom Bosco. Gastaldi partiu do pressuposto de que a Sociedade Salesiana era diocesana e, por isso, sob a plena autoridade episcopal. Interviu, por isso, de modo crucial sobre Dom Bosco e junto à Santa Sé para que fossem tomadas decisões no sentido desejado por ele. O contraste exasperou quando em 1878-79 foram publicados em Turim cinco panfletos que criticavam duramente a gestão diocesana do arcebispo e o tratamento usado por ele com Dom Bosco. Gastaldi lamentouse com a Santa Sé, insinuando que o inspirador dos folhetos fosse o indócil fundador dos Salesianos. A pedido de Leão XIII, Dom Bosco precisou curvar-se a um ato de desculpas ao arcebispo e um documento de “concórdia” (16 de junho de 1882); contudo, o gelo entre os dois permaneceu e repercutiu longamente na atitude tanto do clero diocesano como dos Salesianos. Falecido dom Gastaldi (25 de março de 1883), este foi sucedido na sede de Turim por Caetano Alimonda.
Apenas no ano seguinte, Dom Bosco obteve o decreto de extensão dos privilégios concedidos pela Santa Sé aos Redentoristas, inclusive, por isso, o da isenção da jurisdição episcopal (18 de junho de 1884). Dom Bosco encarnou um amor exemplar à Igreja e ao Papa, tornando os ideais programáticos da própria vida. Os seus não eram tempos em que o amor à Igreja fosse de moda, ao contrário; mas ele amou a Igreja, declarou amá-la, defendeu-a, serviu-a, fez dela um ideal de vida e bandeira do seu trabalho. E não se trata apenas de amor à Igreja universal e ao Papa, mas de amor e fidelidade à Igreja local. A sua Igreja local. João Bosco amou-a sempre e mesmo nos momentos difíceis, quando a compreensão não era uma atitude fácil. Não se afastou, não se refugiou no universalismo da Igreja por sentir-se estranho na Igreja que o vira nascer, o educara, lhe abrira os espaços da caridade. Mesmo com o passar dos anos, Dom Bosco esteve atento em cultivar os apoios possíveis entre os quadros da monarquia e do Estado liberal; nos sorteios, entre os prêmios colocados em disputa havia pontualmente aqueles oferecidos por algum membro da Casa reinante. Sendo o governo transferido para Florença, ele continuou a apresentar pedidos de subsídios dos fundos ministeriais em favor de suas obras pela juventude pobre. Em 1866-67, o Presidente do Conselho, João Lanza, poderoso expoente da Direita, também recorreu a ele nas controvérsias entre a Santa Sé e o Governo sobre a nomeação de bispos para as sedes episcopais vacantes. Nos anos 1870-71, foi envolvido pelo mesmo Lanza na questão do exequatur que, depois da lei das garantias, o governo reivindicava para si autorizar a tomada de posse de suas sedes dos bispos nomeados pelo Papa. Dom Bosco aproveitou a ocasião para insistir no duplo papel que se atribuía, isto é, a sincera fidelidade ao Papa e ao Estado.
As controvérsias políticas envolvem-no, mas ele as vive como padre. Sente as questões sociais, mas as enfrenta como padre. As situações eclesiais – não sem dificuldades, contradições e problemas – encontram-no simplesmente sacerdote: entregue ao Evangelho, à missão da Igreja, ao amor e respeito ao Papa, este padre tão concreto, tão incisivo na história da sua gente, permanece essencialmente um padre de Jesus Cristo, iluminando com a sua presença tempos não fáceis para a Igreja e, em especial, para o clero. O dinamismo do seu amor torna-se universal com o passar dos anos, levando-o a acolher o apelo de nações distantes, até as missões de além-oceano, por uma evangelização que nunca está separada da autêntica obra de promoção humana. Na onda da emigração europeia e em resposta à questão social e política da instrução, pôde enviar os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora a vários países da América Latina: Buenos Aires (1875), San Nicolás de los Arroyos (1886), Carmen de Patagones e Vidma (1879), Santa Cruz (1885) na Argentina; Montevidéu (1876) no Uruguai; Niterói (1883) e São Paulo (1884) no Brasil; Quito (1885) no Equador; Concepción e Punta Arenas (1887) no Chile; Malvinas Falkland (1887). Os empreendimentos de alguns Salesianos pioneiros entre os indígenas da Patagônia e da Terra do Fogo, refletindo epicamente na Europa, aumentavam os entusiasmos e mobilizavam vocações missionárias no mundo juvenil salesiano, estimulado, além do mais, pela narração que Dom Bosco fazia confidencialmente de ‘sonhos proféticos’ sobre o futuro dos Salesianos nos cinco continentes. Sensível ao clima de reorganização das forças sociais católicas na Itália, Dom Bosco fundou em 1876 a União dos Cooperadores Salesianos, inspirada no princípio “vis unita fortior”. Disso resultou um amplo envolvimento da opinião pública e de várias camadas da população. A rede dos Cooperadores foi cultivada com conferências apropriadas e o lançamento do mensal Boletim Salesiano a partir de 1877. O Boletim, enviado gratuitamente também a não Cooperadores, serviu para aumentar simpatias e também buscar financiamentos para os empreendimentos que Dom Bosco estava promovendo.
Não obstante a idade avançada e a saúde frágil, nos últimos anos de vida, não deixou de viajar para sustentar as suas iniciativas. Em 1883, foi recebido por multidões de admiradores em Paris; no mesmo ano foi a Frohsdorf (Áustria); em 1884 e 1885 a Marselha; em 1886 a Barcelona; em maio de 1887, vai a Roma pela última vez. Morre em Turim, no oratório de Valdocco em 31 de janeiro de 1888 e o chefe do governo, Francisco Crispi, autorizou o seu sepultamento no colégio salesiano de Turim – Valsalice. O segredo de “Tanto espírito de iniciativa é fruto de uma profunda interioridade. A sua estatura de Santo coloca-o, com originalidade, en tre os grandes Fundadores de Institutos religiosos na Igreja. Sobressai por muitos aspectos: é o iniciador de uma verdadeira escola de nova e atraente espiritualidade apostólica; é o promotor de especial devoção a Maria, Auxiliadora dos Cristãos e Mãe da Igreja; é a testemunha de leal e corajoso sentido eclesial, manifestado através de mediações delicadas nas então difíceis relações entre a Igreja e o Estado; é o apóstolo realista e prático, aberto às contribuições das novas descobertas; é o organizador zeloso das Missões, com sensibilidade verdadeiramente católica; é, por excelência, o exemplar de um amor preferencial pelos jovens, especialmente pelos mais necessitados, para o bem da Igreja e da sociedade; é o mestre de uma eficaz e genial práxis pedagógica deixada como dom precioso a ser conservado e desenvolvido... Ele realiza a sua santidade pessoal mediante o empenho educativo, vivido com zelo e coração apostólico, e que sabe propor, ao mesmo tempo, a santidade como meta concreta da sua pedagogia. Precisamente tal intercâmbio entre “educação” e “santidade” é o aspecto característico da sua figura; ele é um “educador santo”, inspira-se num “modelo santo” – Francisco de Sales -, é discípulo de um “mestre espiritual santo” – José Cafasso -, e sabe formar entre os seus jovens um “educando santo” – Domingos Sávio” (JOÃO PAULO II, Iuvenum Patris, n. 5).
Em Dom Bosco, tudo isso também foi caracterizado pela entrega sem reservas ao ministério sacerdotal, pela atenção preferencial aos jovens e ao povo, pela simplicidade do comportamento amável e cativante, pela fantasia e iniciativa pastoral, pela capacidade de discernir os sinais dos tempos e intuir as necessidades do momento e os futuros desenvolvimentos. Ele teve uma profunda vida interior e foi ao mesmo tempo corajoso, otimista, capaz de contagiar e envolver a muitos na sua obra educativa e pastoral. Este padre, São João Bosco, ainda criança ficou órfão de pai. O Senhor deixou ao seu lado, por muito tempo, uma admirável mãe – mamãe Margarida, hoje venerável – e concedeu-lhe também uma intuição inesgotável de graça sobre a presença de Maria na vida da Igreja. A basílica que o Santo quis dedicada à Auxiliadora não só testemunha uma devoção que se tornou grande com o seu coração transfigurado pela caridade, mas também nos recorda que todo itinerário cristão é ajudado por esta Mãe, solicitado por esta presença e transfigurado por esta suavíssima maternidade.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 09/05/1837
Beatificado: 20/11/1938
Canonizado: 24/01/951
Celebração litúrgica: 13/05
Maria Domingas Mazzarello, familiarmente chamada Main, é uma jovem simples e normal, cheia de vida e sonhos, de defeitos e fraquezas, como muitas outras jovens do seu tempo. Neste sentido, está muito "próxima" de nós, torna-se companheira no caminho da santidade. Ela confirma que a santidade é possível, é linda, é plenitude de vida. Entremos na história da sua vida para descobrir como ela viveu a sua juventude e que mensagem ela nos quer deixar hoje1.
Nascida a 9 de maio de 1837, em Mornese (Alessandria), no Alto Monferrato (Piemonte), de uma família de camponeses e cristãos autênticos, Main recebeu, desde o início, uma profunda formação humana e cristã. A família foi para ela a primeira escola de fé, de humanidade e de socialização. Os pais, de caráter diferente um do outro, encontraram a sua unidade na fé e completaram-se mutuamente na educação dos filhos. Dos pais, Main herdou uma fé firme e um amor pela vida. Da mãe, aprendeu a sinceridade e generosidade, e a coragem para encarar a vida com desenvoltura e humor, amor filial a Nossa Senhora. Primogénita de treze filhos, ela era uma trabalhadora e colaboradora fiel da mãe na educação dos irmãos e irmãs.
À medida que crescia, tornou-se também o braço direito do pai no trabalho do campo. José, seu pai, de quem ela gostava muito, deixou uma marca indelével na sua vida. Ela própria reconheceria que, se havia nela alguma virtude, algo de bom, devia-o a ele. De facto, ela aprendeu com o pai a interiorizar uma visão cristã da vida. Ela mesma recordaria que, ainda menina, lhe fizera uma pergunta: «Pai, o que fazia Deus antes de criar o mundo?» A resposta do pai permaneceu-lhe impressa na sua mente durante toda a vida: «Deus contemplava-se a Si mesmo, amava-se, adorava- se»2. Assim, José colaborava para abrir os horizontes da vida e da fé à filha que se sentia imersa no mistério de Deus, aprendia a descobri-Lo na história, como presença, um Deus Pai, amante da vida, que fala no íntimo do coração. Nesta trama de boas relações familiares, Main aprendia a acolher a vida como um dom, para ser partilhado e missão a desempenhar.
Com a educação dos pais, assumiu, nos anos da adolescência e da juventude, o acompanhamento sábio e prudente de Dom Domenico Pestarino. Se hoje reconhecemos a santidade de Main, devemos também agradecer a este santo sacerdote, seu guia espiritual durante 27 anos.
Main não nasceu santa. Como toda a gente, ela tinha qualidades e defeitos. Vivia a adolescência com todos os riscos e potencialidades que esta idade traz consigo e com a força do coração que é própria deste período da vida. Do ponto de vista humano-psicológico, era uma jovem de temperamento forte e franco, inteligente, intuitiva, viva, de natureza ardente, mente clara e afetividade saudável, por natureza reflexiva e alegre; era empreendedora, dotada de grande capacidade de comunicação, caracterizada por um sentido realista e de bom humor.
Do ponto de vista espiritual, adquiriu uma vida cristã profunda. Tinha o gosto pela contemplação da natureza; ativamente empenhada no trabalho agrícola e no apostolado. A sua espiritualidade era caracterizada por uma piedade sólida, mais interior que exterior, pela simplicidade, alegria, transparência de vida e generosidade no dom de si aos outros.
No entanto, tinha de percorrer um caminho de purificação para que o seu coração jovem se tornasse cada vez mais luminoso e transparente. Todas as qualidades positivas que possuía, se não fossem orientadas sabiamente, poderiam esconder algum perigo: tornar-se impaciente e prepotente, pouco respeitadora para com os outros e até mesmo autoritária. Diz-se que, de jovem, era inclinada à vaidade no vestir, mas fazia esforço por se corrigir; era ambiciosa, levada ao orgulho, de natureza pronta, ardente e fogosa; firme nos seus pontos de vista e pouco complacente, de tal modo que ficava vermelha no rosto quando era contrariada. Era uma jovem aberta à oração, mas inicialmente sentia relutância em abeirar-se da Confissão; as prédicas aborreciam-na, às vezes chegava até a adormecer na igreja.
Maria Domingas era, ao mesmo tempo, delicada de consciência, cheia de confiança em Deus e determinada em seguir o caminho do amor. Sob a orientação sábia e exigente do seu confessor e diretor espiritual, o padre Pestarino, venceu a repugnância pela Confissão, aprendeu o domínio de si, suavizou o seu caráter, assumiu atitudes de docilidade e bondade, e, gradualmente, abriu-se a Deus e às pessoas e avançou na unificação interior. Ela, jovem de coração dócil à graça3, não teve medo de empreender o caminho do profundo, a peregrinação interior que, através da sombra do limite e do pecado, conduzia à verdade última que a habita: Deus. A experiência de Maria Domingas atesta que, sob a ação da graça, a juventude pode tornar-se uma experiência de vida bela, feliz, "agraciada", transfigurada em Cristo.
A jovem mornesina fundamentava a sua vida em alguns valores básicos: Deus, a família, as amizades, o trabalho, o dom de si mesma para a alegria dos outros, a fé em Deus. As palavras de Qoèlet parecem esclarecedoras para ilustrar a sua vida: «Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude» (Qo 12,1). Deus torna-se depressa o centro da sua existência na sua mocidade. Juntamente com a sua tarefa na família, Maria Domingas abriu-se à missão apostólica na paróquia através de uma intensa vida sacramental, especialmente empenhada na catequese e nos grupos de jovens. Abriu-se também à realidade da sua terra com a criação de uma rede de relações sociais e amizades verdadeiras e sinceras. Um exemplo de amizade autêntica foi a que se estabeleceu entre Maria Domingas e Petronilla Mazzarello, e que não diminuiu ao longo dos anos. Main foi também uma jovem profundamente "paroquiana": ela é um fruto maduro da santidade paroquial4.
Não só recebeu muito da paróquia, mas também, sem o saber, ela contribuiu para a renovação espiritual da paróquia de Mornese. Para Maria Domingas, a juventude foi também o tempo da descoberta alegre do seu próprio lugar na história, o momento emocionante da abertura à missão, recebida de Deus, da escolha de vida que requeria esforço e fidelidade. O chamamento do Senhor e o desejo de se Lhe entregar com todas as suas forças, aconteceram bastante cedo, e evoluíram progressivamente para a plena realização, passando de uma vocação laica para uma vocação religiosa salesiana.
1855 marca a data oficial da fundação da Pia União das Filhas de Maria Imaculada5, instituição que, por suas características e objetivos, antecipava os Institutos Seculares. Maria Domingas, que desde os 15 anos se tinha entregue ao Senhor com o voto de castidade, sentiu-se imediatamente atraída pela proposta e foi uma das primeiras inscritas. Durante 17 anos viveu a vocação laical, fez uma experiência forte de espiritualidade apostólica, consagrando-se a Deus explicitamente no «exercício da caridade», através de uma intensa atividade social e eclesial entre os jovens, as mães, os doentes e os necessitados da sua terra. As Filhas da Imaculada estavam ligadas umas às outras por um forte espírito de família e viviam uma forma de acompanhamento recíproco. Lê-se na sua Regra: «As Filhas da Pia União devem considerar-se como verdadeiras irmãs, e como uma boa irmã ajuda a sua querida irmã em todas as suas necessidades, assim deverão ajudar-se reciprocamente, o melhor que puderem».6 Mas, acima de tudo, viviam o acompanhamento recíproco como amizade espiritual para crescer no amor de Deus, a correção fraterna, advertindo sobre os defeitos, o exercício da caridade.
Uma experiência fundamental e decisiva na vida de Main aconteceu quando ela tinha 23 anos de idade. Ela foi atingida pelo tifo. Foi a experiência dura da prova e da confiança total em Deus. A doença ameaçou a sua vida e o seu futuro. Deus, porém, na sua imensa bondade, tinha para ela um novo projeto de amor. Quando tudo parecia ter terminado, começou para ela uma aventura fascinante. Main, fragilizada na sua força física, não se fechou em si mesma, mas reagiu de uma maneira resiliente e perguntou o que queria Deus dela. Ele quer tudo, o dom total da vida, até mesmo a fragilidade, para fazer dela um dom para os outros jovens. Main abandonou-se a Ele num gesto de confiança: «Oh, Senhor! Se me dais ainda algum tempo de vida, fazei que eu seja esquecida por todos. Sou feliz por ser recordada apenas por vós»7. O Senhor escutou a sua oração e achou-a preparada para a nova missão.
Indo um dia por uma estrada do Borgoalto, em Mornese, teve uma visão misteriosa: viu um grande edifício com muitas meninas que corriam no pátio, e ouviu uma voz que disse: «A ti as confio»8. Para Maria Domingas, este era um chamamento a abraçar uma missão maior que ela. Com grande humildade, acolheu o que Deus lhe pediu e fez uma escolha radical de vida: dedicar-se totalmente à educação cristã das jovens. O amor é sempre criativo, ousado e desperta as melhores energias de bem que existem na pessoa. Depois, uma intuição, quase uma marca divina: aprender costura com uma finalidade educativa, ensinar às jovens uma profissão, mas sobretudo educá-las a conhecer, amar e servir o Senhor.
O amor envolve e arrasta. Partilhou a sua intuição, que a abriu a um novo futuro, com a sua amiga Petronilla e foi nascendo assim, progressivamente, uma oficina de costura, um oratório, um lar. O Espírito Santo moldou nela um coração materno. Prudente e sábia, educou as meninas com amor preventivo. A obra cresceu. Uniram-se a Maria Domingas outras companheiras naquela missão e, em 1867, começaram a viver em comunidade na Casa Imaculada, próxima da paróquia. O grupo era incentivado e acompanhado por dom Pestarino. Maria Domingas não sabia para onde a conduzia o Senhor, mas confiou n'Ele, escolheu o caminho da radicalidade evangélica expressa na fidelidade ao quotidiano e na alegria do coração apaixonado por Cristo.
Algo estava para acontecer e, mais uma vez, mudou a sua vida, ou melhor, ampliou os seus horizontes de mulher educadora apaixonada. Em outubro de 1864, Dom Bosco foi, pela primeira vez, a Mornese. Era o primeiro encontro entre os dois "Santos dos jovens". Maria Domingas percebeu de imediato a santidade daquele sacerdote: «Dom Bosco é um santo e eu sinto-o!»9 A Dom Bosco, certamente, não passou despercebido aquele grupo das Filhas da Imaculada e o bem que elas estavam a realizar às meninas da terra. E, quando se tratou de fundar um instituto religioso, dedicado à educação das jovens, Dom Bosco escolheu, precisamente daquele grupo, as primeiras pedras da futura obra.
Quando Maria Domingas ouviu a sua proposta, não hesitou: pronunciou, imediatamente, sem hesitar, o seu sim e tornou-se Co-fundadora do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). No dia 5 de agosto de 1872, Maria Domingas Mazzarello e dez das suas companheiras deram início ao novo Instituto, consagrando-se a Deus com votos religiosos. Ela tinha 35 anos; era uma mulher adulta. A sua paixão apostólica pela salvação das jovens, em poucos anos alcançou as dimensões do mundo. Viveu os últimos nove anos numa intensa maternidade espiritual e sem nunca perder a juventude do espírito.
Ir. Eliane Anschau Petri (FMA)
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1 Para mais informações, pode ser útil refletir sobre a “missão” de Maria Domingas Mazzarello em relação aos jovens cf ANSCHAU PETRI Eliane, A santidade de Maria Domingas Mazzarello. Hermenêutica teológica dos testemunhos nos processos de canonização e beatificação, Roma, LAS 2018, 300-311.
2 MACCONO Ferdinando, Santa Maria Domingas Mazzarello. Cofundadora e primeira Superiora Geral das Filhas de MariaAuxiliadora, vol. I, Turim, Instituto FMA 1960, 17.
3 A “docibilitas” é a capacidade da mente e do coração de se deixar formar pela vida ao longo de toda a existência. Esta atitude permite viver cada dia e cada relação, cada idade e estação, cada acontecimento e circunstância, mesmo as inéditas ou que parecem adversas, como tempo e oportunidade de formação (cf CENCINI Amedeo, A árvore da vida. Para um modelo de formação inicial e permanente, Cinisello Balsamo [Milão], São Paulo 2005, 125).
4 Cf POSADA María Esther, História e santidade. Influência do teólogo Giuseppe Frassinetti sobre a espiritualidade de Santa Maria Domingas Mazzarello, Roma, LAS 19922, 107.
5 A Associação das Filhas da Imaculada surgiu da intuição de uma outra jovem mornesina: Ângela Macanho (Mornese 1830-1890) oriunda de uma família abastada. Foi a primeira professora municipal da aldeia, completando a sua formação em Génova. Naquela cidade conheceu José Frassinetti, que se tornou seu diretor espiritual. Distinguiu-se pela sua dedicação apostólica e pela espiritualidade mariana. Em 1851 ela teve a inspiração de iniciar em Mornese a Pia União das Filhas da Imaculada e escreveu o primeiro esboço da Regra. Frassinetti compilou, com base nesse "esboço", uma Regra, que publicou em 1856 e reelaborou em 1863. A Macanho foi a primeira Superior da Pia União de Mornese. Morreu em conceito de santidade a 16 de janeiro de 1890. Dom Domenico Pestarino foi promotor e guia espiritual desta Associação.
6 Expressão presente na fórmula de consagração das Filhas da Imaculada estabelecida pela Regra (cf FRASSINETTI José, Regra da Pia União das Filhas de Santa Maria Imaculada, in ID., Obras ascéticas, vol. II, ao cuidado de Giordano Renzi, Roma, Postulação Geral dos Filhos de S. Maria Imaculada 1978, 69).
7 Cronistoria I 93.
8 Ivi 96.
Fonte: cgfmanet.org/pt

Nascimento: 12/10/1880
Beatificado: 14/04/2002
No dia 9 de abril de 2022, o Santo Padre Francisco recebeu em Audiência, Sua Emcia. Revma. Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos. Durante a audiência, o Sumo Pontífice autorizou a mesma Congregação a promulgar o Decreto relativo ao milagre atribuído à intercessão do Bem-Aventurado Artêmide Zatti, Leigo Professo da Sociedade Salesiana de São João Bosco, nascido em 12 de outubro de 1880 em Boretto (Itália) e falecido em 15 de março de 1951 em Viedma (República Argentina). Com este ato do Santo Padre, se abre, portanto, o caminho para a Canonização do Bem Aventurado Artemide (Artêmides) Zatti SDB. A data da Canonização será decidida pelo Sumo Pontífice no decorrer de um Consistório ordinário.
Artemide (Artêmides) Zatti nasceu em Boretto (Reggio Emilia), Itália, no dia 12 de outubro de 1880. Experimentou muito cedo a dureza do sacrifício, pois já aos nove anos devia ajudar nos trabalhos do campo. Nos inícios de 1897, obrigada pela pobreza, a Família Zatti teve de migrar para a Argentina, estabelecendo-se em Bahía Blanca, onde o jovem Artêmides começou a frequentar a paróquia dirigida pelos Salesianos, achando no Pároco – Pe. Carlos Cavalli, pessoa afável e pia, e de uma bondade extraordinária – o seu diretor espiritual. Foi ele quem o orientou para a vida salesiana.
Artêmides já contava 20 anos quando entrou para o aspirantado de Bernal e, ao dar assistência a um jovem sacerdote afeto de tuberculose, contraiu a mesma doença. O interesse paterno do Pe. Cavalli – que o seguia de longe – fez com que lhe escolhessem a Casa salesiana de Viedma, onde o clima era mais adaptado e sobretudo porque havia um hospital missionário, com um muito capaz enfermeiro salesiano que praticamente fazia de “médico”: o Pe. Evasio (Evásio) Garrone. Este convidou Artêmides a rezar a Nossa Senhora Auxiliadora para obter a cura, sugerindo-lhe fazer uma promessa nestes termos: “Se Ela o curar, você vai se dedicar por toda a vida a estes doentes”. Artêmides não pensou duas vezes: fez a promessa e misteriosamente sarou. Ele diria depois: “Acreditei. Prometi. Sarei!”. O seu caminho já estava traçado com clareza e ele o empreendeu com entusiasmo. Aceitou, com humildade e docilidade, o não pequeno sofrimento de renunciar ao sacerdócio, vivendo em plenitude e com alegria a vocação de Salesiano Coadjutor (ou Irmão). Fez a primeira Profissão religiosa como Salesiano Leigo no dia 11 de janeiro de 1908 e a Profissão perpétua no dia 8 de fevereiro de 1911. Coerentemente com sua promessa a Nossa Senhora, devotou-se imediata e totalmente ao Hospital, cuidando, num primeiro momento, da farmácia anexa. A seguir, quando em 1913 morreu o Pe. Garrone, teve de arcar com toda a responsabilidade pelo Hospital: tornou-se de fato vice-diretor, administrador e enfermeiro especialista, estimado por todos os doentes e pelo mesmo pessoal sanitário, o qual lhe deixava cada vez mais liberdade de ação.
Seu serviço não se limitava ao hospital: estendia-se a toda a cidade; ou melhor, às duas localidades situadas às margens do Rio Negro: Viedma e Patagones. Em caso de necessidade, desabalava a qualquer hora do dia ou da noite, com qualquer tempo, chegando aos tugúrios da periferia, e tudo fazendo gratuitamente. A sua fama de enfermeiro santo se difundiu por todo o Sul; e de toda a Patagônia lhe chegavam doentes. Não era raro o caso de doentes preferirem a consulta do enfermeiro santo àquela dos médicos de plantão.
Artêmides Zatti amava os seus doentes de modo realmente comovente. De tal forma via neles o mesmo Jesus Cristo que quando pedia às religiosas roupas para um menino recém-chegado, dizia: “Oi, Irmã, teria aí uma roupinha para um Jesus de 12 anos?”. A sua atenção aos doentes era tal que chegava a delicados matizamentos. Há quem lembre de o ter visto levar aos ombros, para a câmara mortuária, o corpo de um residente, falecido durante a noite, para o subtrair da vista dos demais enfermos: e o fazia rezando o Salmo 130. Fiel ao espírito salesiano e ao lema – “trabalho e temperança” – deixado por Dom Bosco a seus jovens, desempenhou uma atividade prodigiosa com habitual prontidão de ânimo, com heroico espírito de sacrifício, com absoluta indiferença perante qualquer satisfação pessoal, sem nunca tirar férias, ou descansar. Houve quem dissesse que os únicos cinco dias de descanso que ele tirou foram os passados na... prisão! Sim, conheceu também a prisão: por causa da fuga de um preso residente no Hospital, fuga que se lhe quis atribuir a ele. Deixou a prisão absolvido e sua volta para casa foi mais que triunfal.
Era pessoa de fácil relacionamento humano, com visível carga de simpatia, feliz de poder deter-se e papear com a gente humilde. Mas foi sobretudo um homem de Deus: irradiava-O! Um médico do hospital, praticamente incrédulo, diria depois: “Quando via o Sr. Zatti, a minha incredulidade vacilava!”. E outro: “Eu creio em Deus desde o dia em que conheci o Sr. Zatti”.
Em 1950 o incansável enfermeiro caiu de uma escada: foi nessa ocasião que se manifestaram os sintomas de um tumor maligno que ele mesmo lucidamente diagnosticou. Continuou, entretanto, a cumprir sua promessa por mais um ano, até que, depois de sofrimentos heroicamente aceitos, foi-se apagando, também lucidamente, em 15 de março de 1951, cercado pelo afeto e a gratidão de toda a população.
Foi declarado Venerável em 7 de julho de 1997 e Bem-Aventurado (ou Beato) por São João Paulo II na Praça de São Pedro, no dia 14 de abril de 2002.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 21/08/1567
Beatificado: 08/01/1661
Canonizado: 08/04/1665
Celebração litúrgica: 24/01
São Francisco de Sales nasceu no castelo de Sales (Alta Saboia francesa) no dia 21 de agosto de 1567. Estudou filosofia e teologia em Paris e formou-se em direito civil e eclesiástico em Pádua. Foi ordenado sacerdote no dia 18 de dezembro de 1593 e ofereceu-se ao bispo para reconduzir os calvinistas do Chablais de volta à fé católica. Eleito bispo de Genebra no dia 8 de dezembro de 1602, mesmo residindo em Annecy, desenvolveu uma ampla pregação e implementou as reformas do Concílio de Trento. De espírito nobre, agudo, humanista e culto, foi um grande diretor espiritual: abriu a todos os caminhos da santidade (Filoteia ou Introdução à Vida Devota), mostrando a essência da vida espiritual no amor de Deus (Teótimo ou Tratado do Amor de Deus). Intuiu a importância da imprensa, como homem de ação, estabeleceu em Thonon uma Academia que reunia as mentes mais brilhantes, para aprofundamento da ciência e iniciação dos jovens na formação profissional. Ele, com Santa Joana de Chantal, também fundou e dirigiu a Ordem da Visitação. Morreu em Lião, no dia 28 de dezembro de 1622. A trasladação do seu corpo para Annecy (24 de janeiro de 1623) está na origem da data da sua comemoração depois do Concilio Vaticano II.
Foi beatificado em 1661, canonizado por Alexandre VII em 1665, proclamado Doutor da Igreja por Pio IX em 7 de julho de 1877 e nomeado patrono dos jornalistas e escritores católicos em 26 de janeiro de 1923, por Pio XI. No seu apostolado, Dom Bosco se inspirou em São Francisco de Sales, por sua amorável bondade e humanidade, tomando-o Patrono e dando o seu nome a sua Congregação, chamando-a “Pia Sociedade de São Francisco de Sales”.
Algumas passagens, retiradas de suas obras-primas, podem nos ajudar a enquadrar sua figura.
Na Filoteia, ou “Introdução à vida devota”, escreveu com ironia: “As pessoas comuns difamam a devoção e dizem que os devotos são tristes, mal-humorados, insinuando que a devoção os torna melancólicos e insuportáveis. Todavia, de acordo com Josué e Caleb, que asseguraram que a terra prometida era fértil e bela e sua posse útil e agradável, o Espírito Santo, pela boca de todos os santos, e Nosso Senhor, com sua Palavra, nos assegura que a vida devota é suave, aprazível e ditosa”.
As numerosas Cartas, que revelam o íntimo do coração deste santo, referem-se à amizade de uma forma maravilhosa, precisamente porque ele tem como fonte Deus. No Teótimo, ou “Tratado sobre o amor de Deus”, ele mostra um coração que é, antes de tudo, totalmente apaixonado por Deus, ou melhor, conquistado em todas as suas fibras pela benevolência do Senhor e apaixonado pela Mãe de Deus. “As sagradas chamas da Virgem, não podendo morrer, nem diminuir, nem permanecer as mesmas, nunca deixaram de crescer imensamente até o céu, lugar de sua origem; de modo que esta Mãe é ‘a Mãe do belo Amor’, isto é, a mais amável e mais amorosa, e a mais amorosa como a mais amada Mãe daquele único Filho, que é também o mais amável, o mais amante e o mais amado Filho dessa única Mãe”.
Bento XVI faz o seguinte comentário sobre o santo: “São Francisco de Sales é uma testemunha exemplar do humanismo cristão; com seu estilo familiar, com parábolas que às vezes têm as asas da poesia, ele recorda que o homem traz inscrita no profundo de si mesmo a saudade de Deus, e que somente nele encontra a alegria autêntica e a sua realização mais completa”.
Confira a página preparada pela Rede Salesiana Brasil em comemoração aos 400 anos de São Francisco de Sales e acesse diversos materiais gratuitos. Clique aqui.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 08/06/1903
Beatificado: 15/05/1983
Canonizado: 01/10/2000
Celebração litúrgica: 25/02
Calisto Caravario, uma vida toda refulgente do alvorecer ao crepúsculo, toda voltada para o ideal de um sacerdócio santo e coroada pelo martírio aos vinte e seis anos e nove meses de vida. Calisto Caravario nasceu em Cuorgné, Piemonte, em 8 de junho de 1903, de uma família operária que se transferiu para Turim quando Calisto tinha apenas cinco anos. Desde a mais tenra idade Calisto foi atraído pelo ideal do sacerdócio, que depois amadureceu no ambiente salesiano de Turim, no oratório “São José”, na escola elementar do colégio de “São João Evangelista” e no ginásio do Oratório de Valdocco. Em 19 de setembro de 1919, emitiu os votos religiosos na Congregação de Dom Bosco. Completou, em seguida, os estudos clássicos no Liceu Valsalice de Turim, onde estava a sepultura do Fundador (1919-1923). Em outubro de 1922, conheceu Dom Versiglia, em passagem por Turim, a quem revelou: “Eu o seguirei na China”. Realmente, em outubro de 1924, aos 21 anos, o clérigo Caravario partiu como missionário para a China. Esteve três anos em Xangai (1924-1927) e dois na ilha de Timor (1927-1929), como assistente e catequista dos meninos órfãos ou abandonados. Enquanto isso, estudava teologia. No quadriênio de estudos teológicos (1925-1929), o ideal do sacerdócio preencheu toda a sua alma. As 82 cartas, escritas à sua mãe nesse período, transbordam desse anseio: ser sacerdote, sacerdote santo para levar as almas a Deus; nelas se pode admirar todo o seu amor por Deus, pelo qual estava pronto para qualquer coisa, também para o sacrifício supremo da vida: “Agora o teu Calisto não é mais teu, deve ser completamente do Senhor, dedicado completamente ao seu serviço! [...] O meu sacerdócio será breve ou longo? Não o sei; o importante é que eu faça o bem e que, apresentando-me ao Senhor, possa dizer de ter feito frutificar, com a sua ajuda, as graças que Ele me deu”. Durante o período em Timor, à sede de santidade acrescenta-se o desejo ardente de sacrificar a vida pela salvação das almas e o pressentimento do martírio. Apresentar-se-á ao Senhor com os seus frutos já no ano seguinte, sacerdote há oito meses.
Em 18 de maio de 1929, Calisto foi consagrado sacerdote por dom Luís Versiglia em Shiu-Chow (Cantão). Logo depois foi enviado à sede missionária de Lin-Chow, onde suscitou admiração dos coirmãos Salesianos e dos fiéis cristãos pelas virtudes sacerdotais e o zelo apostólico. Depois de sete meses de trabalho missionário em Lin-Chow (julho de 1929 a janeiro de 1930), Pe. Caravário desceu a Shiu-Chow, centro do vicariato, para acompanhar dom Versiglia, que iria fazer a visita pastoral em Lin-Chow. Dom Luís Versiglia e o Pe. Calisto Caravário partiram de trem em 24 de fevereiro, com duas alunas do colégio “Dom Bosco”, que retornavam à casa para as férias, duas de suas irmãs e uma catequista-professora. A situação político-social era turbulenta devido às contínuas guerrilhas que atormentavam os territórios do sul da China; o bispo esperava tempos melhores para a visita pastoral aos cristãos de Lin-Chow, mas depois partiu assim mesmo porque “se esperarmos que as estradas estejam seguras, não partiremos nunca... Não, não, ai de nós se prevalecer o medo! Seja o que Deus quiser!”. No dia 25, continuaram a viagem de barco pelo rio Pak-kong. Depois, uma breve parada em Ling Kong How. Ao meio-dia navegam novamente pelo rio, na direção de Li Thau Tzeui. Estão a recitar o Angelus, quando improvisamente um grito selvagem explode na margem. Uma dezena de homens, com fuzis apontados, intimam à embarcação que atraque na margem. O barqueiro é obrigado a obedecer. “Com qual proteção viajam?”, perguntam-lhe; o barqueiro: “De ninguém; isso nunca foi obrigatório para os missionários”. Dois homens sobem ao barco e descobrem, sob um abrigo, as três mulheres, que querem levar com eles, mas Dom Luís e o Pe. Calisto defendem-nas, criando uma barreira. Os criminosos, gritando, dão violentas coronhadas em seus corpos, que caem por terra. O bispo tem a força de exortar a Maria Thong: “Aumenta a tua fé”, enquanto o Pe. Calisto murmura: “Jesus... Maria!”. Os missionários são amarrados e arrastados para um bosque. Um dos bandidos afirma: “É preciso destruir a Igreja Católica”. Dom Luís e Pe. Calisto compreendem que chegou o momento de testemunhar a fé em Cristo com a vida. Estão serenos. Põem-se a rezar em voz alta, ajoelhados e olhando para o alto. Cinco tiros de fuzil interrompem o seu louvor estático. As mulheres, chorando, tiveram que acompanhar seus agressores, enquanto os jovens foram obrigados a ir embora sem olhar para trás. Os despojos dos mártires foram recolhidos e sepultados em Shiu-Chow, depois desenterrados e dispersos. O Papa Paulo VI, em 1976, declarou Dom Versiglia e Pe. Caravário mártires; João Paulo II, em 15 de maio de 1983, beatificou-os e em 1º de outubro de 2000 proclamou-os santos com outros 120 mártires chineses.
Confira algumas imagens de São Calisto Caravário clicando aqui.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 05/06/1873
Beatificado: 15/05/1983
Canonizado: 01/10/2000
Celebração litúrgica: 25/02
Em 1885, São João Bosco revelara aos Salesianos reunidos em San Benigno Canavese, Piemonte, que sonhara com uma multidão de jovens caminhando ao seu encontro: “Nós te esperávamos há muito tempo!”; em outro sonho, viu elevar-se ao céu dois grandes cálices, um cheio de suor e o outro, de sangue. Quando em 1918, um grupo de missionários salesianos partiu de Valdocco, Turim, para Shiu-Chow no Kwang-tung, China, o Reitor-Mor, Pe. Paulo Albera, deu-lhes o cálice com que celebrara as bodas de ouro de consagração e os 50 anos do santuário de Maria Auxiliadora. O precioso e simbólico presente foi entregue pelo Pe. Sante Garelli ao Pe. Versiglia, que declarou: “Dom Bosco viu que quando, na China, um cálice estivesse cheio de sangue, a Obra salesiana seria difundida admiravelmente entre este povo imenso. Tu me trazes o cálice visto pelo Pai: a mim [cabe] enchê-lo de sangue para a realização da visão”.
Luís Versiglia nasceu em Oliva Gessi, província de Pavia, em 5 de junho de 1873. Em 1885, aos doze anos, aceitou ir estudar no Oratório de Valdocco, em Turim, com a condição de não se fazer padre. Contudo, a graça de Deus, o ambiente saturado de religiosidade e ardor missionário, o fascínio de Dom Bosco em seus últimos anos de vida, transformaram o espírito do jovem que, num fugaz encontro em 1887 ouviu do santo: “Vem encontrar-me, tenho algo a dizer-te”; mas Dom Bosco não pôde mais conversar com Luís devido à doença e morte. O jovem, porém, permaneceu ligadíssimo à figura de Dom Bosco tanto que, para responder ao chamado vocacional, no final dos estudos em Valdocco, fez o pedido para “ficar com Dom Bosco” trazendo no coração a secreta esperança de um dia ser missionário. Aos 16 anos, emitiu os votos religiosos na Congregação Salesiana.
Foi noviço modelo em Foglizzo, província de Turim, e fez a profissão religiosa em 11 de outubro de 1889. Enquanto estudava filosofia em Valsalice, Turim (1889-1890), escreveu ao diretor espiritual que o desejo de ser missionário aumentava a cada dia, mas temia que fosse um desejo fantasioso, porque não possuía as virtudes necessárias, e especificava o que ainda deveria obter. Inicia aqui o caminho ascético, que em quarenta anos o levará aos vértices mais elevados das virtudes cristãs e ao ápice da caridade. Foi a conquista árdua de um coração generoso e de uma vontade inflexível, sustentada pela piedade sincera e pela profunda humildade. São os dotes característicos da sua personalidade.
Frequentando a Universidade Gregoriana de Roma (1890-1893) une o estudo ao apostolado entre os meninos do oratório salesiano do Sagrado Coração, com sucessos auspiciosos num e noutro campo. Os meninos queriam-lhe bem e os coirmãos admiravam-no pelas suas belas qualidades. Ele, porém, profunda e sinceramente humilde, acreditava ser o último entre os companheiros de estudo e continuava a esforçar-se para adquirir as virtudes necessárias ao bom missionário. Obtida a láurea em Filosofia (1893), os Superiores confiaram-lhe o delicado trabalho de professor e assistente dos noviços em Foglizzo (1893-1896). Foi professor claro e límpido, assistente atento e, a seu tempo, também severo, plasmador eficaz de caracteres, mas sempre afável, humilde, bom amigo de todos e o mais estimado entre os coirmãos da casa.
Após a ordenação sacerdotal (21 de dezembro de 1895), foi escolhido como diretor e mestre dos noviços na nova casa de Genzano, província de Roma, apesar das suas resistências por se sentir incapaz, dada também a jovem idade de 23 anos. Foi por dez anos (1896-1905) um ótimo formador de almas religiosas e sacerdotais, estimado e amado como um pai. Muitas dezenas de Salesianos testemunharam a veneração que tinham pelo seu caro mestre; também os moradores de Genzano o recordaram por muitos anos. Durante esse decênio, Pe. Versiglia continuou a manter vivo o desejo das missões e, retomando uma prática juvenil, exercitou-se até mesmo em andar a cavalo, acreditando que fosse útil para a vida missionária. Quando, no verão de 1905, lhe veio o convite para dirigir o primeiro grupo de missionários Salesianos à China, ele o acolheu com entusiasmo, como o maior presente, aquele que pedira ao Senhor e preparara com o intenso trabalho interior desde o dia em que, aos quinze anos, escolhera “ficar com Dom Bosco”.
Pe. Versiglia encontrou em Macau um pequeno orfanato de propriedade do bispo local. Em 12 anos de trabalho, com a ajuda de uma dúzia de coirmãos e num terreno maior, transformou-o numa moderna escola profissional para 200 alunos internos, órfãos em sua maioria, que eram iniciados numa profissão. Em 1911, ajudado por outro Salesiano santo, Pe. Luís Olive (falecido prematuramente aos 52 anos devido à cólera contraída no ministério), o Pe. Versiglia iniciou a missão de Heungshan, região entre Macau e Cantão. Seu zelo apostólico pela salvação das almas alcançou cumes heroicos entre os doentes de peste bubônica e os hansenianos.
Em 1918, a Santa Sé confiou aos Salesianos a nova missão de Shiu-Chow ao norte do Kwang-tung. Pe. Versiglia foi designado pelos superiores de Turim para organizar a missão com a ajuda de uma dezena de sacerdotes, enviados da Itália. Em 1920, a missão foi erigida como vicariato apostólico e logo correu a voz de que o Pe. Versiglia seria eleito Vigário e consagrado Bispo. Ele escreveu cartas dolorosas aos superiores de Turim, declarando a própria absoluta incapacidade e implorando que o exonerassem daquele cargo. Porém, Dom De Guébriant declarava publicamente que, se a escolha fosse feita pela voz do povo, até as mais tenras crianças teriam aclamado o Pe. Versiglia como pai e pastor. Consagrado bispo em Cantão no dia 9 de janeiro de 1921, Dom Versiglia acrescentou aos trabalhos do ministério pastoral no vastíssimo território sem estradas, ásperas penitências, que chegavam à flagelação cruenta. Em 1926, a convite dos superiores de Turim, participou do Congresso Eucarístico de Chicago. Uma grave operação cirúrgica reteve-o por um ano nos Estados Unidos. Quando a saúde permitia, ocupava-se também com a propaganda missionária, deixando sempre uma extraordinária impressão.
Retornando a Shiu-Chow, os coirmãos fizeram-no encontrar uma novidade: a residência episcopal. Era uma casa graciosa de estilo chinês, não rica, construída ao lado do instituto Dom Bosco, onde o bispo sempre habitara em dois pequenos quartos perturbados pelas movimentações dos mais de 300 alunos. A nova construção parecia-lhe um luxo e recusou categoricamente o nome de residência episcopal. Resignou-se a morar nela, desde que se chamasse e fosse realmente “Residência do missionário”, onde pudessem hospedar-se os missionários doentes e os que estavam de passagem ou viessem para reuniões.
Em 12 anos de missão, de 1918 a 1930, Dom Versiglia conseguiu realizar prodígios numa terra hostil aos católicos: criou 55 estações missionárias primárias e secundárias em relação às 18 que encontrou, ordenou 21 sacerdotes, formou 2 religiosos leigos, 15 irmãs locais e 10 estrangeiras, deixou 31 catequistas (18 mulheres), 39 professores (8 mulheres) e 25 seminaristas. Levou ao Batismo três mil cristãos convertidos, diante dos 1.479 que encontrou à sua chegada. Criou um orfanato, uma casa de formação para as catequistas, uma escola para os catequistas; o Instituto Dom Bosco, compreendendo algumas escolas profissionais, complementares e de magistério para os jovens; o Instituto “Maria Auxiliadora”, para as meninas; um asilo para idosos; um internato para crianças abandonadas; dois ambulatórios e a Residência do Missionário, como desejava que fosse chamada a residência episcopal. O bispo não se detinha diante de nada, nem das carestias, das epidemias, das derrotas que se apresentavam diante dele e de seus colaboradores, nem sempre humanamente recompensados: apostasias, calúnias, abandonos, incompreensões, fraquezas... Tudo era superado graças à oração intensa e constante. Nos anos dedicados à China, Dom Versiglia jamais se cansou de exortar os seus sacerdotes ao diálogo com o Senhor e com a Virgem Maria. Não por acaso correspondia-se com as monjas carmelitas de Florença, pedindo delas apoio espiritual.
A situação política da China não era tranquila: a nova República Chinesa, surgida em 10 de outubro de 1911, com o general Chang Kai-shek, trouxera a unidade à China, vencendo em 1927 os “senhores da guerra” que tiranizavam várias regiões. Contudo, a pesada infiltração comunista na nação e no exército, sustentada por Stalin, persuadira o general a apoiar-se na direita e declarar fora da lei os comunistas (abril de 1927); por isso, recomeçara a guerra civil. A província de Shiu-Chow, localizada entre o Norte e o Sul, era lugar de passagem ou de permanência dos vários grupos que combatiam entre si e, por isso, eram comuns os furtos, incêndios, violências, crimes, sequestros. Era também difícil distinguir, nos bandos de saqueadores, os soldados dispersos, os mercenários, os assassinos pagos, os piratas que se aproveitavam do caos. Naqueles tristes tempos também os estrangeiros arriscavam a vida e eram classificados com desprezo como “diabos brancos”. Os missionários, em geral, eram amados pelo povo mais pobre, e as Missões eram refúgio nos momentos de saque. Os mais temíveis, porém, eram os piratas, que não respeitavam ninguém, e os soldados comunistas para quem a destruição do cristianismo era um projeto. Por isso, nas viagens necessárias para as atividades missionárias às várias e espalhadas aldeias, os catequistas e as catequistas, as professoras e as meninas, só se punham em viagem acompanhados pelos missionários.
Devido ao perigo das estradas de terra e dos rios, também dom Luís Versiglia ainda não pudera visitar os cristãos da pequena missão de Lin-Chow, composta por duas pequenas escolas e duzentos fiéis na devastada cidade de 40 mil habitantes, conturbada pela guerra civil. Contudo, em fins de janeiro de 1930, convenceu-se de que devia partir. Nos primeiros dias de fevereiro chegou ao centro salesiano de Shiu-Chow o jovem missionário Pe. Calisto Caravário, de 26 anos, responsável pela missão de Lin-Chow para acompanhar Dom Versiglia na viagem. Preparadas as provisões, tanto para a viagem prevista de oito dias como para as necessidades da pequena missão, na manhã de 24 de fevereiro deu-se a partida do grupo por trem; o grupo era formado por Dom Versiglia, Pe. Caravário, dois jovens professores diplomados no Instituto Dom Bosco (um cristão e outro pagão), suas duas irmãs Maria, de 21 anos (professora) e Paula, de 16 anos (que deixando os estudos, voltava à família) e a catequista Clara, de 22 anos. Depois de uma parada noturna na casa salesiana de Lin-Kong-How, em 25 de fevereiro, tomaram o barco que devia subir pelo rio Pak-kong até Lin-Chow; acrescentou-se ao grupo uma catequista idosa, que iria ajudar a jovem Clara, e um menino de 10 anos, que ia para a escola do Pe. Caravário. O grande barco era conduzido por quatro barqueiros e, subindo o rio, pelo meio-dia, avistaram na margem algumas fogueiras avivadas por uma dezena de homens que, quando o barco chegou à sua altura, intimaram que se aproximassem e parassem. Perguntaram aos barqueiros, apontando fuzis e pistolas, quem estavam transportando, e sabendo que se tratava do bispo e de um missionário, disseram: “Não podem levar ninguém sem a nossa proteção. Os missionários devem pagar-nos 500 dólares ou serão todos fuzilados”. Os missionários tentaram fazê-los entender que não tinham tanto dinheiro, mas os piratas subindo no barco descobriram as meninas escondidas numa espécie de barraca na popa, e gritaram: “Vamos levar suas mulheres embora!”. Os missionários disseram que não eram suas mulheres, mas alunas acompanhadas às suas casas; ao mesmo tempo, com seus corpos, tentavam bloquear a entrada do barco. Os piratas, então, ameaçaram pôr fogo no barco, levando feixes de lenha de um barco próximo, mas a lenha era fresca e não se acendeu logo, enquanto os missionários conseguiam apagar as primeiras chamas. Enfurecidos, os piratas pegaram galhos mais grossos e bateram nos dois missionários. Depois de muitos minutos o bispo, de cinquenta e sete anos, caiu e, depois de alguns minutos, também o Pe. Caravário caiu pesadamente; a esta altura, os criminosos atacaram as mulheres arrastando-as à margem entre seus prantos desesperados. Os dois missionários também foram levados à terra. Os barqueiros, com a velha catequista, o menino e os dois irmãos das jovens foram liberados para irem embora; estes, depois, avisaram os missionários e as autoridades, que mandaram grupos de soldados.
Entretanto, consumava-se a tragédia na margem do rio. Os dois Salesianos amarrados confessaram-se um ao outro, exortando as três jovens a serem fortes na fé; em seguida, os piratas fizeram-nos caminhar por uma pequena estrada ao longo do Shiu-pin, pequeno afluente do Pak-kong, na região de Li Thau Seui. Dom Versiglia implorou-lhes: “Eu sou velho, matem-me; mas ele é jovem, poupem-no”. As mulheres, enquanto eram empurradas, ouviram cinco tiros de fuzil e, dez minutos depois, os executores voltaram dizendo: “São coisas inexplicáveis; já vimos de tudo... todos temem a morte. Estes dois, porém, morreram contentes, e estas jovens não desejam outra coisa senão morrer”. Era o dia 25 de fevereiro de 1930. As jovens foram arrastadas para a montanha, ficando ao léu dos bandidos por cinco dias. Em 2 de março, os soldados chegaram ao covil dos bandidos que, depois de breve embate a fogo fugiram deixando livres as jovens, que se tornaram testemunhas preciosas e atendíveis do martírio dos dois missionários salesianos.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 02/04/1842
Beatificado: 05/03/1950
Canonizado: 12/06/1954
Celebração litúrgica: 06/05
Domingos Sávio nasce no povoado de San Giovanni, distrito de Riva di Chieri em Turim, na Itália, em 2 de abril de 1842, o segundo filho de Carlos e Brígida Gaiato, entre os 10 irmãos. O pai vem de Ranelle, povoado de Castelnuovo d’Asti (hoje Castelnuovo Dom Bosco) e exerce a profissão de ferreiro; a mãe é originária de Cerreto d’Asti e é costureira. Domingos é batizado no mesmo dia do nascimento na igreja paroquial de Riva di Chieri, como resulta da certidão de Batismo assinada pelo pároco Pe. Vicente Burzio. Em novembro de 1843, a família de Sávio transfere-se para Morialdo, povoado de Castelnuovo d’Asti, a cerca de um quilômetro dos Becchi, onde está a casa de Dom Bosco. Lá, Domingos passa uma infância serena, rica de afeto e dócil aos ensinamentos religiosos dos pais, profundamente cristãos. Etapa fundamental do seu extraordinário itinerário de santidade é a Primeira Comunhão, à qual é admitido excepcionalmente aos 7 anos de idade. Daquele evento são conhecidos os “Propósitos”:
“1º Confessar-me-ei com muita frequência e farei a comunhão sempre que o confessor me der licença; 2º Quero santificar os dias festivos; 3º Os meus amigos serão Jesus e Maria; 4º A morte, mas não o pecado”.
Estes propósitos, que Domingos renovará todos os dias da vida e que marcarão a existência de muitos outros jovens santos, já exprimem um grande nível de santidade, a ação da Graça, que Dom Bosco mesmo reconhecerá, valorizará e orientará.
Domingos cresce e quer aprender. Vai à escola com muito empenho: cerca de 15 quilômetros, todos os dias, sozinho, por estradas inseguras: “Meu caro, não temes caminhar sozinho por estas estradas?”, pergunta-lhe um colega. “Eu não estou sozinho, tenho o anjo da guarda que me acompanha em todos os passos”. Certa manhã de inverno, na escola, enquanto esperam pelo professor, os colegas enchem a estufa de pedras e neve. Ao professor, irado, os colegas dizem: “Foi Domingos!”. Ele não se desculpa, não protesta, e o professor castiga-o severamente, enquanto os outros riem. Mas, no dia seguinte, a verdade vem à tona. “Por que – pergunta-lhe o professor – não disseste logo que eras inocente?”. Domingos responde: “Porque aquele fulano, sendo já culpado de outras coisas, talvez fosse expulso da escola. Da minha parte, eu esperava ser perdoado sendo a primeira falta de que era acusado na escola; por outro lado, pensava também em nosso Divino Salvador, que foi caluniado injustamente”.
Em fevereiro de 1853, a família Sávio, por motivos de trabalho, vai morar em Mondonio, a cerca de 5 quilômetros de Morialdo. O professor de Mondonio, Pe. Cugliero, fora companheiro de Dom Bosco no seminário. Encontrando-o certo dia, falou-lhe de Domingos como de “um seu aluno digno de uma atenção especial pela inteligência e piedade. Aqui, em sua casa – dizia – pode haver jovens iguais, mas dificilmente haverá quem o supere em talento e virtude. Comprove isso e encontrará um São Luís”. Em 2 de outubro de 1854, por ocasião da festa de Nossa Senhora do Rosário, Domingos, com o pai, encontra Dom Bosco nos Becchi; é a etapa decisiva para o seu itinerário de santidade. Domingos pede a Dom Bosco para ser admitido no Oratório de Turim, porque deseja ardentemente estudar para ser padre. Dom Bosco fica impressionado: “Reconheci nele um caráter totalmente segundo o espírito do Senhor, e fiquei muito admirado considerando a ação que a Graça divina já operara naquele tenro coração”. E disse-lhe: “Pois é! Parece que há aqui um bom tecido”. Franco e decidido, utilizando como metáfora a profissão da mãe, Domingos respondeu: “Então, eu sou o tecido; o senhor seja o alfaiate; leve-me contigo e faça uma bela veste para Nosso Senhor”. Domingos chegou ao Oratório em 29 de outubro de 1854, ao final da mortal pestilência de cólera que dizimara a cidade de Turim.
Tornou-se logo amigo de Miguel Rua, João Cagliero, João Bonetti e José Bongiovanni com os quais se fazia acompanhar para ir à escola na cidade. Com toda probabilidade nada soube da “Sociedade Salesiana” sobre a qual Dom Bosco começara a falar a alguns de seus jovens em janeiro daquele ano. Em 8 de dezembro de 1854, enquanto em Roma o Papa Pio IX declarava “verdade de fé” à Imaculada Conceição de Maria Santíssima, Domingos ajoelhava se diante do altar da Mãe de Deus na igreja de São Francisco de Sales, consagrando-se solenemente a Ela: “Maria, eu vos dou o meu coração; fazei que seja sempre vosso. Jesus e Maria sereis sempre os meus amigos; mas, por piedade, fazei-me morrer antes que me aconteça a desgraça de cometer um só pecado”. Será nesta mesma circunstância que surgirá em seu coração o desejo de fundar aquela que, oficialmente constituída em 8 de junho de 1856, será a Companhia da Imaculada Conceição.
Domingos é alegre, amigo confiável de todos, especialmente de quem passa por dificuldades; assíduo e constante nos compromissos de estudo. Confidencia a Camilo Gavio, de Tortona, um de seus melhores amigos: “Fica sabendo que nós aqui fazemos consistir a santidade em estar muito alegres. Procuraremos apenas evitar o pecado, como o grande inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração, impede de cumprir exatamente com nossos deveres e frequentar as coisas de piedade. Começa desde hoje a escrever para te recordares: Servite Domino in laetitia, sirvamos o Senhor em santa
alegria”. Alegria que é expressão de uma vida vivida em profunda e íntima amizade com Jesus e Maria, sinal da ação renovadora do Espírito e de santidade alegre e contagiosa, que forma jovens apóstolos capazes de atrair as almas para Deus. Nesses meses, também se conecta com amizade espiritual a João Massaglia: “Ambos tinham a mesma vontade de abraçar o estado eclesiástico, com verdadeiro desejo de se fazerem santos”. Este pacto ajuda-os a alcançar grandes alturas de vida cristã, através da partilha de experiências espirituais e apostólicas, da prática da correção fraterna, da obediência aos superiores. “Quero que sejamos verdadeiros amigos”, dissera Domingos a João. E foram realmente “verdadeiros amigos para as coisas da alma”, dando início a uma escola de santidade juvenil caracterizada pela intensa vida de oração, pelo espírito de sacrifício, pela laboriosidade e pela alegre fecundidade apostólica. De João Massaglia, Dom Bosco testemunhou: “Se quisesse escrever os belos aspectos da virtude do jovem Massaglia, deveria repetir em grande parte as coisas ditas sobre Sávio, de quem foi fiel seguidor enquanto viveu”. Havia, no oratório, jovens magníficos, mas havia também aqueles que se comportavam mal e havia jovens que sofriam, com dificuldade nos estudos, levados pelas saudades de casa. A cada um procurava ajudar individualmente. Por que os jovens de maior boa vontade não poderiam unir-se numa “sociedade secreta”, para formar um grupo compacto de pequenos apóstolos na massa dos outros? Domingos, “guiado, então, pela habitual caridade industriosa, escolheu alguns dos seus fiéis companheiros e convidou-os para unir-se a ele a fim de formar uma companhia chamada da Imaculada Conceição”. Dom Bosco deu o seu consentimento: “Um dos que mais eficazmente ajudaram a Domingos Sávio na fundação e na redação do regulamento foi José Bongiovanni”. Das atas da Companhia conservadas no Arquivo Central Salesiano, sabe-se que os membros, que se reuniam uma vez por semana, eram dez: Miguel Rua (eleito presidente), Domingos Sávio, José Bongiovanni (eleito secretário), Celestino Durando, João Bonetti, Ângelo Sávio (clérigo), José Rocchietti, João Turchi, Luís Marcellino, José Reano, Francisco Vaschetti. Faltava João Cagliero que, convalescente depois de grave doença, estava na casa de sua mãe. O artigo conclusivo do regulamento, aprovado por todos e também por Dom Bosco dizia: “A sincera, filial, ilimitada confiança em Maria, a especial ternura por Ela e a devoção constante nos tornarão superiores a qualquer obstáculo, tenazes nas resoluções, rígidos conosco, amáveis com o nosso próximo e exatos em tudo”.
Os sócios da Companhia escolheram “cuidar” de duas categorias de meninos, que na linguagem secreta das atas foram chamados de “clientes”. A primeira categoria era formada pelos indisciplinados, os que facilmente falavam palavrões ou brigavam. Cada sócio assumia um deles e fazia-se de “anjo da guarda” pelo tempo necessário. A segunda categoria era a dos recém-chegados. Ajudavam a passar alegremente os primeiros dias, quando ainda não conheciam ninguém, não sabiam jogar, falavam apenas o dialeto do lugar de origem, tinham saudades. Vê-se nas atas o desenrolar de cada reunião: um momento de oração, alguns minutos de leitura espiritual, uma exortação recíproca a frequentar a Confissão e a Comunhão; “fala-se depois dos clientes confiados [a cada um]. Exorta-se à paciência e à confiança em Deus para com aqueles que pareciam totalmente surdos e insensíveis; à prudência e doçura para com os facilmente persuadidos”. Confrontando os nomes dos participantes da Companhia da Imaculada com os nomes dos primeiros “inscritos” na Pia Sociedade, tem-se a comovente impressão de que a “Companhia” fosse a “prova geral” da Congregação que Dom Bosco estava para fundar. Ela era o pequeno campo onde germinaram as primeiras sementes da inflorescência salesiana. A “Companhia” tornou-se o fermento do oratório.
Os poucos meses que Domingos viverá no Oratório são uma nova confirmação da sua deliberação de fazer-se santo, particularmente depois de ter ouvido uma pregação de Dom Bosco sobre o modo fácil de ser santo. “É vontade de Deus que todos nós sejamos santos; é muito fácil de consegui-lo; um grande prêmio está preparado no céu para quem se faz santo”. Para Domingos, aquela pregação foi como uma centelha que incendiou o seu coração e pôs-se logo a praticar os conselhos que Dom Bosco lhe deu: “Primeiramente, uma constante e moderada alegria, e aconselhando-o a ser perseverante na realização dos seus deveres de piedade e estudo, recomendei-lhe que não deixasse de participar sempre do recreio com seus colegas”. Quem percebeu a estatura moral e espiritual de Domingos foi Mamãe Margarida, que um dia confidenciou a Dom Bosco:
“Tens muitos jovens bons, mas nenhum supera o belo coração e a bela alma de Domingos Sávio”. E explicou: “Vejo-o sempre a rezar, permanecendo na igreja mesmo depois dos outros; deixa todos os dias o recreio para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento... Está na igreja como um anjo que mora no Paraíso”. E é graças ao amor à Eucaristia e à devoção a Maria que estes jovens vivem e compartilham uma intensa vida espiritual e mística, de radicalidade evangélica na obediência à vontade de Deus, no espírito de sacrifício, na fecundidade apostólica e educativa entre os colegas, sobretudo os mais difíceis ou marginalizados. Todavia, Domingos permaneceu com Dom Bosco só até 1º de março de 1857 quando, devido a uma enfermidade, que se apresenta logo muito séria, deve retornar à família, em Mondonio. Em poucos dias, embora com alguma esperança momentânea, a situação se precipita e a doença de Domingos se agrava. Morre serenamente em Mondonio no dia 9 de março de 1857, exclamando: “Ó, que bela coisa eu estou vendo...”. A presença de Maria marca toda a história deste jovem como Aquela que o acompanha na realização da graça do Pai e da sua missão. Embora muito jovem, a Igreja reconhece a sua santidade. O papa Pio XI definiu-o como “pequeno, ou melhor, grande gigante do espírito”. Ele realizou a verdade do seu nome: Domingos, “do Senhor”; e Sávio “sábio”; sábio, portanto, nas coisas do Senhor e qualificado pela exemplaridade e santidade de vida.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 15/01/1811
Beatificado: 03/05/1925
Canonizado: 22/06/1947
Celebração litúrgica: 23/06
O Papa Pio XI, em 1º de novembro de 1924, ao aprovar os milagres para a canonização de São João Maria Vianney e publicar o decreto de autorização para a beatificação de Cafasso, aproximou as duas figuras de sacerdotes com estas palavras: “Não sem uma especial e benéfica disposição da Divina Bondade assistimos ao surgimento no horizonte da Igreja Católica de novos astros, o pároco de Ars e o venerável servo de Deus José Cafasso. Justamente estas duas belas, caras, providencialmente oportunas figuras deviam ser-nos apresentadas hoje; pequena e humilde, pobre e simples, mas igualmente gloriosa a figura do pároco de Ars, e outra bela, grande, complexa, rica figura de sacerdote, mestre e formador de sacerdotes, o venerável José Cafasso”.
São circunstâncias que nos permitem conhecer a mensagem viva e atual que emerge da vida deste santo. Ele não foi pároco como o cura de Ars, mas foi, sobretudo, formador de párocos e de padres diocesanos, ou melhor, de padres santos, entre os quais São João Bosco. Como outros santos sacerdotes do século XIX piemontês, ele não fundou institutos religiosos, porque a sua “fundação” foi a “escola de vida e santidade sacerdotal” que realizou, com o exemplo e o ensinamento, no “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis” em Turim.
José Cafasso nasce em Castelnuovo d’Asti, a mesma cidade de São
João Bosco, em 15 de janeiro de 1811. É o terceiro de quatro filhos. A última irmã, Maria, será mãe do beato José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata. Nasce no Piemonte do século XIX caracterizado por graves problemas sociais, mas também por muitos santos que se empenhavam para remediá-los. Estavam ligados entre si pelo amor total a Cristo e por uma profunda caridade para com os pobres. Cafasso fez os estudos secundários e o biênio de filosofia no colégio de Chieri e, em 1830, passou ao Seminário teológico, onde em 1833 foi ordenado sacerdote. Quatro meses depois ingressou no lugar que será para ele a fundamental e única “etapa” da sua vida sacerdotal: o “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis” em Turim. Entrou nele para aperfeiçoar-se na pastoral e ali fez frutificar os próprios dotes de diretor espiritual e um grande espírito de caridade. O Colégio, de fato, não era apenas uma escola de teologia moral onde os jovens padres, vindos sobretudo do campo, aprendiam a confessar e pregar, mas era também uma verdadeira e própria escola de vida sacerdotal, onde os presbíteros se formavam na espiritualidade de Santo Inácio de Loiola e na teologia moral e pastoral do grande bispo Santo Afonso Maria de Ligório. O tipo de padre que Cafasso encontrou no Colégio e que ele mesmo contribuiu para reforçar – sobretudo como reitor – era o do verdadeiro pastor com uma rica vida interior e um profundo zelo na cura pastoral: fiel à oração, empenhado na pregação, na catequese, dado à celebração da Eucaristia e ao ministério da Confissão, segundo o modelo encarnado por São Carlos Borromeo e São Francisco de Sales e promovido pelo Concílio de Trento.
Uma feliz expressão de São João Bosco sintetiza o sentido do trabalho educativo naquela Comunidade: “No Colégio, aprendia-se a ser padre”. São José Cafasso procurou realizar este modelo na formação dos jovens sacerdotes para que, por sua vez, fossem formadores de outros padres, religiosos e leigos, como uma especial e eficaz corrente. Desde a sua cátedra de teologia moral, ele educava a ser bons confessores e diretores espirituais, preocupados com o verdadeiro bem espiritual da pessoa, animados por grande equilíbrio em fazer sentir a misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, um aguçado e vivo sentido do pecado. Eram três as principais virtudes de Cafasso docente, como recorda São João Bosco: tranquilidade, perspicácia e prudência. Para ele, a comprovação do ensinamento transmitido era constituída pelo ministério da confissão, à qual ele próprio dedicava muitas horas do dia. A ele recorriam bispos, sacerdotes, religiosos, leigos eminentes e gente do povo; a todos sabia conceder o tempo necessário. De muitos, que se tornaram santos e fundadores de institutos religiosos, ele foi, depois, sábio conselheiro espiritual. Seu ensinamento nunca era abstrato, baseado apenas nos livros utilizados no seu tempo, mas nascia da experiência viva da misericórdia de Deus e do profundo conhecimento do espírito humano adquiridos no longo tempo passado no confessionário e na direção espiritual; a sua era uma verdadeira escola de vida sacerdotal. Seu segredo era simples: ser um homem de Deus; fazer, nas pequenas ações cotidianas, “o que podia redundar na maior glória de Deus e em vantagem das almas”. Amava plenamente o Senhor, era animado por uma fé bem enraizada, sustentada pela profunda e prolongada oração e vivia uma sincera caridade para com todos.
Conhecia a teologia moral, mas também conhecia profundamente as situações e o coração do povo, de cujo bem se ocupava como o Bom Pastor. Todos os que tinham a graça de estar perto dele transformavam-se em outros tantos bons pastores e válidos confessores.
Indicava com clareza a todos os sacerdotes a santidade a alcançar no ministério pastoral. O Beato Pe. Clemente Marchisio, fundador das Filhas de São José, afirmava: “Entrei no Colégio sendo um bom moleque instintivo, sem saber o que significasse ser padre, e saí dele realmente diferente, entendendo plenamente a dignidade do sacerdote”. Muitos sacerdotes foram formados no Colégio e, depois, acompanhados espiritualmente por ele. Entre estes – como já foi dito – emerge São João Bosco, que o teve como diretor espiritual por 25 anos, de 1835 a 1860; primeiramente, como clérigo, depois como padre e, enfim, como fundador. Todas as opções fundamentais da vida de São João Bosco tiveram São José Cafasso como conselheiro e guia, mas de modo bem preciso: Cafasso jamais tentou formar em Dom Bosco um discípulo “à sua imagem e semelhança” e Dom Bosco não reproduziu Cafasso; imitou-o, certamente, nas virtudes humanas e sacerdotais – definindo-o “modelo de vida sacerdotal” –, mas segundo as próprias disposições pessoais e a própria vocação peculiar, sinal da sabedoria do mestre espiritual e da inteligência do discípulo; o primeiro não se impôs sobre o segundo, mas respeitou-o em sua personalidade e ajudou-o a ler a vontade de Deus sobre si. Com simplicidade e profundidade, o santo afirmava: “A santidade, a perfeição e o proveito de uma pessoa está em fazer com perfeição a vontade de Deus [...]. Felizes de nós se, assim, chegássemos a lançar o nosso coração no de Deus, a unir de tal modo os nossos desejos, a nossa vontade à d’Ele a ponto de formar um só coração e uma só vontade: querer o que Deus quer, querê-lo no modo, no tempo, nas circunstâncias que Ele quer e querer tudo o que, se não for por outro motivo, será porque Deus assim o quer”.
Outro elemento também caracteriza o ministério de São José Cafasso: a atenção aos últimos, especialmente aos encarcerados, que na Turim do século XIX viviam em lugares desumanos e desumanizantes. Mesmo neste delicado serviço, prestado por mais de vinte anos, ele sempre foi o bom pastor compreensivo e compassivo: qualidades percebidas pelos detentos, que acabavam por ser conquistados por aquele amor sincero cuja origem era o mesmo Deus. A simples presença de Cafasso já fazia bem: serenava, tocava os corações empedernidos pelos acontecimentos da vida e, sobretudo, iluminava e sacudia as consciências indiferentes. Nos primeiros tempos do seu ministério entre os encarcerados, ele recorria com frequência às grandes pregações que chegavam a envolver quase toda a população carcerária. Com o passar do tempo, privilegiou a catequese simples, feita nos colóquios e nos encontros pessoais; respeitoso dos acontecimentos de cada um, enfrentava os grandes temas da vida cristã, falando da confiança em Deus, da adesão à Sua vontade, da utilidade da oração e dos sacramentos, cujo ponto de chegada é a Confissão, o encontro com Deus que se fez misericórdia infinita por nós.
Os condenados à morte foram objeto de especiais cuidados humanos e espirituais. Ele acompanhou ao patíbulo 57 condenados à morte, depois de tê-los confessado e administrado a Eucaristia. Acompanhava-os com profundo amor até o último respiro de sua existência terrena.
Cafasso morreu em 23 de junho de 1860, depois de uma vida oferecida ao Senhor e consumida pelo próximo. O Venerável Servo de Deus Papa Pio XII, em 9 de abril de 1948, proclamou-o patrono das prisões italianas e, com a Exortação Apostólica Menti nostrae, em 23 de setembro de 1950, o propôs como modelo para os sacerdotes empenhados na Confissão e na direção espiritual.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 26/10/1828
Beatificado: 03/11/1963
Canonizado: 03/05/1970
Celebração litúrgica: 18/05
Leonardo Murialdo insere-se entre as figuras de singular santidade que caracterizaram a Igreja piemontesa no século XIX, como as fortes personalidades de Cottolengo, Cafasso, Lanteri, Allamano, Dom Bosco e Pe. Orione, com suas intuições perspicazes, o amor genuíno pelos pobres e a imensa confiança na Providência. Através da ação deles, a caridade da Igreja pôde promover eficazmente a emancipação material e espiritual dos filhos do povo, vítimas de graves injustiças e postos às margens do tumultuado processo de modernização da Itália e da Europa.
A experiência espiritual deste santo turinense, amigo e colaborador de Dom Bosco, tem suas raízes numa grave crise juvenil, um período difícil e doloroso de afastamento de Deus aos 14 anos, que Leonardo jamais esqueceria e marcará a sua vida e missão, incidindo em sua ação educativa e pastoral com doçura, compreensão e paciência. O “retorno à luz” aconteceu com a graça de uma confissão geral, quando redescobriu a imensa misericórdia de Deus. Aos 17 anos, amadureceu a decisão de ser sacerdote, como resposta de amor a Deus que o agarrara com o seu amor. Retornando a Deus depois do desvio juvenil, Murialdo experimentou de modo intenso e vital o amor misericordioso e acolhedor do Pai, que se tornou a alma da sua ação apostólica e social, sobretudo em favor dos jovens e dos operários.
Murialdo nasce em Turim no dia 26 de outubro de 1828. O pai, rico operador de câmbio, morre em 1833. A mãe, mulher muito religiosa, envia o seu pequeno “Nadino” ao colégio de Savona, dos Padres das Escolas Pias, onde permanece de 1836 a 1843. Retornando a Turim, frequenta as aulas de Teologia na Universidade e, em 1851, torna-se sacerdote. Sua espiritualidade, fundamentada na Palavra de Deus e na sólida doutrina de autores seguros como Santo Afonso e São Francisco de Sales, foi animada pela certeza do amor misericordioso de Deus. A realização da vontade de Deus na realidade cotidiana, a intensa vida de oração, o espírito de mortificação e o amor ardente à Eucaristia caracterizaram o seu itinerário de fé.
Em colaboração com Dom Bosco, opta logo por empenhar-se nos primeiros oratórios turinenses entre os jovens pobres e desorientados da periferia, primeiramente no oratório do “Anjo da Guarda”, até 1857, e, depois, no oratório de “São Luís”, como diretor, de 1857 a 1865. Passa um ano de atualização em Paris, até que a Providência o chama em 1866 para encarregar-se de jovens ainda mais pobres e abandonados, os do colégio dos “Pequenos Aprendizes” de Turim. Desde então, toda a sua vida é dedicada à acolhida, educação cristã e formação profissional desses meninos, numa época marcada por fortes contrastes sociais, fruto da industrialização nascente e da insatisfação das classes sociais mais pobres. Em meio a graves dificuldades econômicas, será esta a sua principal atividade até o fim da vida.
Leonardo Murialdo tornou-se amigo, irmão, pai dos jovens pobres, sabendo que em cada um deles há um segredo a decifrar: a beleza do Criador refletida na alma. Via-os frágeis, deixados ao léu de si mesmos ou ligados a adultos sem escrúpulos, obrigados a viver no ócio, na ignorância, na escravidão de paixões que cresceriam sempre mais se não fossem combatidas, ricos apenas de “ignorância, selvageria e vícios”. Acolhia todos aqueles que a Providência lhe confiava, fiel ao lema que se criara: “Pobres e abandonados: eis os dois requisitos essenciais para que um jovem seja um dos nossos; e quanto mais pobre e abandonado, tanto mais é dos nossos”. Por estes jovens, ele quis gastar as melhores energias, para que nem sequer um deles se perdesse. Foi ajudado por outros sacerdotes e leigos de grande abertura de alma, que compreenderam e compartilharam as profundas motivações do seu ministério. Para eles, funda, em 1873, a Congregação de São José (Josefinos de Murialdo), a fim de garantir continuidade à sua ação social e caritativa. Finalidade da Congregação é a educação da juventude, especialmente da juventude pobre e abandonada.
Colabora em muitas iniciativas em campo social na defesa dos jovens, dos operários e dos mais pobres. Nos anos seguintes, encaminha novas iniciativas: uma casa-família (a primeira na Itália), uma colônia agrícola, outros oratórios, com outras várias ulteriores obras. A presença de Murialdo é significativa no movimento católico piemontês. Trabalha pela imprensa católica, é ativo na Obra dos Congressos, é um dos animadores da União Operária Católica.
Ele soube ser pai para os seus jovens em tudo que se referisse ao bem-estar físico, moral e espiritual deles, preocupando-se com a sua saúde, alimentação, vestuário, formação profissional. Favoreceu, ao mesmo tempo, a preparação e qualificação dos responsáveis das várias oficinas, procurando aperfeiçoar a capacidade educativa deles através de conferências pedagógico-religiosas. Jamais descuidou do desenvolvimento tanto religioso como humano dos jovens. “O nosso programa – ele escreveu – não é só fazer dos nossos jovens inteligentes e laboriosos operários, muito menos fazer deles sabichões orgulhosos, mas, antes de tudo, cristãos sinceros e honestos”. Para tanto, desenvolveu a catequese entre eles, favoreceu a prática sacramental e estimulou as associações para meninos e adolescentes, incentivando-os a serem apóstolos entre os companheiros e dando vida, para isso, à Confraria de São José e à Congregação dos Anjos da Guarda.
Suave nos modos, como anotam seus biógrafos, vivia sempre modestamente, e o seu aspecto era suavizado com um sorriso que convidava à confiança. Mostrava-se sereno e afável mesmo quando devia chamar a atenção, tanto que seus pequenos aprendizes, tornando-se adultos, descreviam-no como “um pai afetuoso, um verdadeiro pai, um pai amoroso”.
Estava convencido de que “sem fé não se agrada a Deus, sem doçura não se agrada ao próximo”. Foi a experiência do amor misericordioso do Pai celeste a levá-lo a cuidar da juventude. Fez disso uma opção de vida, deixando-se guiar por um amor solícito e empreendedor que transformou a sua existência, tornando-o atento à realidade social e paciente para com o próximo. Manteve fixo o olhar no Pai celeste que ouve seus filhos, respeita a liberdade deles e está pronto a abraçá-los com ternura no momento do perdão. Sua existência terrena terminou em 30 de março de 1900.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 19/12/1842
Beatificado: 25/11/1964
Canonizado: 23/11/2011
Celebração litúrgica: 24/10
A vida do Pe. Guanella, como a de Dom Bosco, também foi traçada por um sonho que teve aos nove anos, dia da sua Primeira Comunhão: uma Senhora (como ele definiu Nossa Senhora em sua narração) mostrou-lhe tudo o que haveria de fazer em favor dos pobres. Desde a infância, a sua vida foi uma longa corrida para estar presente onde houvesse um brado de ajuda e um socorro a oferecer. Luís Guanella nasceu em Fraciscio, povoado do município de Campodolino, diocese de Como, em 19 de dezembro de 1842. O sacramento do Batismo foi-lhe administrado no dia seguinte. Os pais, Lourenço e Maria Bianchi, eram cristãos exemplares, entregues à família, ao trabalho do campo e ao pastoreio. Em família, era costume não só a récita do Rosário, como também a leitura da vida dos santos, experiência que caracterizou a atividade apostólica da sua vida. O pai, Lourenço, por 24 anos prefeito de Campodolcino, antes sob o governo austríaco e, depois, após a unificação da Itália (1859), era severo e autoritário, enquanto a mãe, Maria Bianchi, era afável e paciente; dos 13 filhos, quase todos chegaram à idade adulta. Aos doze anos, Luís obteve um lugar gratuito no Colégio Gallio, de Como, e continuou depois os estudos nos seminários diocesanos (1854-1866). Sua formação cultural e espiritual é a comum dos seminários da Lombardia e do Vêneto, por longo período sob o controle dos governantes austríacos. O curso teológico era pobre de conteúdo cultural, mas atento aos aspectos pastorais e práticos: teologia moral, ritos e pregação, além da formação pessoal de piedade, santidade e fidelidade. A vida cristã e sacerdotal alimentava-se na devoção comum entre a população cristã. Esta base concreta pôs o jovem seminarista muito próximo do povo e em contato com a vida que esse povo levava. Quando retornava à sua cidade para as férias de outono, imergia na pobreza dos vales alpinos, interessava-se pelas crianças, idosos e doentes do lugar, socorrendo-os em suas necessidades. Nos retalhos de tempo, apaixonava-se pela questão social, recolhia e estudava ervas medicinais, afervorava-se na leitura da história da Igreja.
No seminário teológico, familiarizou-se com o bispo de Foggia, dom Bernardino Frascolla, encarcerado na prisão de Como e, depois, obrigado à prisão domiciliar no seminário (1864-1866), e tomou conhecimento da hostilidade que dominava as relações entre o Estado unitário e a Igreja. Este bispo ordenou sacerdote o Pe. Guanella em 26 de maio de 1866. Naquela ocasião, Pe. Guanella disse: “Quero ser uma espada de fogo no santo ministério”. O novel sacerdote entrou com entusiasmo na vida pastoral de Valchiavenna (Prosto, em 1866, e Savogno, nos anos 1867-1875). Desde os inícios, em Savogno, revelou os seus interesses pastorais: instrução de crianças e adultos, elevação religiosa, moral e social dos paroquianos, defesa do povo contra os assaltos do liberalismo e atenção privilegiada aos mais pobres. Não dispensava intervenções combativas quando se via injustamente freado ou contradito pelas autoridades civis no seu ministério, de modo que foi logo marcado entre os sujeitos perigosos (lei da suspeição), sobretudo depois de publicar um livreto polêmico. Entrementes, em Savogno, aprofundava o conhecimento de Dom Bosco e da obra do Cottolengo; chegou a convidar Dom Bosco para abrir um colégio no vale.
Desejoso de uma experiência religiosa mais radical, foi a Turim para unir-se a Dom Bosco em 1875, emitindo a profissão temporária na Congregação Salesiana. Nos dois primeiros anos vividos como Salesiano, foi diretor do oratório São Luís, no bairro San Salvario, em Turim, e em novembro de 1876 foi encarregado de abrir um novo oratório em Trinità di Mondovì. Em 1877, foram-lhe confiadas as vocações adultas, que Dom Bosco denominara “Obra dos Filhos de Maria”. A admiração por Dom Bosco tinha uma profunda raiz também em seu temperamento, muito semelhante ao de Dom Bosco: ambos eram empreendedores, apóstolos da caridade, decididos, profundamente pais e com grande amor pela Eucaristia, por Nossa Senhora e pelo Papa. A espiritualidade e a pedagogia salesiana serviram de base para a formação e a missão do futuro fundador. Na escola de Dom Bosco, ele aprendeu a abordagem amável e firme dos jovens e a vontade educativa de prevenir, mais do que curar; e o desejo de salvar os irmãos com o impulso de uma grande caridade apostólica.
O bispo de Como chamou-o de volta à diocese e o Pe. Guanella retornou com o sonho de fundar uma instituição que recolhesse meninos carentes. Abriu uma escola que, em seguida, precisou fechar devido à hostilidade das autoridades civis. “A hora da misericórdia”, como o Pe. Guanella chamava o momento propício do favor divino, chegou em novembro de 1881, quando foi para Pianelle Lario como pároco, encontrando algumas jovens entregues à assistência dos necessitados. O grupo de jovens mulheres será a fonte de uma nova congregação: as Filhas de Santa Maria da Providência. O zelo e a caridade apostólica do Pe. Luís aumentaram a obra benéfica até permitir expandir a atividade no coração da cidade de Como. Elas iniciaram a atividade da “Casa Divina Providência”, que se tornou, depois, a casa mãe das duas congregações, masculina e feminina. Com os pobres também aumentavam os braços e os corações para assisti-los e amá-los. Junto à congregação das irmãs, o Pe. Guanella reuniu também um grupo de sacerdotes que chamou de “Servos da Caridade”. “Não se pode parar enquanto existirem pobres a socorrer”, repetia com frequência em suas peregrinações pelas chagas da pobreza. Para tanto, as duas congregações religiosas iam se difundindo em várias regiões italianas e, na vizinha Confederação Helvética, no Cantão dos Grigioni e no Cantão Ticino.
Em 1904, Luís Guanella realizou o sonho de chegar à Cidade Santa, Roma, para estar ao lado do Papa e demonstrar a própria fidelidade à Igreja graças ao testemunho luminoso de caridade e ardor apostólico. O Papa Pio X, que compreendera a grandeza de espírito do Pe. Guanella, estimou-o e confidenciou-lhe o desejo de construir uma igreja dedicada ao “Trânsito de São José”. Ao lado da paróquia, surgiu também a “Pia União do Trânsito de São José”, uma associação de oração pelos moribundos. São Pio X quis ser o primeiro dos inscritos. O zelo missionário levou-o à América do Norte entre os imigrantes italianos. Em dezembro de 1912, aos setenta anos, o Pe. Guanella embarcou para os Estados Unidos. Sua última intervenção extraordinária em vida deu-se em janeiro de 1915, quando quis permanecer em Roma para servir de ajuda às vítimas do terremoto do Abruzzo. Ao seu lado, atuou com zelo o venerável Aurélio Bacciarini, primeiro pároco da paróquia do “Trânsito de São José”, seu sucessor no governo da Congregação dos Servos da Caridade e chamado depois ao ministério episcopal na diocese de Lugano, Suíça. Os achaques da velhice, o ingresso da Itália na Primeira Guerra Mundial e o comprometimento de alguns coirmãos no front militar minaram a sua saúde. Em seus escritos, Pe. Guanella deixara esta mensagem: “A morte é como uma mãe que abraça o filho [...], é o anjo que nos reconduz à pátria”. Aquela mãe, luminosa como um anjo, passou às 11h15min do domingo 24 de outubro de 1915.
Pe. Guanella e Dom Bosco, ambos sacerdotes e grandes amigos, viveram numa época caracterizada por profundas transformações e grandes desequilíbrios sociais; agiram como apóstolos da caridade e passaram toda a vida trabalhando pela salvação de cada homem e de todos os homens, e pela construção de uma sociedade melhor. A profunda ligação entre os dois e a devoção do Pe. Guanella por Dom Bosco tornaram-se célebres numa oração que o Pe. Guanella escreveu na revista mensal da sua obra, A Divina Providência, em agosto de 1908: “A grande alma de João Bosco que protege profundamente a Congregação dos seus filhos, os Salesianos, já numerosos a ponto de não se poder contar, volte benigno seus olhares sobre os Institutos da Divina Providência, e estenda benévola a sua proteção sobre aqueles que a estas obras pertencem e especialmente ao seu devoto admirador e aluno. Sacerdote Luís Guanella”.
Na ocasião da canonização, o Papa Bento XVI recordou que “graças à profunda e continuada união com Cristo, na contemplação do seu amor, o Pe. Guanella, guiado pela Providência divina, tornou-se companheiro e mestre, conforto e consolação dos mais pobres e dos mais fracos. O amor de Deus animava nele o desejo do bem pelas pessoas que lhe eram confiadas, na realidade da vida cotidiana [...]. Colocava uma acurada atenção no caminho de cada um, respeitando seus tempos de crescimento e cultivando no coração a esperança de que cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, experimentando a alegria de ser amado por Ele – Pai de todos –, pode tirar e dar aos outros o melhor de si.
É possível sintetizar toda a sua história humana e espiritual nas últimas palavras que pronunciou no leito de morte: “‘In caritate Christi’. É o amor de Cristo que ilumina a vida de todo homem, revelando que no dom de si ao outro não se perde nada, mas se realiza plenamente a nossa verdadeira felicidade”.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 23/06/1872
Beatificado: 26/10/1980
Canonizado: 16/05/2004
Celebração litúrgica: 16/05
Luís Orione nasceu em Pontecurone (diocese de Tortona), em 23 de junho de 1872. O pai era pavimentador de rua; a mãe era mulher de profunda fé e de elevado tino educativo. Embora advertindo a vocação ao sacerdócio, Luís ajudou o pai durante três anos (1882-1885) como ajudante de pavimentador. Em 14 de setembro de 1885, aos 13 anos, foi recebido no convento franciscano de Voghera (Pavia), mas uma pneumonia pôs em risco a sua vida e precisou retornar à família em junho de 1886. De outubro de 1886 a agosto de 1889 foi aluno do Oratório de Valdocco, em Turim. São João Bosco percebeu as suas qualidades e elencou-o entre os seus prediletos, garantindo-lhe: “Nós seremos sempre amigos”. Em Turim, conheceu também as obras de caridade de São José Bento Cottolengo, próximas ao Oratório salesiano. Em 16 de outubro de 1889 iniciou o curso de filosofia no seminário de Tortona.
Ainda jovem clérigo foi sensível aos problemas sociais e eclesiais que agitavam aquela época difícil. Dedicou-se à solidariedade para com o próximo através da Sociedade de Mútuo Socorro São Marciano e da Conferência de São Vicente. Aos vinte anos, escrevia: “Há uma suprema necessidade e um supremo remédio para curar as feridas desta pobre pátria, tão bela e tão infeliz! Apossar-se do coração e do afeto do povo e iluminar a juventude; infundir em todos a grande ideia da redenção católica com o Papa e pelo Papa. Almas! Almas!”. Movido por essa visão apostólica, abriu em Tortona, em 3 de julho de 1892, o primeiro oratório para cuidar da educação cristã dos meninos. No ano seguinte, em 15 de outubro de 1893, Luís Orione, ainda clérigo de 21 anos, abriu um colégio no bairro São Bernardino, destinado a crianças pobres. Em 13 de abril de 1895, foi ordenado sacerdote e na mesma celebração o bispo impôs o hábito clerical a seis alunos do seu colégio. Desenvolveu sempre mais o apostolado entre os jovens com a abertura de novas casas em Mornico Losana (Pavia), Noto (Sicília), San Remo, Roma...
Ao redor do jovem fundador cresceram clérigos e sacerdotes que formaram o primeiro núcleo da Pequena Obra da Divina Providência. Em 1899, iniciou o ramo dos Eremitas da Divina Providência, inspirados no lema beneditino “ora et labora”, sobretudo nas colônias agrícolas que, naquela época, respondiam à exigência de elevação social e cristã do mundo rural. O bispo de Tortona, Dom Higino Bandi, com Decreto de 21 de março de 1903, reconheceu canonicamente a Congregação religiosa masculina da Pequena Obra da Divina Providência, os Filhos da Divina Providência (sacerdotes, irmãos coadjutores e eremitas), e sancionou o seu carisma expresso apostolicamente no “colaborar para levar os humildes, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, mediante as obras de caridade”, professado com um 4º voto de especial “fidelidade ao Papa”. Confortado pelo conselho pessoal de Leão XIII, Pe. Orione introduziu nas primeiras Constituições de 1904, entre as finalidades da nova Congregação, a de trabalhar para “obter a união das Igrejas separadas”. Animado por um grande amor à Igreja e aos seus Pastores e por uma paixão pela conquista das almas, interessou-se ativamente pelos problemas emergentes do tempo, como a liberdade e a unidade da Igreja, a questão romana, o modernismo, o socialismo e a descristianização das massas operárias.
Depois do terremoto de dezembro de 1908, que deixou entre as ruínas 50 mil mortos, Pe. Orione foi a Reggio Calabria e Messina para prestar socorro especialmente aos órfãos e fez-se promotor das obras de reconstrução civil e religiosa. Por desejo direto de Pio X, foi nomeado vigário-geral da diocese de Messina. Deixando a Sicília, depois de três anos, pôde dedicar-se novamente à formação e ao desenvolvimento da Congregação. Em dezembro de 1913, enviou a primeira expedição de missionários ao Brasil. Renovou os heroísmos de socorro às vítimas do terremoto de 13 de janeiro de 1915, que devastou a Mársica (região do Abruzzo) com quase 30 mil vítimas. Eram os anos da Primeira Guerra Mundial. Pe. Orione percorreu muitas vezes a Itália para apoiar as várias atividades caritativas, ajudar espiritual e materialmente as pessoas de todas as camadas, suscitar e cultivar vocações sacerdotais e religiosas. Há vinte anos da fundação dos Filhos da Divina Providência, como uma “única planta com muitos ramos”, em 29 de junho de 1915, deu início à Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, animadas pelo mesmo espírito e interessadas em fazer experimentar aos mais necessitados a Providência de Deus e a maternidade da Igreja, mediante a caridade para com os pobres e enfermos e os serviços de todos os gêneros nos institutos de educação, jardins de infância e variadas obras pastorais. Em 1927 deu início também a um ramo contemplativo, as Irmãs Sacramentinas, ao qual acrescentaram-se depois também as Contemplativas de Jesus Crucificado. Envolveu também os leigos nos caminhos da caridade e do compromisso civil dando impulso às associações das Damas da Divina Providência, dos Ex-Alunos e dos Amigos. Em seguida, realizando intuições previdentes, serão criados na Pequena Obra da Divina Providência também o Instituto Secular Orionita e o Movimento Laical Orionita.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919) multiplicaram-se escolas, colégios, colônias agrícolas, obras caritativas e assistenciais. Em especial, Pe. Orione fez surgir na periferia de grandes cidades os “Pequenos Cottolengos”: em Gênova e Milão, em Buenos Aires, em São Paulo e em Santiago do Chile. Estas instituições, destinadas a acolher os irmãos mais sofredores e necessitados eram entendidas por ele como “novos púlpitos” de onde falar de Cristo e da Igreja, “faróis de fé e de civilização”. O zelo missionário do Pe. Orione, que já se expressara com o envio ao Brasil, em 1913, dos seus primeiros religiosos, estendeu- se depois à Argentina e ao Uruguai (1921), à Palestina (1921), à Polônia (1923), a Rodes (1925), aos Estados Unidos (1934), à Inglaterra (1935). Ele mesmo, em 1921-1922 e 1934-1937, fez duas viagens missionárias à América Latina: Argentina, Brasil, Uruguai e Chile.
Gozou da estima pessoal dos papas Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, e das Autoridades da Santa Sé, que lhe confiaram muitos delicados encargos para resolver problemas e curar feridas tanto no interior da Igreja como nas relações com o mundo civil. Prodigalizou-se com prudência e caridade nas questões do modernismo, na promoção da Conciliação entre Estado e Igreja na Itália, na acolhida e reabilitação dos sacerdotes “lapsi”. Foi pregador, confessor e organizador incansável de peregrinações, missões, procissões, presépios vivos e outras manifestações populares da fé. Grande devoto de Nossa Senhora, promoveu a sua devoção com todos os meios. Com o trabalho manual dos seus clérigos construiu os santuários de Nossa Senhora da Guarda, em Tortona (1931), e de Nossa Senhora de Caravaggio, em Fumo (1938).
No inverno de 1940, já sofrendo de angina pectoris e depois de dois ataques cardíacos agravados por crises respiratórias, Pe. Orione deixou-se convencer pelos coirmãos e pelos médicos a buscar repouso numa casa da Pequena Obra em Sanremo, embora, como dizia, “não é entre as palmeiras que eu quero viver e morrer, mas entre os pobres que são Jesus Cristo”. Depois de apenas três dias, rodeado pelo afeto e pelos cuidados dos coirmãos, Pe. Orione morreu em 12 de março de 1940, suspirando: “Jesus! Jesus! Eu vou”. Seus despojos, disputados pela devoção de muitos, receberam solenes homenagens em Sanremo, Gênova, Milão, concluindo o itinerário em Tortona, onde foi tumulado na cripta do Santuário de Nossa Senhora da Guarda. Seu corpo, encontrado intacto na primeira exumação de 1965, foi posto em lugar de honra no mesmo santuário.
Pe. Orione encarnou o carisma da caridade para com os pobres, vendo neles o rosto de Jesus e servindo-o na mais santa alegria. Sempre em movimento, vivia uma vida penitente e paupérrima. Estava convencido de que o maior bem fosse viver na presença de Deus e crer na sua Divina Providência. Era este o refrão do Pe. Orione: “Mais fé, mais fé, irmãos, é preciso mais fé! A nossa fé, que é poderosa contra todas as batalhas, torna-se o maior e mais divino conforto da vida humana; ela é a mais elevada inspiração de qualquer valor, de todo santo heroísmo, de toda bela arte, que não morre, de toda verdadeira grandeza moral, religiosa e civil”.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 16/08/1815
Beatificado: 02/06/1929
Canonizado: 01/04/1934
Celebração litúrgica: 31/01
João Melquior Bosco nasceu do segundo casamento de Francisco Bosco com Margarida Occhiena, em 16 de agosto de 1815, e foi batizado no dia seguinte como João Melchior Bosco. O pai era inquilino dos Biglione e habitava numa de suas casas nos Becchi, território de Morialdo, povoado de Castelnuovo d’Asti. Morrendo de pneumonia em 11 de maio de 1817, Francisco deixou aos cuidados da esposa Margarida os seus três filhos: Antonio, nascido em 1808; José, nascido em 1813, ambos da primeira esposa, Margarida Cagliero; e João. A pequena família, transferida para uma pequena edificação rural adaptada como habitação, passou anos difíceis em tempos de circunstâncias desfavoráveis para o mundo agrícola. Joãozinho, educado pela mãe com profundo discernimento humano e cristão, foi dotado pela Providência de dons, que fazem dele, desde os primeiros anos, o amigo generoso e diligente de seus conhecidos. Entretanto, devido às penúrias familiares e as tensões com o meio-irmão Antônio, pelas suas inclinações ao estudo, foi enviado, de fevereiro de 1828 a novembro de 1829, a trabalhar como ajudante na granja Moglia.
Retornando em família, graças ao apoio do velho capelão Pe. João Calosso, foi-lhe permitido continuar os estudos elementares em Castelnuovo e os humanistas no Régio Colégio de Chieri. Desde criança, ele sentiu ter recebido uma vocação especial e ser assistido e quase guiado pela mão, para realizar a sua missão, pelo Senhor e pela intervenção da Virgem Maria, que desde o sonho profético dos nove anos lhe indicam o campo de trabalho e a missão a realizar. Sua juventude é assim a antecipação de uma extraordinária vocação educativa e pastoral. Apóstolo entre os colegas, funda nos anos de escola em Chieri a Sociedade da Alegria. Desde criança, sente o chamado a configurar-se de maneira perfeita à figura de Cristo Bom Pastor, e essa identificação amadurecerá ao longo de toda a sua existência com uma progressiva encarnação do ministério sacerdotal segundo uma modalidade própria: ser sinal do Bom Pastor para os jovens e para a gente do povo. Aos vinte anos, em 1835, faz a opção definitiva: entra no seminário episcopal de Chieri. Os anos de seminário foram para ele anos de trabalho espiritual, se não por outro motivo, porque o ambiente disciplinado e o ensinamento teológico moral rigorista contrastavam com o seu temperamento levado à liberdade expansiva e à inventiva no campo operativo. No seminário, João Bosco assimilou os valores que o austero regulamento e a tradição formativa propunham aos jovens clérigos: estudo intenso, espírito de sincera piedade, vida retirada, obediência, disciplina interior e exterior. Entretanto, pôde contar com o conhecimento do padre José Cafasso, também natural de Castelnuovo e colaborador do teólogo Luís Guala em Turim, no “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis”, destinado ao aperfeiçoamento do clero jovem na prática pastoral. Até o fim de sua vida, Cafasso será para Dom Bosco mestre de teologia moral e de “pastoral prática”, e também confessor, diretor espiritual, conselheiro.
Ordenado sacerdote em Turim pelo arcebispo Luís Fransoni em 5 de junho de 1841, Dom Bosco passou o verão e o outono entre os Becchi e Castelnuovo auxiliando o pároco. Em novembro, preferiu retornar a Turim, ao Colégio Eclesiástico, para ali fazer o triênio de aperfeiçoamento teórico e prático. Recebeu uma qualificação pastoral teórica e prática e consolidou a sua vida interior. Aspectos relevantes desta espiritualidade sacerdotal propugnada por Cafasso são: centralidade do serviço divino, animado pelo profundo amor do Senhor, pelo desejo de conformação com a divina vontade, pela total disponibilidade ao seu serviço com prontidão, exatidão e delicadeza; espírito de oração, doçura e caridade, de pobreza, desapego e mortificação, de humildade e trabalho intenso; entrega absoluta de si no cuidado pastoral do próximo, zelo incansável para acolher, aproximar-se, buscar, animar, exortar, instruir; tendência missionária; dedicação sem pausa à pregação, à catequese, ao sacramento da penitência; terna devoção mariana, sentido de pertença eclesial e devoção ao Papa e aos pastores da Igreja. Além da formação moral, o novel sacerdote dedicou-se à instrução catequética dos meninos e acompanhou o padre Cafasso na assistência espiritual aos jovens encarcerados nas prisões da cidade.
O jovem sacerdote torna-se também sempre mais envolvido nas profundas e complexas mudanças políticas, sociais e culturais que marcarão toda a sua vida: movimentos revolucionários, guerra e êxodo da população dos campos para as cidades são fatores que incidem nas condições de vida do povo, especialmente se pertencente às camadas mais pobres. Concentrados nas periferias das cidades, os pobres em geral e os jovens em particular tornam-se objeto de abuso ou vítimas do desemprego; durante o seu desenvolvimento humano, moral, religioso, profissional, são acompanhados de maneira insuficiente e muitas vezes não são cuidados de modo nenhum. Sensíveis a qualquer mudança, os jovens ficam muitas vezes inseguros e perdidos. Diante desta massa desenraizada, a educação tradicional fica perplexa: filantropos, educadores e eclesiásticos esforçam-se para ir, por vários títulos, ao encontro das novas necessidades.
Em outubro de 1844, Dom Bosco obtém o emprego de capelão, primeiramente da Obra do Refúgio e, depois, do pequeno Orfanato de Santa Filomena, dois institutos femininos fundados por Júlia Colbert, marquesa di Barolo, ambos a nordeste da cidade, não distantes da Pequena Casa da Divina Providência, do cônego José Cottolengo, e não longe da “Porta Palácio”, local de um grande mercado da cidade. Dom Bosco acolhe, em sua nova residência, os jovens que se afeiçoaram a eleno Colégio Eclesiástico; serventes de pedreiro, aprendizes, estudantes e como estrelas no céu imigrantes afluem em número sempre crescente. Graças às capacidades pessoais, ele os entretêm empenhando-se diretamente em seus divertimentos e obtendo a participação deles nos momentos de instrução religiosa e de culto. Às reuniões feitas no Refúgio, dá o nome de “catecismo” e, depois, estavelmente, de “Oratório de São Francisco de Sales”.
Dotado de uma feliz intuição realista e conhecedor atento da história da Igreja, ele tira do conhecimento dessas situações e das experiências de outros apóstolos, especialmente de São Felipe Neri e de São Carlos Borromeu, a fórmula do “oratório”. Para ele, este título é singularmente caro: o Oratório caracterizará toda a sua obra, e ele o modelará segundo uma perspectiva pessoal, adaptada ao ambiente, aos seus jovens e às suas necessidades. Como principal protetor e modelo dos colaboradores, escolhe São Francisco de Sales, o santo de zelo multiforme e humaníssima bondade manifestada, sobretudo, na doçura do acolhimento.
O Oratório torna-se itinerante nos anos 1845-1846, embora gravitando na região entre os prados degradados de Valdocco em direção ao Dora Riparia e Porta Palácio, onde era mais fácil manter contato com os jovens. Em Valdocco, Dom Bosco estabelece-se definitivamente na primavera de 1846, de início, em poucas salas e um galpão adaptado como capela, alugados numa construção da extrema periferia (a casa Pinardi); em seguida, com a aquisição de todo o edifício e do terreno adjacente. Já naqueles anos ele dá ênfase ao lema “Da mihi animas caetera tolle” (que se habituou a traduzir: “Senhor, dai-me almas e ficai com todas as outras coisas”), e o teve como muito importante e significativo a ponto de fazê-lo reproduzir num cartaz fixado em seu quarto até os últimos dias de sua vida. O Oratório de Valdocco inspirava-se no do “Anjo da Guarda”, aberto em 1840 pelo padre Cocchi às margens do bairro de Vanchiglia. Dada a simpatia obtida pelos dois primeiros oratórios, um terceiro intitulado a “S. Luís Gonzaga” foi aberto em 1847, na região de Porta Nova. A “Obra dos Oratórios”, iniciada em 1841, com um “simples catecismo”, expande-se progressivamente para responder a situações e exigências prementes: internato para acolher os abandonados, oficina e escola de artes e ofícios para ensinar-lhes um trabalho e torná-los capazes de ganhar a vida honestamente, escola humanista aberta ao ideal vocacional, boa imprensa, iniciativas e métodos recreativos próprios da época (teatro, banda, canto, passeios outonais), para favorecer o desenvolvimento sadio dos meninos.
Também para os oratórios 1848 (ano de grandes convulsões político- sociais) foi um período de crise. Padre Cocchi inclinava-se a compartilhar os entusiasmos patrióticos dos jovens; Dom Bosco manteve-se mais cauteloso e atento à linha de oposição assumida pelo arcebispo Fransoni. A retomada aconteceu ao redor de 1850, graças à tenacidade de eclesiásticos e leigos seus colaboradores (entre eles, o teólogo João Batista Borel e os primos Roberto e Leonardo Murialdo). Por iniciativa de Fransoni, agora no exílio em Lyon, Dom Bosco é nomeado em 1852 “diretor-chefe espiritual” dos três oratórios masculinos de Valdocco, Porta Nova e Vanchiglia. Dado o aumento da afluência juvenil nos oratórios, com o apoio da população e das autoridades da cidade, pôdese substituir o galpão-capela de Valdocco por uma igreja mais ampla intitulada a São Francisco de Sales (1851-52), e, depois, empenhar-se na aquisição de novos terrenos e na construção de uma “Casa anexa ao oratório”, para acolher e instruir tanto os jovens estudantes como os aprendizes de alguns ofícios mais auspiciosos: sapateiros e alfaiates (1853), encadernadores (1854), marceneiros (1856), tipógrafos (1861), artesãos e ferreiros (1862). Após o ano da cólera (1854), a população juvenil hospedada na escola-internato de Valdocco superou rapidamente uma centena e chegou a mais de oitocentas pessoas em 1868. Nesse ano, por iniciativa e empenho de Dom Bosco, foi consagrada no terreno do Oratório de Valdocco uma grande igreja dedicada a Maria Auxiliadora (Auxilium Christianorum) destinada aos jovens e às necessidades espirituais do bairro. Para a defesa e a promoção da fé entre o povo cristão, ele instituiu em 1869 a Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora.
O conjunto destas realizações permitiu a Dom Bosco lançar os mais variados apelos na intenção de mobilizar consensos e ajudas financeiras; a partir de 1853, organizou sorteios de beneficência obtendo entradas que lhe permitiram aumentar e melhorar os edifícios dos oratórios e acolher, gratuitamente ou quase, jovens aprendizes e estudantes das classes ginasiais. Em apelos endereçados à população em geral, ele declarava que desejava formar “cidadãos honestos e bons cristãos”. Quando se dirigia às autoridades políticas e administrativas, pedia apoios e subsídios para obras que visassem prevenir a delinquência de menores, tirar da rua os jovens que, de outra forma, acabariam nas prisões, formar cidadãos úteis à sociedade. Eram fórmulas que, depois, se condensaram no seu escrito pedagógico mais conhecido: O sistema preventivo na educação da juventude (Turim, 1877). A feliz expressão: “Basta que sejam jovens para que eu os ame muito” é a palavra e, antes ainda, a opção educativa fundamental do santo: “Prometi a Deus que até o meu último respiro seria pelos meus pobres jovens”. E, de fato, ele desenvol como estrelas no céu veu uma impressionante atividade com palavras, escritos, instituições, viagens, encontros com personalidades civis e religiosas, manifestando principalmente uma cuidadosa atenção voltada aos jovens para que eles pudessem ver no seu amor de pai o sinal de um Amor mais elevado.
Dom Bosco começa a distinguir-se também com a publicaçã de alguns opúsculos destinados aos jovens e reeditados muitas vezes: História Eclesiástica para uso das escolas (1845), História Sagrada par uso das escolas (1847), O Jovem Instruído na prática dos seus deveres (1847), O Sistema métrico decimal reduzido à simplicidade (1849). Em 1853, com o apoio do bispo de Ivrea, L. Moreno, inicia a publicação das Leituras Católicas, coleção de pequenos fascículos periódicos de formato pequeno, em média com uma centena de páginas, de caráter monográfico, redigidos em estilo facilmente acessível a leitores de primeira alfabetização do mundo do trabalho manual e agrícola. Nas Leituras Católicas, Dom Bosco concentra grande parte de seus escritos apologéticos, catequéticos, devocionais e hagiográficos visando apresentar de modo positivo a Igreja Católica, o Papado, a obra dos oratórios. A Lei Casati (1859), que dispõe sobre a obrigação da organização escolar nas Cidades, ofereceu a Dom Bosco a ocasião de alargar o campo das suas iniciativas. Depois da experiência de pequenos seminários episcopais administrados sob a sua responsabilidade (Giaveno, diocese de Turim, em 1859, e Mirabello Monferrato, na diocese de Casale, em 1863, transferido em 1870 a Borgo San Martino), ele caminhou com mais decisão pelo terreno das escolas públicas, oferecendo-se para administrar sob a sua responsabilidade alguns colégios-internatos municipais; foi a vez de Lanzo Torinese (1864), Cherasco (1869), Alassio (1870), Varazze (1871), Vallecrosia (1875), institutos que, por norma, tinham um oratório anexo, que se acrescentava aos demais que, por vários títulos, eram legalmente reconhecidos como internatos de beneficência ou escolas privadas (em 1872, Genova – Sampierdarena, etc.). Dom Bosco, portanto, não foi um padre que se deixou paralisar pelas situações instáveis e mutáveis em que vivia, mas um padre que, justamente estas situações e circunstâncias, soube ser ministro do Senhor, filho da Igreja, apóstolo de Cristo no anúncio do Evangelho, na acolhida dos pobres e, sobretudo, na predileção pelos meninos e jovens. Pode-se sublinhar a sua audácia, a sua atividade, a sua fantasia inspiradora de soluções, mas jamais se pode separar estas qualidades tão visíveis do homem Dom Bosco da sua riqueza interior substanciada por vigorosa e rigorosa ascese, de profundo sentido de fé e também de contínua dedicação ao ministério na Igreja. Esta harmonia entre os dotes humanos e os recursos misteriosos da fé e da graça caracterizou o seu sacerdócio, tornando-o tão resplendente e tão fecundo. Nele, a simbiose entre ação e contemplação aparecia como consequência lógica do sacerdócio ministerial. Em sua vida, não havia lugar para dualismos problemáticos, mas apenas para obedecer ao Espírito, ser tocado pelas urgências da caridade, continuamente nutrido e substanciado por uma força que derivava da oração e da Eucaristia, que o tornava incansável, mesmo vivendo ele próprio uma misteriosa consumação do seu ser pelo bem da Igreja e da juventude.
Fechado o seminário metropolitano por ordem de dom Fransoni (1848), Dom Bosco oferece hospedagem aos clérigos diocesanos que seguiam na cidade as aulas dadas por professores do seminário. A estes clérigos era natural que se acrescentassem os meninos dos oratórios que entravam na carreira eclesiástica. De Valdocco e de seus outros colégios, com ele ainda em vida, saíram cerca de 2.500 sacerdotes para as dioceses do Piemonte e da Ligúria. O exemplo e o encorajamento de Dom Bosco levam muitos bispos a superar hesitações devidas a problemas econômicos e abrir ou reorganizar seminários menores. Diversos reitores aprenderam dele a utilização de instrumentos pedagógicos e espirituais, idôneos à formação dos jovens sacerdotes, como a bondade (amorevolezza) e a assistência paterna que suscitam confiança, a confissão frequente e a comunhão, a piedade eucarística e mariana. Singular para os tempos, e mais tarde imitado por muitos, foi o cuidado específico pelas vocações adultas com a instituição de seminários e escolas adequados. Estas circunstâncias se prolongaram até além de 1860 e permitiram a Dom Bosco ter um pessoal mais estável e mais sintonizado com os seus métodos educativos para os oratórios e as escolas. Amadureceu assim o plano de substituir à Sociedade ou Congregação dos Oratórios, formada em geral por eclesiásticos e leigos de boa vontade, por um grupo recrutado entre os seus clérigos e colaboradores leigos. Vivia-se nos anos do debate político que levou nos Estados Sardos à supressão de ordens religiosas e outras entidades eclesiásticas. Seguindo o conselho de Urbano Ratazzi, Dom Bosco pensou numa associação de pessoas que, sem renunciar aos direitos civis, se propusesse uma finalidade de bem público, e mais concretamente a educação da juventude mais pobre e abandonada. No interior do grupo, porém, Dom Bosco, dava coesão às finalidades comuns com vínculos religiosos. Para aos seus Salesianos elaborou então a fórmula: “Cidadãos peranteo Estado; religiosos perante a Igreja”. Em Roma, em fevereiro de 1858, foi recebido por aqueles que o conheciam como diretor das Leituras Católicas e de florescentes oratórios juvenis, ou também pela fama de santo sacerdote e taumaturgo. Obtida uma audiência pontifícia, entrou em sintonia com Pio IX e recebeu dele ardorosos encorajamentos para os seus projetos. Em 18 de dezembro de 1859, com outros dezoito jovens, deu início oficial à Sociedade de São Francisco de Sales. Em 1864, obteve de Roma o Decretum laudis para a Pia Sociedade de São Francisco de Sales e o início das práticas para o respectivo exame das Regras ou Constituições; em 1869, a aprovação pontifícia da Sociedade Salesiana e em 1874, das Regras ou Constituições.
Segundo os mesmos critérios e com o mesmo espírito, Dom Bosco procurou encontrar uma solução também para os problemas da juventude feminina. O Senhor suscitou ao seu lado uma cofundadora: Maria Domingas Mazzarello, hoje santa, coadjuvada por um grupo de jovens companheiras já dedicadas, na paróquia de Mornese (Alessandria, Itália), à formação cristã das meninas. Em 5 de agosto de 1872, funda, com Maria Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora.
Nos anos seguintes, com o apoio das mais variadas instituições públicas e privadas, pôde abrir oratórios, colégios, internatos, escolas agrícolas, além de na Itália, também em vários países da Europa: Nice (1875), La Navarre (1878), Marselha (1878), Saint-Cyr (1880) e Paris (1884), na França; Utrera (1880) e Barcelona – Sarriá (1884), na Espanha; Battersea (1887), na Inglaterra; Liége (1887), na Bélgica.
Nesses anos, entretanto, vão aumentando as incompreensões e os contrastes com a cúria da arquidiocese de Turim, sobretudo devido ao tipo de formação oferecido nas obras de Dom Bosco; de fato, ia sendo traçado um modelo de religioso e de sacerdote em contraste com o que se propunha um pouco em todos os lugares pelos bispos e pela própria Santa Sé, um modelo mais aberto e tendendo a superar certa separação entre clero e povo. A divergência tornou-se conflito quando, ao arcebispo Riccardi di Netro (falecido em 1870), sucedeu como arcebispo dom Lourenço Gastaldi (1871), que no passado fora admirador, colaborador e benfeitor de Dom Bosco. Gastaldi partiu do pressuposto de que a Sociedade Salesiana era diocesana e, por isso, sob a plena autoridade episcopal. Interviu, por isso, de modo crucial sobre Dom Bosco e junto à Santa Sé para que fossem tomadas decisões no sentido desejado por ele. O contraste exasperou quando em 1878-79 foram publicados em Turim cinco panfletos que criticavam duramente a gestão diocesana do arcebispo e o tratamento usado por ele com Dom Bosco. Gastaldi lamentouse com a Santa Sé, insinuando que o inspirador dos folhetos fosse o indócil fundador dos Salesianos. A pedido de Leão XIII, Dom Bosco precisou curvar-se a um ato de desculpas ao arcebispo e um documento de “concórdia” (16 de junho de 1882); contudo, o gelo entre os dois permaneceu e repercutiu longamente na atitude tanto do clero diocesano como dos Salesianos. Falecido dom Gastaldi (25 de março de 1883), este foi sucedido na sede de Turim por Caetano Alimonda.
Apenas no ano seguinte, Dom Bosco obteve o decreto de extensão dos privilégios concedidos pela Santa Sé aos Redentoristas, inclusive, por isso, o da isenção da jurisdição episcopal (18 de junho de 1884). Dom Bosco encarnou um amor exemplar à Igreja e ao Papa, tornando os ideais programáticos da própria vida. Os seus não eram tempos em que o amor à Igreja fosse de moda, ao contrário; mas ele amou a Igreja, declarou amá-la, defendeu-a, serviu-a, fez dela um ideal de vida e bandeira do seu trabalho. E não se trata apenas de amor à Igreja universal e ao Papa, mas de amor e fidelidade à Igreja local. A sua Igreja local. João Bosco amou-a sempre e mesmo nos momentos difíceis, quando a compreensão não era uma atitude fácil. Não se afastou, não se refugiou no universalismo da Igreja por sentir-se estranho na Igreja que o vira nascer, o educara, lhe abrira os espaços da caridade. Mesmo com o passar dos anos, Dom Bosco esteve atento em cultivar os apoios possíveis entre os quadros da monarquia e do Estado liberal; nos sorteios, entre os prêmios colocados em disputa havia pontualmente aqueles oferecidos por algum membro da Casa reinante. Sendo o governo transferido para Florença, ele continuou a apresentar pedidos de subsídios dos fundos ministeriais em favor de suas obras pela juventude pobre. Em 1866-67, o Presidente do Conselho, João Lanza, poderoso expoente da Direita, também recorreu a ele nas controvérsias entre a Santa Sé e o Governo sobre a nomeação de bispos para as sedes episcopais vacantes. Nos anos 1870-71, foi envolvido pelo mesmo Lanza na questão do exequatur que, depois da lei das garantias, o governo reivindicava para si autorizar a tomada de posse de suas sedes dos bispos nomeados pelo Papa. Dom Bosco aproveitou a ocasião para insistir no duplo papel que se atribuía, isto é, a sincera fidelidade ao Papa e ao Estado.
As controvérsias políticas envolvem-no, mas ele as vive como padre. Sente as questões sociais, mas as enfrenta como padre. As situações eclesiais – não sem dificuldades, contradições e problemas – encontram-no simplesmente sacerdote: entregue ao Evangelho, à missão da Igreja, ao amor e respeito ao Papa, este padre tão concreto, tão incisivo na história da sua gente, permanece essencialmente um padre de Jesus Cristo, iluminando com a sua presença tempos não fáceis para a Igreja e, em especial, para o clero. O dinamismo do seu amor torna-se universal com o passar dos anos, levando-o a acolher o apelo de nações distantes, até as missões de além-oceano, por uma evangelização que nunca está separada da autêntica obra de promoção humana. Na onda da emigração europeia e em resposta à questão social e política da instrução, pôde enviar os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora a vários países da América Latina: Buenos Aires (1875), San Nicolás de los Arroyos (1886), Carmen de Patagones e Vidma (1879), Santa Cruz (1885) na Argentina; Montevidéu (1876) no Uruguai; Niterói (1883) e São Paulo (1884) no Brasil; Quito (1885) no Equador; Concepción e Punta Arenas (1887) no Chile; Malvinas Falkland (1887). Os empreendimentos de alguns Salesianos pioneiros entre os indígenas da Patagônia e da Terra do Fogo, refletindo epicamente na Europa, aumentavam os entusiasmos e mobilizavam vocações missionárias no mundo juvenil salesiano, estimulado, além do mais, pela narração que Dom Bosco fazia confidencialmente de ‘sonhos proféticos’ sobre o futuro dos Salesianos nos cinco continentes. Sensível ao clima de reorganização das forças sociais católicas na Itália, Dom Bosco fundou em 1876 a União dos Cooperadores Salesianos, inspirada no princípio “vis unita fortior”. Disso resultou um amplo envolvimento da opinião pública e de várias camadas da população. A rede dos Cooperadores foi cultivada com conferências apropriadas e o lançamento do mensal Boletim Salesiano a partir de 1877. O Boletim, enviado gratuitamente também a não Cooperadores, serviu para aumentar simpatias e também buscar financiamentos para os empreendimentos que Dom Bosco estava promovendo.
Não obstante a idade avançada e a saúde frágil, nos últimos anos de vida, não deixou de viajar para sustentar as suas iniciativas. Em 1883, foi recebido por multidões de admiradores em Paris; no mesmo ano foi a Frohsdorf (Áustria); em 1884 e 1885 a Marselha; em 1886 a Barcelona; em maio de 1887, vai a Roma pela última vez. Morre em Turim, no oratório de Valdocco em 31 de janeiro de 1888 e o chefe do governo, Francisco Crispi, autorizou o seu sepultamento no colégio salesiano de Turim – Valsalice. O segredo de “Tanto espírito de iniciativa é fruto de uma profunda interioridade. A sua estatura de Santo coloca-o, com originalidade, en tre os grandes Fundadores de Institutos religiosos na Igreja. Sobressai por muitos aspectos: é o iniciador de uma verdadeira escola de nova e atraente espiritualidade apostólica; é o promotor de especial devoção a Maria, Auxiliadora dos Cristãos e Mãe da Igreja; é a testemunha de leal e corajoso sentido eclesial, manifestado através de mediações delicadas nas então difíceis relações entre a Igreja e o Estado; é o apóstolo realista e prático, aberto às contribuições das novas descobertas; é o organizador zeloso das Missões, com sensibilidade verdadeiramente católica; é, por excelência, o exemplar de um amor preferencial pelos jovens, especialmente pelos mais necessitados, para o bem da Igreja e da sociedade; é o mestre de uma eficaz e genial práxis pedagógica deixada como dom precioso a ser conservado e desenvolvido... Ele realiza a sua santidade pessoal mediante o empenho educativo, vivido com zelo e coração apostólico, e que sabe propor, ao mesmo tempo, a santidade como meta concreta da sua pedagogia. Precisamente tal intercâmbio entre “educação” e “santidade” é o aspecto característico da sua figura; ele é um “educador santo”, inspira-se num “modelo santo” – Francisco de Sales -, é discípulo de um “mestre espiritual santo” – José Cafasso -, e sabe formar entre os seus jovens um “educando santo” – Domingos Sávio” (JOÃO PAULO II, Iuvenum Patris, n. 5).
Em Dom Bosco, tudo isso também foi caracterizado pela entrega sem reservas ao ministério sacerdotal, pela atenção preferencial aos jovens e ao povo, pela simplicidade do comportamento amável e cativante, pela fantasia e iniciativa pastoral, pela capacidade de discernir os sinais dos tempos e intuir as necessidades do momento e os futuros desenvolvimentos. Ele teve uma profunda vida interior e foi ao mesmo tempo corajoso, otimista, capaz de contagiar e envolver a muitos na sua obra educativa e pastoral. Este padre, São João Bosco, ainda criança ficou órfão de pai. O Senhor deixou ao seu lado, por muito tempo, uma admirável mãe – mamãe Margarida, hoje venerável – e concedeu-lhe também uma intuição inesgotável de graça sobre a presença de Maria na vida da Igreja. A basílica que o Santo quis dedicada à Auxiliadora não só testemunha uma devoção que se tornou grande com o seu coração transfigurado pela caridade, mas também nos recorda que todo itinerário cristão é ajudado por esta Mãe, solicitado por esta presença e transfigurado por esta suavíssima maternidade.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 09/05/1837
Beatificado: 20/11/1938
Canonizado: 24/01/951
Celebração litúrgica: 13/05
Maria Domingas Mazzarello, familiarmente chamada Main, é uma jovem simples e normal, cheia de vida e sonhos, de defeitos e fraquezas, como muitas outras jovens do seu tempo. Neste sentido, está muito "próxima" de nós, torna-se companheira no caminho da santidade. Ela confirma que a santidade é possível, é linda, é plenitude de vida. Entremos na história da sua vida para descobrir como ela viveu a sua juventude e que mensagem ela nos quer deixar hoje1.
Nascida a 9 de maio de 1837, em Mornese (Alessandria), no Alto Monferrato (Piemonte), de uma família de camponeses e cristãos autênticos, Main recebeu, desde o início, uma profunda formação humana e cristã. A família foi para ela a primeira escola de fé, de humanidade e de socialização. Os pais, de caráter diferente um do outro, encontraram a sua unidade na fé e completaram-se mutuamente na educação dos filhos. Dos pais, Main herdou uma fé firme e um amor pela vida. Da mãe, aprendeu a sinceridade e generosidade, e a coragem para encarar a vida com desenvoltura e humor, amor filial a Nossa Senhora. Primogénita de treze filhos, ela era uma trabalhadora e colaboradora fiel da mãe na educação dos irmãos e irmãs.
À medida que crescia, tornou-se também o braço direito do pai no trabalho do campo. José, seu pai, de quem ela gostava muito, deixou uma marca indelével na sua vida. Ela própria reconheceria que, se havia nela alguma virtude, algo de bom, devia-o a ele. De facto, ela aprendeu com o pai a interiorizar uma visão cristã da vida. Ela mesma recordaria que, ainda menina, lhe fizera uma pergunta: «Pai, o que fazia Deus antes de criar o mundo?» A resposta do pai permaneceu-lhe impressa na sua mente durante toda a vida: «Deus contemplava-se a Si mesmo, amava-se, adorava- se»2. Assim, José colaborava para abrir os horizontes da vida e da fé à filha que se sentia imersa no mistério de Deus, aprendia a descobri-Lo na história, como presença, um Deus Pai, amante da vida, que fala no íntimo do coração. Nesta trama de boas relações familiares, Main aprendia a acolher a vida como um dom, para ser partilhado e missão a desempenhar.
Com a educação dos pais, assumiu, nos anos da adolescência e da juventude, o acompanhamento sábio e prudente de Dom Domenico Pestarino. Se hoje reconhecemos a santidade de Main, devemos também agradecer a este santo sacerdote, seu guia espiritual durante 27 anos.
Main não nasceu santa. Como toda a gente, ela tinha qualidades e defeitos. Vivia a adolescência com todos os riscos e potencialidades que esta idade traz consigo e com a força do coração que é própria deste período da vida. Do ponto de vista humano-psicológico, era uma jovem de temperamento forte e franco, inteligente, intuitiva, viva, de natureza ardente, mente clara e afetividade saudável, por natureza reflexiva e alegre; era empreendedora, dotada de grande capacidade de comunicação, caracterizada por um sentido realista e de bom humor.
Do ponto de vista espiritual, adquiriu uma vida cristã profunda. Tinha o gosto pela contemplação da natureza; ativamente empenhada no trabalho agrícola e no apostolado. A sua espiritualidade era caracterizada por uma piedade sólida, mais interior que exterior, pela simplicidade, alegria, transparência de vida e generosidade no dom de si aos outros.
No entanto, tinha de percorrer um caminho de purificação para que o seu coração jovem se tornasse cada vez mais luminoso e transparente. Todas as qualidades positivas que possuía, se não fossem orientadas sabiamente, poderiam esconder algum perigo: tornar-se impaciente e prepotente, pouco respeitadora para com os outros e até mesmo autoritária. Diz-se que, de jovem, era inclinada à vaidade no vestir, mas fazia esforço por se corrigir; era ambiciosa, levada ao orgulho, de natureza pronta, ardente e fogosa; firme nos seus pontos de vista e pouco complacente, de tal modo que ficava vermelha no rosto quando era contrariada. Era uma jovem aberta à oração, mas inicialmente sentia relutância em abeirar-se da Confissão; as prédicas aborreciam-na, às vezes chegava até a adormecer na igreja.
Maria Domingas era, ao mesmo tempo, delicada de consciência, cheia de confiança em Deus e determinada em seguir o caminho do amor. Sob a orientação sábia e exigente do seu confessor e diretor espiritual, o padre Pestarino, venceu a repugnância pela Confissão, aprendeu o domínio de si, suavizou o seu caráter, assumiu atitudes de docilidade e bondade, e, gradualmente, abriu-se a Deus e às pessoas e avançou na unificação interior. Ela, jovem de coração dócil à graça3, não teve medo de empreender o caminho do profundo, a peregrinação interior que, através da sombra do limite e do pecado, conduzia à verdade última que a habita: Deus. A experiência de Maria Domingas atesta que, sob a ação da graça, a juventude pode tornar-se uma experiência de vida bela, feliz, "agraciada", transfigurada em Cristo.
A jovem mornesina fundamentava a sua vida em alguns valores básicos: Deus, a família, as amizades, o trabalho, o dom de si mesma para a alegria dos outros, a fé em Deus. As palavras de Qoèlet parecem esclarecedoras para ilustrar a sua vida: «Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude» (Qo 12,1). Deus torna-se depressa o centro da sua existência na sua mocidade. Juntamente com a sua tarefa na família, Maria Domingas abriu-se à missão apostólica na paróquia através de uma intensa vida sacramental, especialmente empenhada na catequese e nos grupos de jovens. Abriu-se também à realidade da sua terra com a criação de uma rede de relações sociais e amizades verdadeiras e sinceras. Um exemplo de amizade autêntica foi a que se estabeleceu entre Maria Domingas e Petronilla Mazzarello, e que não diminuiu ao longo dos anos. Main foi também uma jovem profundamente "paroquiana": ela é um fruto maduro da santidade paroquial4.
Não só recebeu muito da paróquia, mas também, sem o saber, ela contribuiu para a renovação espiritual da paróquia de Mornese. Para Maria Domingas, a juventude foi também o tempo da descoberta alegre do seu próprio lugar na história, o momento emocionante da abertura à missão, recebida de Deus, da escolha de vida que requeria esforço e fidelidade. O chamamento do Senhor e o desejo de se Lhe entregar com todas as suas forças, aconteceram bastante cedo, e evoluíram progressivamente para a plena realização, passando de uma vocação laica para uma vocação religiosa salesiana.
1855 marca a data oficial da fundação da Pia União das Filhas de Maria Imaculada5, instituição que, por suas características e objetivos, antecipava os Institutos Seculares. Maria Domingas, que desde os 15 anos se tinha entregue ao Senhor com o voto de castidade, sentiu-se imediatamente atraída pela proposta e foi uma das primeiras inscritas. Durante 17 anos viveu a vocação laical, fez uma experiência forte de espiritualidade apostólica, consagrando-se a Deus explicitamente no «exercício da caridade», através de uma intensa atividade social e eclesial entre os jovens, as mães, os doentes e os necessitados da sua terra. As Filhas da Imaculada estavam ligadas umas às outras por um forte espírito de família e viviam uma forma de acompanhamento recíproco. Lê-se na sua Regra: «As Filhas da Pia União devem considerar-se como verdadeiras irmãs, e como uma boa irmã ajuda a sua querida irmã em todas as suas necessidades, assim deverão ajudar-se reciprocamente, o melhor que puderem».6 Mas, acima de tudo, viviam o acompanhamento recíproco como amizade espiritual para crescer no amor de Deus, a correção fraterna, advertindo sobre os defeitos, o exercício da caridade.
Uma experiência fundamental e decisiva na vida de Main aconteceu quando ela tinha 23 anos de idade. Ela foi atingida pelo tifo. Foi a experiência dura da prova e da confiança total em Deus. A doença ameaçou a sua vida e o seu futuro. Deus, porém, na sua imensa bondade, tinha para ela um novo projeto de amor. Quando tudo parecia ter terminado, começou para ela uma aventura fascinante. Main, fragilizada na sua força física, não se fechou em si mesma, mas reagiu de uma maneira resiliente e perguntou o que queria Deus dela. Ele quer tudo, o dom total da vida, até mesmo a fragilidade, para fazer dela um dom para os outros jovens. Main abandonou-se a Ele num gesto de confiança: «Oh, Senhor! Se me dais ainda algum tempo de vida, fazei que eu seja esquecida por todos. Sou feliz por ser recordada apenas por vós»7. O Senhor escutou a sua oração e achou-a preparada para a nova missão.
Indo um dia por uma estrada do Borgoalto, em Mornese, teve uma visão misteriosa: viu um grande edifício com muitas meninas que corriam no pátio, e ouviu uma voz que disse: «A ti as confio»8. Para Maria Domingas, este era um chamamento a abraçar uma missão maior que ela. Com grande humildade, acolheu o que Deus lhe pediu e fez uma escolha radical de vida: dedicar-se totalmente à educação cristã das jovens. O amor é sempre criativo, ousado e desperta as melhores energias de bem que existem na pessoa. Depois, uma intuição, quase uma marca divina: aprender costura com uma finalidade educativa, ensinar às jovens uma profissão, mas sobretudo educá-las a conhecer, amar e servir o Senhor.
O amor envolve e arrasta. Partilhou a sua intuição, que a abriu a um novo futuro, com a sua amiga Petronilla e foi nascendo assim, progressivamente, uma oficina de costura, um oratório, um lar. O Espírito Santo moldou nela um coração materno. Prudente e sábia, educou as meninas com amor preventivo. A obra cresceu. Uniram-se a Maria Domingas outras companheiras naquela missão e, em 1867, começaram a viver em comunidade na Casa Imaculada, próxima da paróquia. O grupo era incentivado e acompanhado por dom Pestarino. Maria Domingas não sabia para onde a conduzia o Senhor, mas confiou n'Ele, escolheu o caminho da radicalidade evangélica expressa na fidelidade ao quotidiano e na alegria do coração apaixonado por Cristo.
Algo estava para acontecer e, mais uma vez, mudou a sua vida, ou melhor, ampliou os seus horizontes de mulher educadora apaixonada. Em outubro de 1864, Dom Bosco foi, pela primeira vez, a Mornese. Era o primeiro encontro entre os dois "Santos dos jovens". Maria Domingas percebeu de imediato a santidade daquele sacerdote: «Dom Bosco é um santo e eu sinto-o!»9 A Dom Bosco, certamente, não passou despercebido aquele grupo das Filhas da Imaculada e o bem que elas estavam a realizar às meninas da terra. E, quando se tratou de fundar um instituto religioso, dedicado à educação das jovens, Dom Bosco escolheu, precisamente daquele grupo, as primeiras pedras da futura obra.
Quando Maria Domingas ouviu a sua proposta, não hesitou: pronunciou, imediatamente, sem hesitar, o seu sim e tornou-se Co-fundadora do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). No dia 5 de agosto de 1872, Maria Domingas Mazzarello e dez das suas companheiras deram início ao novo Instituto, consagrando-se a Deus com votos religiosos. Ela tinha 35 anos; era uma mulher adulta. A sua paixão apostólica pela salvação das jovens, em poucos anos alcançou as dimensões do mundo. Viveu os últimos nove anos numa intensa maternidade espiritual e sem nunca perder a juventude do espírito.
Ir. Eliane Anschau Petri (FMA)
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1 Para mais informações, pode ser útil refletir sobre a “missão” de Maria Domingas Mazzarello em relação aos jovens cf ANSCHAU PETRI Eliane, A santidade de Maria Domingas Mazzarello. Hermenêutica teológica dos testemunhos nos processos de canonização e beatificação, Roma, LAS 2018, 300-311.
2 MACCONO Ferdinando, Santa Maria Domingas Mazzarello. Cofundadora e primeira Superiora Geral das Filhas de MariaAuxiliadora, vol. I, Turim, Instituto FMA 1960, 17.
3 A “docibilitas” é a capacidade da mente e do coração de se deixar formar pela vida ao longo de toda a existência. Esta atitude permite viver cada dia e cada relação, cada idade e estação, cada acontecimento e circunstância, mesmo as inéditas ou que parecem adversas, como tempo e oportunidade de formação (cf CENCINI Amedeo, A árvore da vida. Para um modelo de formação inicial e permanente, Cinisello Balsamo [Milão], São Paulo 2005, 125).
4 Cf POSADA María Esther, História e santidade. Influência do teólogo Giuseppe Frassinetti sobre a espiritualidade de Santa Maria Domingas Mazzarello, Roma, LAS 19922, 107.
5 A Associação das Filhas da Imaculada surgiu da intuição de uma outra jovem mornesina: Ângela Macanho (Mornese 1830-1890) oriunda de uma família abastada. Foi a primeira professora municipal da aldeia, completando a sua formação em Génova. Naquela cidade conheceu José Frassinetti, que se tornou seu diretor espiritual. Distinguiu-se pela sua dedicação apostólica e pela espiritualidade mariana. Em 1851 ela teve a inspiração de iniciar em Mornese a Pia União das Filhas da Imaculada e escreveu o primeiro esboço da Regra. Frassinetti compilou, com base nesse "esboço", uma Regra, que publicou em 1856 e reelaborou em 1863. A Macanho foi a primeira Superior da Pia União de Mornese. Morreu em conceito de santidade a 16 de janeiro de 1890. Dom Domenico Pestarino foi promotor e guia espiritual desta Associação.
6 Expressão presente na fórmula de consagração das Filhas da Imaculada estabelecida pela Regra (cf FRASSINETTI José, Regra da Pia União das Filhas de Santa Maria Imaculada, in ID., Obras ascéticas, vol. II, ao cuidado de Giordano Renzi, Roma, Postulação Geral dos Filhos de S. Maria Imaculada 1978, 69).
7 Cronistoria I 93.
8 Ivi 96.
Fonte: cgfmanet.org/pt

Nascimento: 12/10/1880
Beatificado: 14/04/2002
No dia 9 de abril de 2022, o Santo Padre Francisco recebeu em Audiência, Sua Emcia. Revma. Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos. Durante a audiência, o Sumo Pontífice autorizou a mesma Congregação a promulgar o Decreto relativo ao milagre atribuído à intercessão do Bem-Aventurado Artêmide Zatti, Leigo Professo da Sociedade Salesiana de São João Bosco, nascido em 12 de outubro de 1880 em Boretto (Itália) e falecido em 15 de março de 1951 em Viedma (República Argentina). Com este ato do Santo Padre, se abre, portanto, o caminho para a Canonização do Bem Aventurado Artemide (Artêmides) Zatti SDB. A data da Canonização será decidida pelo Sumo Pontífice no decorrer de um Consistório ordinário.
Artemide (Artêmides) Zatti nasceu em Boretto (Reggio Emilia), Itália, no dia 12 de outubro de 1880. Experimentou muito cedo a dureza do sacrifício, pois já aos nove anos devia ajudar nos trabalhos do campo. Nos inícios de 1897, obrigada pela pobreza, a Família Zatti teve de migrar para a Argentina, estabelecendo-se em Bahía Blanca, onde o jovem Artêmides começou a frequentar a paróquia dirigida pelos Salesianos, achando no Pároco – Pe. Carlos Cavalli, pessoa afável e pia, e de uma bondade extraordinária – o seu diretor espiritual. Foi ele quem o orientou para a vida salesiana.
Artêmides já contava 20 anos quando entrou para o aspirantado de Bernal e, ao dar assistência a um jovem sacerdote afeto de tuberculose, contraiu a mesma doença. O interesse paterno do Pe. Cavalli – que o seguia de longe – fez com que lhe escolhessem a Casa salesiana de Viedma, onde o clima era mais adaptado e sobretudo porque havia um hospital missionário, com um muito capaz enfermeiro salesiano que praticamente fazia de “médico”: o Pe. Evasio (Evásio) Garrone. Este convidou Artêmides a rezar a Nossa Senhora Auxiliadora para obter a cura, sugerindo-lhe fazer uma promessa nestes termos: “Se Ela o curar, você vai se dedicar por toda a vida a estes doentes”. Artêmides não pensou duas vezes: fez a promessa e misteriosamente sarou. Ele diria depois: “Acreditei. Prometi. Sarei!”. O seu caminho já estava traçado com clareza e ele o empreendeu com entusiasmo. Aceitou, com humildade e docilidade, o não pequeno sofrimento de renunciar ao sacerdócio, vivendo em plenitude e com alegria a vocação de Salesiano Coadjutor (ou Irmão). Fez a primeira Profissão religiosa como Salesiano Leigo no dia 11 de janeiro de 1908 e a Profissão perpétua no dia 8 de fevereiro de 1911. Coerentemente com sua promessa a Nossa Senhora, devotou-se imediata e totalmente ao Hospital, cuidando, num primeiro momento, da farmácia anexa. A seguir, quando em 1913 morreu o Pe. Garrone, teve de arcar com toda a responsabilidade pelo Hospital: tornou-se de fato vice-diretor, administrador e enfermeiro especialista, estimado por todos os doentes e pelo mesmo pessoal sanitário, o qual lhe deixava cada vez mais liberdade de ação.
Seu serviço não se limitava ao hospital: estendia-se a toda a cidade; ou melhor, às duas localidades situadas às margens do Rio Negro: Viedma e Patagones. Em caso de necessidade, desabalava a qualquer hora do dia ou da noite, com qualquer tempo, chegando aos tugúrios da periferia, e tudo fazendo gratuitamente. A sua fama de enfermeiro santo se difundiu por todo o Sul; e de toda a Patagônia lhe chegavam doentes. Não era raro o caso de doentes preferirem a consulta do enfermeiro santo àquela dos médicos de plantão.
Artêmides Zatti amava os seus doentes de modo realmente comovente. De tal forma via neles o mesmo Jesus Cristo que quando pedia às religiosas roupas para um menino recém-chegado, dizia: “Oi, Irmã, teria aí uma roupinha para um Jesus de 12 anos?”. A sua atenção aos doentes era tal que chegava a delicados matizamentos. Há quem lembre de o ter visto levar aos ombros, para a câmara mortuária, o corpo de um residente, falecido durante a noite, para o subtrair da vista dos demais enfermos: e o fazia rezando o Salmo 130. Fiel ao espírito salesiano e ao lema – “trabalho e temperança” – deixado por Dom Bosco a seus jovens, desempenhou uma atividade prodigiosa com habitual prontidão de ânimo, com heroico espírito de sacrifício, com absoluta indiferença perante qualquer satisfação pessoal, sem nunca tirar férias, ou descansar. Houve quem dissesse que os únicos cinco dias de descanso que ele tirou foram os passados na... prisão! Sim, conheceu também a prisão: por causa da fuga de um preso residente no Hospital, fuga que se lhe quis atribuir a ele. Deixou a prisão absolvido e sua volta para casa foi mais que triunfal.
Era pessoa de fácil relacionamento humano, com visível carga de simpatia, feliz de poder deter-se e papear com a gente humilde. Mas foi sobretudo um homem de Deus: irradiava-O! Um médico do hospital, praticamente incrédulo, diria depois: “Quando via o Sr. Zatti, a minha incredulidade vacilava!”. E outro: “Eu creio em Deus desde o dia em que conheci o Sr. Zatti”.
Em 1950 o incansável enfermeiro caiu de uma escada: foi nessa ocasião que se manifestaram os sintomas de um tumor maligno que ele mesmo lucidamente diagnosticou. Continuou, entretanto, a cumprir sua promessa por mais um ano, até que, depois de sofrimentos heroicamente aceitos, foi-se apagando, também lucidamente, em 15 de março de 1951, cercado pelo afeto e a gratidão de toda a população.
Foi declarado Venerável em 7 de julho de 1997 e Bem-Aventurado (ou Beato) por São João Paulo II na Praça de São Pedro, no dia 14 de abril de 2002.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 21/08/1567
Beatificado: 08/01/1661
Canonizado: 08/04/1665
Celebração litúrgica: 24/01
São Francisco de Sales nasceu no castelo de Sales (Alta Saboia francesa) no dia 21 de agosto de 1567. Estudou filosofia e teologia em Paris e formou-se em direito civil e eclesiástico em Pádua. Foi ordenado sacerdote no dia 18 de dezembro de 1593 e ofereceu-se ao bispo para reconduzir os calvinistas do Chablais de volta à fé católica. Eleito bispo de Genebra no dia 8 de dezembro de 1602, mesmo residindo em Annecy, desenvolveu uma ampla pregação e implementou as reformas do Concílio de Trento. De espírito nobre, agudo, humanista e culto, foi um grande diretor espiritual: abriu a todos os caminhos da santidade (Filoteia ou Introdução à Vida Devota), mostrando a essência da vida espiritual no amor de Deus (Teótimo ou Tratado do Amor de Deus). Intuiu a importância da imprensa, como homem de ação, estabeleceu em Thonon uma Academia que reunia as mentes mais brilhantes, para aprofundamento da ciência e iniciação dos jovens na formação profissional. Ele, com Santa Joana de Chantal, também fundou e dirigiu a Ordem da Visitação. Morreu em Lião, no dia 28 de dezembro de 1622. A trasladação do seu corpo para Annecy (24 de janeiro de 1623) está na origem da data da sua comemoração depois do Concilio Vaticano II.
Foi beatificado em 1661, canonizado por Alexandre VII em 1665, proclamado Doutor da Igreja por Pio IX em 7 de julho de 1877 e nomeado patrono dos jornalistas e escritores católicos em 26 de janeiro de 1923, por Pio XI. No seu apostolado, Dom Bosco se inspirou em São Francisco de Sales, por sua amorável bondade e humanidade, tomando-o Patrono e dando o seu nome a sua Congregação, chamando-a “Pia Sociedade de São Francisco de Sales”.
Algumas passagens, retiradas de suas obras-primas, podem nos ajudar a enquadrar sua figura.
Na Filoteia, ou “Introdução à vida devota”, escreveu com ironia: “As pessoas comuns difamam a devoção e dizem que os devotos são tristes, mal-humorados, insinuando que a devoção os torna melancólicos e insuportáveis. Todavia, de acordo com Josué e Caleb, que asseguraram que a terra prometida era fértil e bela e sua posse útil e agradável, o Espírito Santo, pela boca de todos os santos, e Nosso Senhor, com sua Palavra, nos assegura que a vida devota é suave, aprazível e ditosa”.
As numerosas Cartas, que revelam o íntimo do coração deste santo, referem-se à amizade de uma forma maravilhosa, precisamente porque ele tem como fonte Deus. No Teótimo, ou “Tratado sobre o amor de Deus”, ele mostra um coração que é, antes de tudo, totalmente apaixonado por Deus, ou melhor, conquistado em todas as suas fibras pela benevolência do Senhor e apaixonado pela Mãe de Deus. “As sagradas chamas da Virgem, não podendo morrer, nem diminuir, nem permanecer as mesmas, nunca deixaram de crescer imensamente até o céu, lugar de sua origem; de modo que esta Mãe é ‘a Mãe do belo Amor’, isto é, a mais amável e mais amorosa, e a mais amorosa como a mais amada Mãe daquele único Filho, que é também o mais amável, o mais amante e o mais amado Filho dessa única Mãe”.
Bento XVI faz o seguinte comentário sobre o santo: “São Francisco de Sales é uma testemunha exemplar do humanismo cristão; com seu estilo familiar, com parábolas que às vezes têm as asas da poesia, ele recorda que o homem traz inscrita no profundo de si mesmo a saudade de Deus, e que somente nele encontra a alegria autêntica e a sua realização mais completa”.
Confira a página preparada pela Rede Salesiana Brasil em comemoração aos 400 anos de São Francisco de Sales e acesse diversos materiais gratuitos. Clique aqui.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 08/06/1903
Beatificado: 15/05/1983
Canonizado: 01/10/2000
Celebração litúrgica: 25/02
Calisto Caravario, uma vida toda refulgente do alvorecer ao crepúsculo, toda voltada para o ideal de um sacerdócio santo e coroada pelo martírio aos vinte e seis anos e nove meses de vida. Calisto Caravario nasceu em Cuorgné, Piemonte, em 8 de junho de 1903, de uma família operária que se transferiu para Turim quando Calisto tinha apenas cinco anos. Desde a mais tenra idade Calisto foi atraído pelo ideal do sacerdócio, que depois amadureceu no ambiente salesiano de Turim, no oratório “São José”, na escola elementar do colégio de “São João Evangelista” e no ginásio do Oratório de Valdocco. Em 19 de setembro de 1919, emitiu os votos religiosos na Congregação de Dom Bosco. Completou, em seguida, os estudos clássicos no Liceu Valsalice de Turim, onde estava a sepultura do Fundador (1919-1923). Em outubro de 1922, conheceu Dom Versiglia, em passagem por Turim, a quem revelou: “Eu o seguirei na China”. Realmente, em outubro de 1924, aos 21 anos, o clérigo Caravario partiu como missionário para a China. Esteve três anos em Xangai (1924-1927) e dois na ilha de Timor (1927-1929), como assistente e catequista dos meninos órfãos ou abandonados. Enquanto isso, estudava teologia. No quadriênio de estudos teológicos (1925-1929), o ideal do sacerdócio preencheu toda a sua alma. As 82 cartas, escritas à sua mãe nesse período, transbordam desse anseio: ser sacerdote, sacerdote santo para levar as almas a Deus; nelas se pode admirar todo o seu amor por Deus, pelo qual estava pronto para qualquer coisa, também para o sacrifício supremo da vida: “Agora o teu Calisto não é mais teu, deve ser completamente do Senhor, dedicado completamente ao seu serviço! [...] O meu sacerdócio será breve ou longo? Não o sei; o importante é que eu faça o bem e que, apresentando-me ao Senhor, possa dizer de ter feito frutificar, com a sua ajuda, as graças que Ele me deu”. Durante o período em Timor, à sede de santidade acrescenta-se o desejo ardente de sacrificar a vida pela salvação das almas e o pressentimento do martírio. Apresentar-se-á ao Senhor com os seus frutos já no ano seguinte, sacerdote há oito meses.
Em 18 de maio de 1929, Calisto foi consagrado sacerdote por dom Luís Versiglia em Shiu-Chow (Cantão). Logo depois foi enviado à sede missionária de Lin-Chow, onde suscitou admiração dos coirmãos Salesianos e dos fiéis cristãos pelas virtudes sacerdotais e o zelo apostólico. Depois de sete meses de trabalho missionário em Lin-Chow (julho de 1929 a janeiro de 1930), Pe. Caravário desceu a Shiu-Chow, centro do vicariato, para acompanhar dom Versiglia, que iria fazer a visita pastoral em Lin-Chow. Dom Luís Versiglia e o Pe. Calisto Caravário partiram de trem em 24 de fevereiro, com duas alunas do colégio “Dom Bosco”, que retornavam à casa para as férias, duas de suas irmãs e uma catequista-professora. A situação político-social era turbulenta devido às contínuas guerrilhas que atormentavam os territórios do sul da China; o bispo esperava tempos melhores para a visita pastoral aos cristãos de Lin-Chow, mas depois partiu assim mesmo porque “se esperarmos que as estradas estejam seguras, não partiremos nunca... Não, não, ai de nós se prevalecer o medo! Seja o que Deus quiser!”. No dia 25, continuaram a viagem de barco pelo rio Pak-kong. Depois, uma breve parada em Ling Kong How. Ao meio-dia navegam novamente pelo rio, na direção de Li Thau Tzeui. Estão a recitar o Angelus, quando improvisamente um grito selvagem explode na margem. Uma dezena de homens, com fuzis apontados, intimam à embarcação que atraque na margem. O barqueiro é obrigado a obedecer. “Com qual proteção viajam?”, perguntam-lhe; o barqueiro: “De ninguém; isso nunca foi obrigatório para os missionários”. Dois homens sobem ao barco e descobrem, sob um abrigo, as três mulheres, que querem levar com eles, mas Dom Luís e o Pe. Calisto defendem-nas, criando uma barreira. Os criminosos, gritando, dão violentas coronhadas em seus corpos, que caem por terra. O bispo tem a força de exortar a Maria Thong: “Aumenta a tua fé”, enquanto o Pe. Calisto murmura: “Jesus... Maria!”. Os missionários são amarrados e arrastados para um bosque. Um dos bandidos afirma: “É preciso destruir a Igreja Católica”. Dom Luís e Pe. Calisto compreendem que chegou o momento de testemunhar a fé em Cristo com a vida. Estão serenos. Põem-se a rezar em voz alta, ajoelhados e olhando para o alto. Cinco tiros de fuzil interrompem o seu louvor estático. As mulheres, chorando, tiveram que acompanhar seus agressores, enquanto os jovens foram obrigados a ir embora sem olhar para trás. Os despojos dos mártires foram recolhidos e sepultados em Shiu-Chow, depois desenterrados e dispersos. O Papa Paulo VI, em 1976, declarou Dom Versiglia e Pe. Caravário mártires; João Paulo II, em 15 de maio de 1983, beatificou-os e em 1º de outubro de 2000 proclamou-os santos com outros 120 mártires chineses.
Confira algumas imagens de São Calisto Caravário clicando aqui.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 05/06/1873
Beatificado: 15/05/1983
Canonizado: 01/10/2000
Celebração litúrgica: 25/02
Em 1885, São João Bosco revelara aos Salesianos reunidos em San Benigno Canavese, Piemonte, que sonhara com uma multidão de jovens caminhando ao seu encontro: “Nós te esperávamos há muito tempo!”; em outro sonho, viu elevar-se ao céu dois grandes cálices, um cheio de suor e o outro, de sangue. Quando em 1918, um grupo de missionários salesianos partiu de Valdocco, Turim, para Shiu-Chow no Kwang-tung, China, o Reitor-Mor, Pe. Paulo Albera, deu-lhes o cálice com que celebrara as bodas de ouro de consagração e os 50 anos do santuário de Maria Auxiliadora. O precioso e simbólico presente foi entregue pelo Pe. Sante Garelli ao Pe. Versiglia, que declarou: “Dom Bosco viu que quando, na China, um cálice estivesse cheio de sangue, a Obra salesiana seria difundida admiravelmente entre este povo imenso. Tu me trazes o cálice visto pelo Pai: a mim [cabe] enchê-lo de sangue para a realização da visão”.
Luís Versiglia nasceu em Oliva Gessi, província de Pavia, em 5 de junho de 1873. Em 1885, aos doze anos, aceitou ir estudar no Oratório de Valdocco, em Turim, com a condição de não se fazer padre. Contudo, a graça de Deus, o ambiente saturado de religiosidade e ardor missionário, o fascínio de Dom Bosco em seus últimos anos de vida, transformaram o espírito do jovem que, num fugaz encontro em 1887 ouviu do santo: “Vem encontrar-me, tenho algo a dizer-te”; mas Dom Bosco não pôde mais conversar com Luís devido à doença e morte. O jovem, porém, permaneceu ligadíssimo à figura de Dom Bosco tanto que, para responder ao chamado vocacional, no final dos estudos em Valdocco, fez o pedido para “ficar com Dom Bosco” trazendo no coração a secreta esperança de um dia ser missionário. Aos 16 anos, emitiu os votos religiosos na Congregação Salesiana.
Foi noviço modelo em Foglizzo, província de Turim, e fez a profissão religiosa em 11 de outubro de 1889. Enquanto estudava filosofia em Valsalice, Turim (1889-1890), escreveu ao diretor espiritual que o desejo de ser missionário aumentava a cada dia, mas temia que fosse um desejo fantasioso, porque não possuía as virtudes necessárias, e especificava o que ainda deveria obter. Inicia aqui o caminho ascético, que em quarenta anos o levará aos vértices mais elevados das virtudes cristãs e ao ápice da caridade. Foi a conquista árdua de um coração generoso e de uma vontade inflexível, sustentada pela piedade sincera e pela profunda humildade. São os dotes característicos da sua personalidade.
Frequentando a Universidade Gregoriana de Roma (1890-1893) une o estudo ao apostolado entre os meninos do oratório salesiano do Sagrado Coração, com sucessos auspiciosos num e noutro campo. Os meninos queriam-lhe bem e os coirmãos admiravam-no pelas suas belas qualidades. Ele, porém, profunda e sinceramente humilde, acreditava ser o último entre os companheiros de estudo e continuava a esforçar-se para adquirir as virtudes necessárias ao bom missionário. Obtida a láurea em Filosofia (1893), os Superiores confiaram-lhe o delicado trabalho de professor e assistente dos noviços em Foglizzo (1893-1896). Foi professor claro e límpido, assistente atento e, a seu tempo, também severo, plasmador eficaz de caracteres, mas sempre afável, humilde, bom amigo de todos e o mais estimado entre os coirmãos da casa.
Após a ordenação sacerdotal (21 de dezembro de 1895), foi escolhido como diretor e mestre dos noviços na nova casa de Genzano, província de Roma, apesar das suas resistências por se sentir incapaz, dada também a jovem idade de 23 anos. Foi por dez anos (1896-1905) um ótimo formador de almas religiosas e sacerdotais, estimado e amado como um pai. Muitas dezenas de Salesianos testemunharam a veneração que tinham pelo seu caro mestre; também os moradores de Genzano o recordaram por muitos anos. Durante esse decênio, Pe. Versiglia continuou a manter vivo o desejo das missões e, retomando uma prática juvenil, exercitou-se até mesmo em andar a cavalo, acreditando que fosse útil para a vida missionária. Quando, no verão de 1905, lhe veio o convite para dirigir o primeiro grupo de missionários Salesianos à China, ele o acolheu com entusiasmo, como o maior presente, aquele que pedira ao Senhor e preparara com o intenso trabalho interior desde o dia em que, aos quinze anos, escolhera “ficar com Dom Bosco”.
Pe. Versiglia encontrou em Macau um pequeno orfanato de propriedade do bispo local. Em 12 anos de trabalho, com a ajuda de uma dúzia de coirmãos e num terreno maior, transformou-o numa moderna escola profissional para 200 alunos internos, órfãos em sua maioria, que eram iniciados numa profissão. Em 1911, ajudado por outro Salesiano santo, Pe. Luís Olive (falecido prematuramente aos 52 anos devido à cólera contraída no ministério), o Pe. Versiglia iniciou a missão de Heungshan, região entre Macau e Cantão. Seu zelo apostólico pela salvação das almas alcançou cumes heroicos entre os doentes de peste bubônica e os hansenianos.
Em 1918, a Santa Sé confiou aos Salesianos a nova missão de Shiu-Chow ao norte do Kwang-tung. Pe. Versiglia foi designado pelos superiores de Turim para organizar a missão com a ajuda de uma dezena de sacerdotes, enviados da Itália. Em 1920, a missão foi erigida como vicariato apostólico e logo correu a voz de que o Pe. Versiglia seria eleito Vigário e consagrado Bispo. Ele escreveu cartas dolorosas aos superiores de Turim, declarando a própria absoluta incapacidade e implorando que o exonerassem daquele cargo. Porém, Dom De Guébriant declarava publicamente que, se a escolha fosse feita pela voz do povo, até as mais tenras crianças teriam aclamado o Pe. Versiglia como pai e pastor. Consagrado bispo em Cantão no dia 9 de janeiro de 1921, Dom Versiglia acrescentou aos trabalhos do ministério pastoral no vastíssimo território sem estradas, ásperas penitências, que chegavam à flagelação cruenta. Em 1926, a convite dos superiores de Turim, participou do Congresso Eucarístico de Chicago. Uma grave operação cirúrgica reteve-o por um ano nos Estados Unidos. Quando a saúde permitia, ocupava-se também com a propaganda missionária, deixando sempre uma extraordinária impressão.
Retornando a Shiu-Chow, os coirmãos fizeram-no encontrar uma novidade: a residência episcopal. Era uma casa graciosa de estilo chinês, não rica, construída ao lado do instituto Dom Bosco, onde o bispo sempre habitara em dois pequenos quartos perturbados pelas movimentações dos mais de 300 alunos. A nova construção parecia-lhe um luxo e recusou categoricamente o nome de residência episcopal. Resignou-se a morar nela, desde que se chamasse e fosse realmente “Residência do missionário”, onde pudessem hospedar-se os missionários doentes e os que estavam de passagem ou viessem para reuniões.
Em 12 anos de missão, de 1918 a 1930, Dom Versiglia conseguiu realizar prodígios numa terra hostil aos católicos: criou 55 estações missionárias primárias e secundárias em relação às 18 que encontrou, ordenou 21 sacerdotes, formou 2 religiosos leigos, 15 irmãs locais e 10 estrangeiras, deixou 31 catequistas (18 mulheres), 39 professores (8 mulheres) e 25 seminaristas. Levou ao Batismo três mil cristãos convertidos, diante dos 1.479 que encontrou à sua chegada. Criou um orfanato, uma casa de formação para as catequistas, uma escola para os catequistas; o Instituto Dom Bosco, compreendendo algumas escolas profissionais, complementares e de magistério para os jovens; o Instituto “Maria Auxiliadora”, para as meninas; um asilo para idosos; um internato para crianças abandonadas; dois ambulatórios e a Residência do Missionário, como desejava que fosse chamada a residência episcopal. O bispo não se detinha diante de nada, nem das carestias, das epidemias, das derrotas que se apresentavam diante dele e de seus colaboradores, nem sempre humanamente recompensados: apostasias, calúnias, abandonos, incompreensões, fraquezas... Tudo era superado graças à oração intensa e constante. Nos anos dedicados à China, Dom Versiglia jamais se cansou de exortar os seus sacerdotes ao diálogo com o Senhor e com a Virgem Maria. Não por acaso correspondia-se com as monjas carmelitas de Florença, pedindo delas apoio espiritual.
A situação política da China não era tranquila: a nova República Chinesa, surgida em 10 de outubro de 1911, com o general Chang Kai-shek, trouxera a unidade à China, vencendo em 1927 os “senhores da guerra” que tiranizavam várias regiões. Contudo, a pesada infiltração comunista na nação e no exército, sustentada por Stalin, persuadira o general a apoiar-se na direita e declarar fora da lei os comunistas (abril de 1927); por isso, recomeçara a guerra civil. A província de Shiu-Chow, localizada entre o Norte e o Sul, era lugar de passagem ou de permanência dos vários grupos que combatiam entre si e, por isso, eram comuns os furtos, incêndios, violências, crimes, sequestros. Era também difícil distinguir, nos bandos de saqueadores, os soldados dispersos, os mercenários, os assassinos pagos, os piratas que se aproveitavam do caos. Naqueles tristes tempos também os estrangeiros arriscavam a vida e eram classificados com desprezo como “diabos brancos”. Os missionários, em geral, eram amados pelo povo mais pobre, e as Missões eram refúgio nos momentos de saque. Os mais temíveis, porém, eram os piratas, que não respeitavam ninguém, e os soldados comunistas para quem a destruição do cristianismo era um projeto. Por isso, nas viagens necessárias para as atividades missionárias às várias e espalhadas aldeias, os catequistas e as catequistas, as professoras e as meninas, só se punham em viagem acompanhados pelos missionários.
Devido ao perigo das estradas de terra e dos rios, também dom Luís Versiglia ainda não pudera visitar os cristãos da pequena missão de Lin-Chow, composta por duas pequenas escolas e duzentos fiéis na devastada cidade de 40 mil habitantes, conturbada pela guerra civil. Contudo, em fins de janeiro de 1930, convenceu-se de que devia partir. Nos primeiros dias de fevereiro chegou ao centro salesiano de Shiu-Chow o jovem missionário Pe. Calisto Caravário, de 26 anos, responsável pela missão de Lin-Chow para acompanhar Dom Versiglia na viagem. Preparadas as provisões, tanto para a viagem prevista de oito dias como para as necessidades da pequena missão, na manhã de 24 de fevereiro deu-se a partida do grupo por trem; o grupo era formado por Dom Versiglia, Pe. Caravário, dois jovens professores diplomados no Instituto Dom Bosco (um cristão e outro pagão), suas duas irmãs Maria, de 21 anos (professora) e Paula, de 16 anos (que deixando os estudos, voltava à família) e a catequista Clara, de 22 anos. Depois de uma parada noturna na casa salesiana de Lin-Kong-How, em 25 de fevereiro, tomaram o barco que devia subir pelo rio Pak-kong até Lin-Chow; acrescentou-se ao grupo uma catequista idosa, que iria ajudar a jovem Clara, e um menino de 10 anos, que ia para a escola do Pe. Caravário. O grande barco era conduzido por quatro barqueiros e, subindo o rio, pelo meio-dia, avistaram na margem algumas fogueiras avivadas por uma dezena de homens que, quando o barco chegou à sua altura, intimaram que se aproximassem e parassem. Perguntaram aos barqueiros, apontando fuzis e pistolas, quem estavam transportando, e sabendo que se tratava do bispo e de um missionário, disseram: “Não podem levar ninguém sem a nossa proteção. Os missionários devem pagar-nos 500 dólares ou serão todos fuzilados”. Os missionários tentaram fazê-los entender que não tinham tanto dinheiro, mas os piratas subindo no barco descobriram as meninas escondidas numa espécie de barraca na popa, e gritaram: “Vamos levar suas mulheres embora!”. Os missionários disseram que não eram suas mulheres, mas alunas acompanhadas às suas casas; ao mesmo tempo, com seus corpos, tentavam bloquear a entrada do barco. Os piratas, então, ameaçaram pôr fogo no barco, levando feixes de lenha de um barco próximo, mas a lenha era fresca e não se acendeu logo, enquanto os missionários conseguiam apagar as primeiras chamas. Enfurecidos, os piratas pegaram galhos mais grossos e bateram nos dois missionários. Depois de muitos minutos o bispo, de cinquenta e sete anos, caiu e, depois de alguns minutos, também o Pe. Caravário caiu pesadamente; a esta altura, os criminosos atacaram as mulheres arrastando-as à margem entre seus prantos desesperados. Os dois missionários também foram levados à terra. Os barqueiros, com a velha catequista, o menino e os dois irmãos das jovens foram liberados para irem embora; estes, depois, avisaram os missionários e as autoridades, que mandaram grupos de soldados.
Entretanto, consumava-se a tragédia na margem do rio. Os dois Salesianos amarrados confessaram-se um ao outro, exortando as três jovens a serem fortes na fé; em seguida, os piratas fizeram-nos caminhar por uma pequena estrada ao longo do Shiu-pin, pequeno afluente do Pak-kong, na região de Li Thau Seui. Dom Versiglia implorou-lhes: “Eu sou velho, matem-me; mas ele é jovem, poupem-no”. As mulheres, enquanto eram empurradas, ouviram cinco tiros de fuzil e, dez minutos depois, os executores voltaram dizendo: “São coisas inexplicáveis; já vimos de tudo... todos temem a morte. Estes dois, porém, morreram contentes, e estas jovens não desejam outra coisa senão morrer”. Era o dia 25 de fevereiro de 1930. As jovens foram arrastadas para a montanha, ficando ao léu dos bandidos por cinco dias. Em 2 de março, os soldados chegaram ao covil dos bandidos que, depois de breve embate a fogo fugiram deixando livres as jovens, que se tornaram testemunhas preciosas e atendíveis do martírio dos dois missionários salesianos.
Confira algumas imagens de São Luís Versiglia clicando aqui.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 02/04/1842
Beatificado: 05/03/1950
Canonizado: 12/06/1954
Celebração litúrgica: 06/05
Domingos Sávio nasce no povoado de San Giovanni, distrito de Riva di Chieri em Turim, na Itália, em 2 de abril de 1842, o segundo filho de Carlos e Brígida Gaiato, entre os 10 irmãos. O pai vem de Ranelle, povoado de Castelnuovo d’Asti (hoje Castelnuovo Dom Bosco) e exerce a profissão de ferreiro; a mãe é originária de Cerreto d’Asti e é costureira. Domingos é batizado no mesmo dia do nascimento na igreja paroquial de Riva di Chieri, como resulta da certidão de Batismo assinada pelo pároco Pe. Vicente Burzio. Em novembro de 1843, a família de Sávio transfere-se para Morialdo, povoado de Castelnuovo d’Asti, a cerca de um quilômetro dos Becchi, onde está a casa de Dom Bosco. Lá, Domingos passa uma infância serena, rica de afeto e dócil aos ensinamentos religiosos dos pais, profundamente cristãos. Etapa fundamental do seu extraordinário itinerário de santidade é a Primeira Comunhão, à qual é admitido excepcionalmente aos 7 anos de idade. Daquele evento são conhecidos os “Propósitos”:
“1º Confessar-me-ei com muita frequência e farei a comunhão sempre que o confessor me der licença; 2º Quero santificar os dias festivos; 3º Os meus amigos serão Jesus e Maria; 4º A morte, mas não o pecado”.
Estes propósitos, que Domingos renovará todos os dias da vida e que marcarão a existência de muitos outros jovens santos, já exprimem um grande nível de santidade, a ação da Graça, que Dom Bosco mesmo reconhecerá, valorizará e orientará.
Domingos cresce e quer aprender. Vai à escola com muito empenho: cerca de 15 quilômetros, todos os dias, sozinho, por estradas inseguras: “Meu caro, não temes caminhar sozinho por estas estradas?”, pergunta-lhe um colega. “Eu não estou sozinho, tenho o anjo da guarda que me acompanha em todos os passos”. Certa manhã de inverno, na escola, enquanto esperam pelo professor, os colegas enchem a estufa de pedras e neve. Ao professor, irado, os colegas dizem: “Foi Domingos!”. Ele não se desculpa, não protesta, e o professor castiga-o severamente, enquanto os outros riem. Mas, no dia seguinte, a verdade vem à tona. “Por que – pergunta-lhe o professor – não disseste logo que eras inocente?”. Domingos responde: “Porque aquele fulano, sendo já culpado de outras coisas, talvez fosse expulso da escola. Da minha parte, eu esperava ser perdoado sendo a primeira falta de que era acusado na escola; por outro lado, pensava também em nosso Divino Salvador, que foi caluniado injustamente”.
Em fevereiro de 1853, a família Sávio, por motivos de trabalho, vai morar em Mondonio, a cerca de 5 quilômetros de Morialdo. O professor de Mondonio, Pe. Cugliero, fora companheiro de Dom Bosco no seminário. Encontrando-o certo dia, falou-lhe de Domingos como de “um seu aluno digno de uma atenção especial pela inteligência e piedade. Aqui, em sua casa – dizia – pode haver jovens iguais, mas dificilmente haverá quem o supere em talento e virtude. Comprove isso e encontrará um São Luís”. Em 2 de outubro de 1854, por ocasião da festa de Nossa Senhora do Rosário, Domingos, com o pai, encontra Dom Bosco nos Becchi; é a etapa decisiva para o seu itinerário de santidade. Domingos pede a Dom Bosco para ser admitido no Oratório de Turim, porque deseja ardentemente estudar para ser padre. Dom Bosco fica impressionado: “Reconheci nele um caráter totalmente segundo o espírito do Senhor, e fiquei muito admirado considerando a ação que a Graça divina já operara naquele tenro coração”. E disse-lhe: “Pois é! Parece que há aqui um bom tecido”. Franco e decidido, utilizando como metáfora a profissão da mãe, Domingos respondeu: “Então, eu sou o tecido; o senhor seja o alfaiate; leve-me contigo e faça uma bela veste para Nosso Senhor”. Domingos chegou ao Oratório em 29 de outubro de 1854, ao final da mortal pestilência de cólera que dizimara a cidade de Turim.
Tornou-se logo amigo de Miguel Rua, João Cagliero, João Bonetti e José Bongiovanni com os quais se fazia acompanhar para ir à escola na cidade. Com toda probabilidade nada soube da “Sociedade Salesiana” sobre a qual Dom Bosco começara a falar a alguns de seus jovens em janeiro daquele ano. Em 8 de dezembro de 1854, enquanto em Roma o Papa Pio IX declarava “verdade de fé” à Imaculada Conceição de Maria Santíssima, Domingos ajoelhava se diante do altar da Mãe de Deus na igreja de São Francisco de Sales, consagrando-se solenemente a Ela: “Maria, eu vos dou o meu coração; fazei que seja sempre vosso. Jesus e Maria sereis sempre os meus amigos; mas, por piedade, fazei-me morrer antes que me aconteça a desgraça de cometer um só pecado”. Será nesta mesma circunstância que surgirá em seu coração o desejo de fundar aquela que, oficialmente constituída em 8 de junho de 1856, será a Companhia da Imaculada Conceição.
Domingos é alegre, amigo confiável de todos, especialmente de quem passa por dificuldades; assíduo e constante nos compromissos de estudo. Confidencia a Camilo Gavio, de Tortona, um de seus melhores amigos: “Fica sabendo que nós aqui fazemos consistir a santidade em estar muito alegres. Procuraremos apenas evitar o pecado, como o grande inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração, impede de cumprir exatamente com nossos deveres e frequentar as coisas de piedade. Começa desde hoje a escrever para te recordares: Servite Domino in laetitia, sirvamos o Senhor em santa
alegria”. Alegria que é expressão de uma vida vivida em profunda e íntima amizade com Jesus e Maria, sinal da ação renovadora do Espírito e de santidade alegre e contagiosa, que forma jovens apóstolos capazes de atrair as almas para Deus. Nesses meses, também se conecta com amizade espiritual a João Massaglia: “Ambos tinham a mesma vontade de abraçar o estado eclesiástico, com verdadeiro desejo de se fazerem santos”. Este pacto ajuda-os a alcançar grandes alturas de vida cristã, através da partilha de experiências espirituais e apostólicas, da prática da correção fraterna, da obediência aos superiores. “Quero que sejamos verdadeiros amigos”, dissera Domingos a João. E foram realmente “verdadeiros amigos para as coisas da alma”, dando início a uma escola de santidade juvenil caracterizada pela intensa vida de oração, pelo espírito de sacrifício, pela laboriosidade e pela alegre fecundidade apostólica. De João Massaglia, Dom Bosco testemunhou: “Se quisesse escrever os belos aspectos da virtude do jovem Massaglia, deveria repetir em grande parte as coisas ditas sobre Sávio, de quem foi fiel seguidor enquanto viveu”. Havia, no oratório, jovens magníficos, mas havia também aqueles que se comportavam mal e havia jovens que sofriam, com dificuldade nos estudos, levados pelas saudades de casa. A cada um procurava ajudar individualmente. Por que os jovens de maior boa vontade não poderiam unir-se numa “sociedade secreta”, para formar um grupo compacto de pequenos apóstolos na massa dos outros? Domingos, “guiado, então, pela habitual caridade industriosa, escolheu alguns dos seus fiéis companheiros e convidou-os para unir-se a ele a fim de formar uma companhia chamada da Imaculada Conceição”. Dom Bosco deu o seu consentimento: “Um dos que mais eficazmente ajudaram a Domingos Sávio na fundação e na redação do regulamento foi José Bongiovanni”. Das atas da Companhia conservadas no Arquivo Central Salesiano, sabe-se que os membros, que se reuniam uma vez por semana, eram dez: Miguel Rua (eleito presidente), Domingos Sávio, José Bongiovanni (eleito secretário), Celestino Durando, João Bonetti, Ângelo Sávio (clérigo), José Rocchietti, João Turchi, Luís Marcellino, José Reano, Francisco Vaschetti. Faltava João Cagliero que, convalescente depois de grave doença, estava na casa de sua mãe. O artigo conclusivo do regulamento, aprovado por todos e também por Dom Bosco dizia: “A sincera, filial, ilimitada confiança em Maria, a especial ternura por Ela e a devoção constante nos tornarão superiores a qualquer obstáculo, tenazes nas resoluções, rígidos conosco, amáveis com o nosso próximo e exatos em tudo”.
Os sócios da Companhia escolheram “cuidar” de duas categorias de meninos, que na linguagem secreta das atas foram chamados de “clientes”. A primeira categoria era formada pelos indisciplinados, os que facilmente falavam palavrões ou brigavam. Cada sócio assumia um deles e fazia-se de “anjo da guarda” pelo tempo necessário. A segunda categoria era a dos recém-chegados. Ajudavam a passar alegremente os primeiros dias, quando ainda não conheciam ninguém, não sabiam jogar, falavam apenas o dialeto do lugar de origem, tinham saudades. Vê-se nas atas o desenrolar de cada reunião: um momento de oração, alguns minutos de leitura espiritual, uma exortação recíproca a frequentar a Confissão e a Comunhão; “fala-se depois dos clientes confiados [a cada um]. Exorta-se à paciência e à confiança em Deus para com aqueles que pareciam totalmente surdos e insensíveis; à prudência e doçura para com os facilmente persuadidos”. Confrontando os nomes dos participantes da Companhia da Imaculada com os nomes dos primeiros “inscritos” na Pia Sociedade, tem-se a comovente impressão de que a “Companhia” fosse a “prova geral” da Congregação que Dom Bosco estava para fundar. Ela era o pequeno campo onde germinaram as primeiras sementes da inflorescência salesiana. A “Companhia” tornou-se o fermento do oratório.
Os poucos meses que Domingos viverá no Oratório são uma nova confirmação da sua deliberação de fazer-se santo, particularmente depois de ter ouvido uma pregação de Dom Bosco sobre o modo fácil de ser santo. “É vontade de Deus que todos nós sejamos santos; é muito fácil de consegui-lo; um grande prêmio está preparado no céu para quem se faz santo”. Para Domingos, aquela pregação foi como uma centelha que incendiou o seu coração e pôs-se logo a praticar os conselhos que Dom Bosco lhe deu: “Primeiramente, uma constante e moderada alegria, e aconselhando-o a ser perseverante na realização dos seus deveres de piedade e estudo, recomendei-lhe que não deixasse de participar sempre do recreio com seus colegas”. Quem percebeu a estatura moral e espiritual de Domingos foi Mamãe Margarida, que um dia confidenciou a Dom Bosco:
“Tens muitos jovens bons, mas nenhum supera o belo coração e a bela alma de Domingos Sávio”. E explicou: “Vejo-o sempre a rezar, permanecendo na igreja mesmo depois dos outros; deixa todos os dias o recreio para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento... Está na igreja como um anjo que mora no Paraíso”. E é graças ao amor à Eucaristia e à devoção a Maria que estes jovens vivem e compartilham uma intensa vida espiritual e mística, de radicalidade evangélica na obediência à vontade de Deus, no espírito de sacrifício, na fecundidade apostólica e educativa entre os colegas, sobretudo os mais difíceis ou marginalizados. Todavia, Domingos permaneceu com Dom Bosco só até 1º de março de 1857 quando, devido a uma enfermidade, que se apresenta logo muito séria, deve retornar à família, em Mondonio. Em poucos dias, embora com alguma esperança momentânea, a situação se precipita e a doença de Domingos se agrava. Morre serenamente em Mondonio no dia 9 de março de 1857, exclamando: “Ó, que bela coisa eu estou vendo...”. A presença de Maria marca toda a história deste jovem como Aquela que o acompanha na realização da graça do Pai e da sua missão. Embora muito jovem, a Igreja reconhece a sua santidade. O papa Pio XI definiu-o como “pequeno, ou melhor, grande gigante do espírito”. Ele realizou a verdade do seu nome: Domingos, “do Senhor”; e Sávio “sábio”; sábio, portanto, nas coisas do Senhor e qualificado pela exemplaridade e santidade de vida.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 15/01/1811
Beatificado: 03/05/1925
Canonizado: 22/06/1947
Celebração litúrgica: 23/06
O Papa Pio XI, em 1º de novembro de 1924, ao aprovar os milagres para a canonização de São João Maria Vianney e publicar o decreto de autorização para a beatificação de Cafasso, aproximou as duas figuras de sacerdotes com estas palavras: “Não sem uma especial e benéfica disposição da Divina Bondade assistimos ao surgimento no horizonte da Igreja Católica de novos astros, o pároco de Ars e o venerável servo de Deus José Cafasso. Justamente estas duas belas, caras, providencialmente oportunas figuras deviam ser-nos apresentadas hoje; pequena e humilde, pobre e simples, mas igualmente gloriosa a figura do pároco de Ars, e outra bela, grande, complexa, rica figura de sacerdote, mestre e formador de sacerdotes, o venerável José Cafasso”.
São circunstâncias que nos permitem conhecer a mensagem viva e atual que emerge da vida deste santo. Ele não foi pároco como o cura de Ars, mas foi, sobretudo, formador de párocos e de padres diocesanos, ou melhor, de padres santos, entre os quais São João Bosco. Como outros santos sacerdotes do século XIX piemontês, ele não fundou institutos religiosos, porque a sua “fundação” foi a “escola de vida e santidade sacerdotal” que realizou, com o exemplo e o ensinamento, no “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis” em Turim.
José Cafasso nasce em Castelnuovo d’Asti, a mesma cidade de São
João Bosco, em 15 de janeiro de 1811. É o terceiro de quatro filhos. A última irmã, Maria, será mãe do beato José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata. Nasce no Piemonte do século XIX caracterizado por graves problemas sociais, mas também por muitos santos que se empenhavam para remediá-los. Estavam ligados entre si pelo amor total a Cristo e por uma profunda caridade para com os pobres. Cafasso fez os estudos secundários e o biênio de filosofia no colégio de Chieri e, em 1830, passou ao Seminário teológico, onde em 1833 foi ordenado sacerdote. Quatro meses depois ingressou no lugar que será para ele a fundamental e única “etapa” da sua vida sacerdotal: o “Colégio Eclesiástico de São Francisco de Assis” em Turim. Entrou nele para aperfeiçoar-se na pastoral e ali fez frutificar os próprios dotes de diretor espiritual e um grande espírito de caridade. O Colégio, de fato, não era apenas uma escola de teologia moral onde os jovens padres, vindos sobretudo do campo, aprendiam a confessar e pregar, mas era também uma verdadeira e própria escola de vida sacerdotal, onde os presbíteros se formavam na espiritualidade de Santo Inácio de Loiola e na teologia moral e pastoral do grande bispo Santo Afonso Maria de Ligório. O tipo de padre que Cafasso encontrou no Colégio e que ele mesmo contribuiu para reforçar – sobretudo como reitor – era o do verdadeiro pastor com uma rica vida interior e um profundo zelo na cura pastoral: fiel à oração, empenhado na pregação, na catequese, dado à celebração da Eucaristia e ao ministério da Confissão, segundo o modelo encarnado por São Carlos Borromeo e São Francisco de Sales e promovido pelo Concílio de Trento.
Uma feliz expressão de São João Bosco sintetiza o sentido do trabalho educativo naquela Comunidade: “No Colégio, aprendia-se a ser padre”. São José Cafasso procurou realizar este modelo na formação dos jovens sacerdotes para que, por sua vez, fossem formadores de outros padres, religiosos e leigos, como uma especial e eficaz corrente. Desde a sua cátedra de teologia moral, ele educava a ser bons confessores e diretores espirituais, preocupados com o verdadeiro bem espiritual da pessoa, animados por grande equilíbrio em fazer sentir a misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, um aguçado e vivo sentido do pecado. Eram três as principais virtudes de Cafasso docente, como recorda São João Bosco: tranquilidade, perspicácia e prudência. Para ele, a comprovação do ensinamento transmitido era constituída pelo ministério da confissão, à qual ele próprio dedicava muitas horas do dia. A ele recorriam bispos, sacerdotes, religiosos, leigos eminentes e gente do povo; a todos sabia conceder o tempo necessário. De muitos, que se tornaram santos e fundadores de institutos religiosos, ele foi, depois, sábio conselheiro espiritual. Seu ensinamento nunca era abstrato, baseado apenas nos livros utilizados no seu tempo, mas nascia da experiência viva da misericórdia de Deus e do profundo conhecimento do espírito humano adquiridos no longo tempo passado no confessionário e na direção espiritual; a sua era uma verdadeira escola de vida sacerdotal. Seu segredo era simples: ser um homem de Deus; fazer, nas pequenas ações cotidianas, “o que podia redundar na maior glória de Deus e em vantagem das almas”. Amava plenamente o Senhor, era animado por uma fé bem enraizada, sustentada pela profunda e prolongada oração e vivia uma sincera caridade para com todos.
Conhecia a teologia moral, mas também conhecia profundamente as situações e o coração do povo, de cujo bem se ocupava como o Bom Pastor. Todos os que tinham a graça de estar perto dele transformavam-se em outros tantos bons pastores e válidos confessores.
Indicava com clareza a todos os sacerdotes a santidade a alcançar no ministério pastoral. O Beato Pe. Clemente Marchisio, fundador das Filhas de São José, afirmava: “Entrei no Colégio sendo um bom moleque instintivo, sem saber o que significasse ser padre, e saí dele realmente diferente, entendendo plenamente a dignidade do sacerdote”. Muitos sacerdotes foram formados no Colégio e, depois, acompanhados espiritualmente por ele. Entre estes – como já foi dito – emerge São João Bosco, que o teve como diretor espiritual por 25 anos, de 1835 a 1860; primeiramente, como clérigo, depois como padre e, enfim, como fundador. Todas as opções fundamentais da vida de São João Bosco tiveram São José Cafasso como conselheiro e guia, mas de modo bem preciso: Cafasso jamais tentou formar em Dom Bosco um discípulo “à sua imagem e semelhança” e Dom Bosco não reproduziu Cafasso; imitou-o, certamente, nas virtudes humanas e sacerdotais – definindo-o “modelo de vida sacerdotal” –, mas segundo as próprias disposições pessoais e a própria vocação peculiar, sinal da sabedoria do mestre espiritual e da inteligência do discípulo; o primeiro não se impôs sobre o segundo, mas respeitou-o em sua personalidade e ajudou-o a ler a vontade de Deus sobre si. Com simplicidade e profundidade, o santo afirmava: “A santidade, a perfeição e o proveito de uma pessoa está em fazer com perfeição a vontade de Deus [...]. Felizes de nós se, assim, chegássemos a lançar o nosso coração no de Deus, a unir de tal modo os nossos desejos, a nossa vontade à d’Ele a ponto de formar um só coração e uma só vontade: querer o que Deus quer, querê-lo no modo, no tempo, nas circunstâncias que Ele quer e querer tudo o que, se não for por outro motivo, será porque Deus assim o quer”.
Outro elemento também caracteriza o ministério de São José Cafasso: a atenção aos últimos, especialmente aos encarcerados, que na Turim do século XIX viviam em lugares desumanos e desumanizantes. Mesmo neste delicado serviço, prestado por mais de vinte anos, ele sempre foi o bom pastor compreensivo e compassivo: qualidades percebidas pelos detentos, que acabavam por ser conquistados por aquele amor sincero cuja origem era o mesmo Deus. A simples presença de Cafasso já fazia bem: serenava, tocava os corações empedernidos pelos acontecimentos da vida e, sobretudo, iluminava e sacudia as consciências indiferentes. Nos primeiros tempos do seu ministério entre os encarcerados, ele recorria com frequência às grandes pregações que chegavam a envolver quase toda a população carcerária. Com o passar do tempo, privilegiou a catequese simples, feita nos colóquios e nos encontros pessoais; respeitoso dos acontecimentos de cada um, enfrentava os grandes temas da vida cristã, falando da confiança em Deus, da adesão à Sua vontade, da utilidade da oração e dos sacramentos, cujo ponto de chegada é a Confissão, o encontro com Deus que se fez misericórdia infinita por nós.
Os condenados à morte foram objeto de especiais cuidados humanos e espirituais. Ele acompanhou ao patíbulo 57 condenados à morte, depois de tê-los confessado e administrado a Eucaristia. Acompanhava-os com profundo amor até o último respiro de sua existência terrena.
Cafasso morreu em 23 de junho de 1860, depois de uma vida oferecida ao Senhor e consumida pelo próximo. O Venerável Servo de Deus Papa Pio XII, em 9 de abril de 1948, proclamou-o patrono das prisões italianas e, com a Exortação Apostólica Menti nostrae, em 23 de setembro de 1950, o propôs como modelo para os sacerdotes empenhados na Confissão e na direção espiritual.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 26/10/1828
Beatificado: 03/11/1963
Canonizado: 03/05/1970
Celebração litúrgica: 18/05
Leonardo Murialdo insere-se entre as figuras de singular santidade que caracterizaram a Igreja piemontesa no século XIX, como as fortes personalidades de Cottolengo, Cafasso, Lanteri, Allamano, Dom Bosco e Pe. Orione, com suas intuições perspicazes, o amor genuíno pelos pobres e a imensa confiança na Providência. Através da ação deles, a caridade da Igreja pôde promover eficazmente a emancipação material e espiritual dos filhos do povo, vítimas de graves injustiças e postos às margens do tumultuado processo de modernização da Itália e da Europa.
A experiência espiritual deste santo turinense, amigo e colaborador de Dom Bosco, tem suas raízes numa grave crise juvenil, um período difícil e doloroso de afastamento de Deus aos 14 anos, que Leonardo jamais esqueceria e marcará a sua vida e missão, incidindo em sua ação educativa e pastoral com doçura, compreensão e paciência. O “retorno à luz” aconteceu com a graça de uma confissão geral, quando redescobriu a imensa misericórdia de Deus. Aos 17 anos, amadureceu a decisão de ser sacerdote, como resposta de amor a Deus que o agarrara com o seu amor. Retornando a Deus depois do desvio juvenil, Murialdo experimentou de modo intenso e vital o amor misericordioso e acolhedor do Pai, que se tornou a alma da sua ação apostólica e social, sobretudo em favor dos jovens e dos operários.
Murialdo nasce em Turim no dia 26 de outubro de 1828. O pai, rico operador de câmbio, morre em 1833. A mãe, mulher muito religiosa, envia o seu pequeno “Nadino” ao colégio de Savona, dos Padres das Escolas Pias, onde permanece de 1836 a 1843. Retornando a Turim, frequenta as aulas de Teologia na Universidade e, em 1851, torna-se sacerdote. Sua espiritualidade, fundamentada na Palavra de Deus e na sólida doutrina de autores seguros como Santo Afonso e São Francisco de Sales, foi animada pela certeza do amor misericordioso de Deus. A realização da vontade de Deus na realidade cotidiana, a intensa vida de oração, o espírito de mortificação e o amor ardente à Eucaristia caracterizaram o seu itinerário de fé.
Em colaboração com Dom Bosco, opta logo por empenhar-se nos primeiros oratórios turinenses entre os jovens pobres e desorientados da periferia, primeiramente no oratório do “Anjo da Guarda”, até 1857, e, depois, no oratório de “São Luís”, como diretor, de 1857 a 1865. Passa um ano de atualização em Paris, até que a Providência o chama em 1866 para encarregar-se de jovens ainda mais pobres e abandonados, os do colégio dos “Pequenos Aprendizes” de Turim. Desde então, toda a sua vida é dedicada à acolhida, educação cristã e formação profissional desses meninos, numa época marcada por fortes contrastes sociais, fruto da industrialização nascente e da insatisfação das classes sociais mais pobres. Em meio a graves dificuldades econômicas, será esta a sua principal atividade até o fim da vida.
Leonardo Murialdo tornou-se amigo, irmão, pai dos jovens pobres, sabendo que em cada um deles há um segredo a decifrar: a beleza do Criador refletida na alma. Via-os frágeis, deixados ao léu de si mesmos ou ligados a adultos sem escrúpulos, obrigados a viver no ócio, na ignorância, na escravidão de paixões que cresceriam sempre mais se não fossem combatidas, ricos apenas de “ignorância, selvageria e vícios”. Acolhia todos aqueles que a Providência lhe confiava, fiel ao lema que se criara: “Pobres e abandonados: eis os dois requisitos essenciais para que um jovem seja um dos nossos; e quanto mais pobre e abandonado, tanto mais é dos nossos”. Por estes jovens, ele quis gastar as melhores energias, para que nem sequer um deles se perdesse. Foi ajudado por outros sacerdotes e leigos de grande abertura de alma, que compreenderam e compartilharam as profundas motivações do seu ministério. Para eles, funda, em 1873, a Congregação de São José (Josefinos de Murialdo), a fim de garantir continuidade à sua ação social e caritativa. Finalidade da Congregação é a educação da juventude, especialmente da juventude pobre e abandonada.
Colabora em muitas iniciativas em campo social na defesa dos jovens, dos operários e dos mais pobres. Nos anos seguintes, encaminha novas iniciativas: uma casa-família (a primeira na Itália), uma colônia agrícola, outros oratórios, com outras várias ulteriores obras. A presença de Murialdo é significativa no movimento católico piemontês. Trabalha pela imprensa católica, é ativo na Obra dos Congressos, é um dos animadores da União Operária Católica.
Ele soube ser pai para os seus jovens em tudo que se referisse ao bem-estar físico, moral e espiritual deles, preocupando-se com a sua saúde, alimentação, vestuário, formação profissional. Favoreceu, ao mesmo tempo, a preparação e qualificação dos responsáveis das várias oficinas, procurando aperfeiçoar a capacidade educativa deles através de conferências pedagógico-religiosas. Jamais descuidou do desenvolvimento tanto religioso como humano dos jovens. “O nosso programa – ele escreveu – não é só fazer dos nossos jovens inteligentes e laboriosos operários, muito menos fazer deles sabichões orgulhosos, mas, antes de tudo, cristãos sinceros e honestos”. Para tanto, desenvolveu a catequese entre eles, favoreceu a prática sacramental e estimulou as associações para meninos e adolescentes, incentivando-os a serem apóstolos entre os companheiros e dando vida, para isso, à Confraria de São José e à Congregação dos Anjos da Guarda.
Suave nos modos, como anotam seus biógrafos, vivia sempre modestamente, e o seu aspecto era suavizado com um sorriso que convidava à confiança. Mostrava-se sereno e afável mesmo quando devia chamar a atenção, tanto que seus pequenos aprendizes, tornando-se adultos, descreviam-no como “um pai afetuoso, um verdadeiro pai, um pai amoroso”.
Estava convencido de que “sem fé não se agrada a Deus, sem doçura não se agrada ao próximo”. Foi a experiência do amor misericordioso do Pai celeste a levá-lo a cuidar da juventude. Fez disso uma opção de vida, deixando-se guiar por um amor solícito e empreendedor que transformou a sua existência, tornando-o atento à realidade social e paciente para com o próximo. Manteve fixo o olhar no Pai celeste que ouve seus filhos, respeita a liberdade deles e está pronto a abraçá-los com ternura no momento do perdão. Sua existência terrena terminou em 30 de março de 1900.
Fonte: sdb.org

Nascimento: 19/12/1842
Beatificado: 25/11/1964
Canonizado: 23/11/2011
Celebração litúrgica: 24/10
A vida do Pe. Guanella, como a de Dom Bosco, também foi traçada por um sonho que teve aos nove anos, dia da sua Primeira Comunhão: uma Senhora (como ele definiu Nossa Senhora em sua narração) mostrou-lhe tudo o que haveria de fazer em favor dos pobres. Desde a infância, a sua vida foi uma longa corrida para estar presente onde houvesse um brado de ajuda e um socorro a oferecer. Luís Guanella nasceu em Fraciscio, povoado do município de Campodolino, diocese de Como, em 19 de dezembro de 1842. O sacramento do Batismo foi-lhe administrado no dia seguinte. Os pais, Lourenço e Maria Bianchi, eram cristãos exemplares, entregues à família, ao trabalho do campo e ao pastoreio. Em família, era costume não só a récita do Rosário, como também a leitura da vida dos santos, experiência que caracterizou a atividade apostólica da sua vida. O pai, Lourenço, por 24 anos prefeito de Campodolcino, antes sob o governo austríaco e, depois, após a unificação da Itália (1859), era severo e autoritário, enquanto a mãe, Maria Bianchi, era afável e paciente; dos 13 filhos, quase todos chegaram à idade adulta. Aos doze anos, Luís obteve um lugar gratuito no Colégio Gallio, de Como, e continuou depois os estudos nos seminários diocesanos (1854-1866). Sua formação cultural e espiritual é a comum dos seminários da Lombardia e do Vêneto, por longo período sob o controle dos governantes austríacos. O curso teológico era pobre de conteúdo cultural, mas atento aos aspectos pastorais e práticos: teologia moral, ritos e pregação, além da formação pessoal de piedade, santidade e fidelidade. A vida cristã e sacerdotal alimentava-se na devoção comum entre a população cristã. Esta base concreta pôs o jovem seminarista muito próximo do povo e em contato com a vida que esse povo levava. Quando retornava à sua cidade para as férias de outono, imergia na pobreza dos vales alpinos, interessava-se pelas crianças, idosos e doentes do lugar, socorrendo-os em suas necessidades. Nos retalhos de tempo, apaixonava-se pela questão social, recolhia e estudava ervas medicinais, afervorava-se na leitura da história da Igreja.
No seminário teológico, familiarizou-se com o bispo de Foggia, dom Bernardino Frascolla, encarcerado na prisão de Como e, depois, obrigado à prisão domiciliar no seminário (1864-1866), e tomou conhecimento da hostilidade que dominava as relações entre o Estado unitário e a Igreja. Este bispo ordenou sacerdote o Pe. Guanella em 26 de maio de 1866. Naquela ocasião, Pe. Guanella disse: “Quero ser uma espada de fogo no santo ministério”. O novel sacerdote entrou com entusiasmo na vida pastoral de Valchiavenna (Prosto, em 1866, e Savogno, nos anos 1867-1875). Desde os inícios, em Savogno, revelou os seus interesses pastorais: instrução de crianças e adultos, elevação religiosa, moral e social dos paroquianos, defesa do povo contra os assaltos do liberalismo e atenção privilegiada aos mais pobres. Não dispensava intervenções combativas quando se via injustamente freado ou contradito pelas autoridades civis no seu ministério, de modo que foi logo marcado entre os sujeitos perigosos (lei da suspeição), sobretudo depois de publicar um livreto polêmico. Entrementes, em Savogno, aprofundava o conhecimento de Dom Bosco e da obra do Cottolengo; chegou a convidar Dom Bosco para abrir um colégio no vale.
Desejoso de uma experiência religiosa mais radical, foi a Turim para unir-se a Dom Bosco em 1875, emitindo a profissão temporária na Congregação Salesiana. Nos dois primeiros anos vividos como Salesiano, foi diretor do oratório São Luís, no bairro San Salvario, em Turim, e em novembro de 1876 foi encarregado de abrir um novo oratório em Trinità di Mondovì. Em 1877, foram-lhe confiadas as vocações adultas, que Dom Bosco denominara “Obra dos Filhos de Maria”. A admiração por Dom Bosco tinha uma profunda raiz também em seu temperamento, muito semelhante ao de Dom Bosco: ambos eram empreendedores, apóstolos da caridade, decididos, profundamente pais e com grande amor pela Eucaristia, por Nossa Senhora e pelo Papa. A espiritualidade e a pedagogia salesiana serviram de base para a formação e a missão do futuro fundador. Na escola de Dom Bosco, ele aprendeu a abordagem amável e firme dos jovens e a vontade educativa de prevenir, mais do que curar; e o desejo de salvar os irmãos com o impulso de uma grande caridade apostólica.
O bispo de Como chamou-o de volta à diocese e o Pe. Guanella retornou com o sonho de fundar uma instituição que recolhesse meninos carentes. Abriu uma escola que, em seguida, precisou fechar devido à hostilidade das autoridades civis. “A hora da misericórdia”, como o Pe. Guanella chamava o momento propício do favor divino, chegou em novembro de 1881, quando foi para Pianelle Lario como pároco, encontrando algumas jovens entregues à assistência dos necessitados. O grupo de jovens mulheres será a fonte de uma nova congregação: as Filhas de Santa Maria da Providência. O zelo e a caridade apostólica do Pe. Luís aumentaram a obra benéfica até permitir expandir a atividade no coração da cidade de Como. Elas iniciaram a atividade da “Casa Divina Providência”, que se tornou, depois, a casa mãe das duas congregações, masculina e feminina. Com os pobres também aumentavam os braços e os corações para assisti-los e amá-los. Junto à congregação das irmãs, o Pe. Guanella reuniu também um grupo de sacerdotes que chamou de “Servos da Caridade”. “Não se pode parar enquanto existirem pobres a socorrer”, repetia com frequência em suas peregrinações pelas chagas da pobreza. Para tanto, as duas congregações religiosas iam se difundindo em várias regiões italianas e, na vizinha Confederação Helvética, no Cantão dos Grigioni e no Cantão Ticino.
Em 1904, Luís Guanella realizou o sonho de chegar à Cidade Santa, Roma, para estar ao lado do Papa e demonstrar a própria fidelidade à Igreja graças ao testemunho luminoso de caridade e ardor apostólico. O Papa Pio X, que compreendera a grandeza de espírito do Pe. Guanella, estimou-o e confidenciou-lhe o desejo de construir uma igreja dedicada ao “Trânsito de São José”. Ao lado da paróquia, surgiu também a “Pia União do Trânsito de São José”, uma associação de oração pelos moribundos. São Pio X quis ser o primeiro dos inscritos. O zelo missionário levou-o à América do Norte entre os imigrantes italianos. Em dezembro de 1912, aos setenta anos, o Pe. Guanella embarcou para os Estados Unidos. Sua última intervenção extraordinária em vida deu-se em janeiro de 1915, quando quis permanecer em Roma para servir de ajuda às vítimas do terremoto do Abruzzo. Ao seu lado, atuou com zelo o venerável Aurélio Bacciarini, primeiro pároco da paróquia do “Trânsito de São José”, seu sucessor no governo da Congregação dos Servos da Caridade e chamado depois ao ministério episcopal na diocese de Lugano, Suíça. Os achaques da velhice, o ingresso da Itália na Primeira Guerra Mundial e o comprometimento de alguns coirmãos no front militar minaram a sua saúde. Em seus escritos, Pe. Guanella deixara esta mensagem: “A morte é como uma mãe que abraça o filho [...], é o anjo que nos reconduz à pátria”. Aquela mãe, luminosa como um anjo, passou às 11h15min do domingo 24 de outubro de 1915.
Pe. Guanella e Dom Bosco, ambos sacerdotes e grandes amigos, viveram numa época caracterizada por profundas transformações e grandes desequilíbrios sociais; agiram como apóstolos da caridade e passaram toda a vida trabalhando pela salvação de cada homem e de todos os homens, e pela construção de uma sociedade melhor. A profunda ligação entre os dois e a devoção do Pe. Guanella por Dom Bosco tornaram-se célebres numa oração que o Pe. Guanella escreveu na revista mensal da sua obra, A Divina Providência, em agosto de 1908: “A grande alma de João Bosco que protege profundamente a Congregação dos seus filhos, os Salesianos, já numerosos a ponto de não se poder contar, volte benigno seus olhares sobre os Institutos da Divina Providência, e estenda benévola a sua proteção sobre aqueles que a estas obras pertencem e especialmente ao seu devoto admirador e aluno. Sacerdote Luís Guanella”.
Na ocasião da canonização, o Papa Bento XVI recordou que “graças à profunda e continuada união com Cristo, na contemplação do seu amor, o Pe. Guanella, guiado pela Providência divina, tornou-se companheiro e mestre, conforto e consolação dos mais pobres e dos mais fracos. O amor de Deus animava nele o desejo do bem pelas pessoas que lhe eram confiadas, na realidade da vida cotidiana [...]. Colocava uma acurada atenção no caminho de cada um, respeitando seus tempos de crescimento e cultivando no coração a esperança de que cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, experimentando a alegria de ser amado por Ele – Pai de todos –, pode tirar e dar aos outros o melhor de si.
É possível sintetizar toda a sua história humana e espiritual nas últimas palavras que pronunciou no leito de morte: “‘In caritate Christi’. É o amor de Cristo que ilumina a vida de todo homem, revelando que no dom de si ao outro não se perde nada, mas se realiza plenamente a nossa verdadeira felicidade”.
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Fonte: sdb.org

Nascimento: 23/06/1872
Beatificado: 26/10/1980
Canonizado: 16/05/2004
Celebração litúrgica: 16/05
Luís Orione nasceu em Pontecurone (diocese de Tortona), em 23 de junho de 1872. O pai era pavimentador de rua; a mãe era mulher de profunda fé e de elevado tino educativo. Embora advertindo a vocação ao sacerdócio, Luís ajudou o pai durante três anos (1882-1885) como ajudante de pavimentador. Em 14 de setembro de 1885, aos 13 anos, foi recebido no convento franciscano de Voghera (Pavia), mas uma pneumonia pôs em risco a sua vida e precisou retornar à família em junho de 1886. De outubro de 1886 a agosto de 1889 foi aluno do Oratório de Valdocco, em Turim. São João Bosco percebeu as suas qualidades e elencou-o entre os seus prediletos, garantindo-lhe: “Nós seremos sempre amigos”. Em Turim, conheceu também as obras de caridade de São José Bento Cottolengo, próximas ao Oratório salesiano. Em 16 de outubro de 1889 iniciou o curso de filosofia no seminário de Tortona.
Ainda jovem clérigo foi sensível aos problemas sociais e eclesiais que agitavam aquela época difícil. Dedicou-se à solidariedade para com o próximo através da Sociedade de Mútuo Socorro São Marciano e da Conferência de São Vicente. Aos vinte anos, escrevia: “Há uma suprema necessidade e um supremo remédio para curar as feridas desta pobre pátria, tão bela e tão infeliz! Apossar-se do coração e do afeto do povo e iluminar a juventude; infundir em todos a grande ideia da redenção católica com o Papa e pelo Papa. Almas! Almas!”. Movido por essa visão apostólica, abriu em Tortona, em 3 de julho de 1892, o primeiro oratório para cuidar da educação cristã dos meninos. No ano seguinte, em 15 de outubro de 1893, Luís Orione, ainda clérigo de 21 anos, abriu um colégio no bairro São Bernardino, destinado a crianças pobres. Em 13 de abril de 1895, foi ordenado sacerdote e na mesma celebração o bispo impôs o hábito clerical a seis alunos do seu colégio. Desenvolveu sempre mais o apostolado entre os jovens com a abertura de novas casas em Mornico Losana (Pavia), Noto (Sicília), San Remo, Roma...
Ao redor do jovem fundador cresceram clérigos e sacerdotes que formaram o primeiro núcleo da Pequena Obra da Divina Providência. Em 1899, iniciou o ramo dos Eremitas da Divina Providência, inspirados no lema beneditino “ora et labora”, sobretudo nas colônias agrícolas que, naquela época, respondiam à exigência de elevação social e cristã do mundo rural. O bispo de Tortona, Dom Higino Bandi, com Decreto de 21 de março de 1903, reconheceu canonicamente a Congregação religiosa masculina da Pequena Obra da Divina Providência, os Filhos da Divina Providência (sacerdotes, irmãos coadjutores e eremitas), e sancionou o seu carisma expresso apostolicamente no “colaborar para levar os humildes, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, mediante as obras de caridade”, professado com um 4º voto de especial “fidelidade ao Papa”. Confortado pelo conselho pessoal de Leão XIII, Pe. Orione introduziu nas primeiras Constituições de 1904, entre as finalidades da nova Congregação, a de trabalhar para “obter a união das Igrejas separadas”. Animado por um grande amor à Igreja e aos seus Pastores e por uma paixão pela conquista das almas, interessou-se ativamente pelos problemas emergentes do tempo, como a liberdade e a unidade da Igreja, a questão romana, o modernismo, o socialismo e a descristianização das massas operárias.
Depois do terremoto de dezembro de 1908, que deixou entre as ruínas 50 mil mortos, Pe. Orione foi a Reggio Calabria e Messina para prestar socorro especialmente aos órfãos e fez-se promotor das obras de reconstrução civil e religiosa. Por desejo direto de Pio X, foi nomeado vigário-geral da diocese de Messina. Deixando a Sicília, depois de três anos, pôde dedicar-se novamente à formação e ao desenvolvimento da Congregação. Em dezembro de 1913, enviou a primeira expedição de missionários ao Brasil. Renovou os heroísmos de socorro às vítimas do terremoto de 13 de janeiro de 1915, que devastou a Mársica (região do Abruzzo) com quase 30 mil vítimas. Eram os anos da Primeira Guerra Mundial. Pe. Orione percorreu muitas vezes a Itália para apoiar as várias atividades caritativas, ajudar espiritual e materialmente as pessoas de todas as camadas, suscitar e cultivar vocações sacerdotais e religiosas. Há vinte anos da fundação dos Filhos da Divina Providência, como uma “única planta com muitos ramos”, em 29 de junho de 1915, deu início à Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, animadas pelo mesmo espírito e interessadas em fazer experimentar aos mais necessitados a Providência de Deus e a maternidade da Igreja, mediante a caridade para com os pobres e enfermos e os serviços de todos os gêneros nos institutos de educação, jardins de infância e variadas obras pastorais. Em 1927 deu início também a um ramo contemplativo, as Irmãs Sacramentinas, ao qual acrescentaram-se depois também as Contemplativas de Jesus Crucificado. Envolveu também os leigos nos caminhos da caridade e do compromisso civil dando impulso às associações das Damas da Divina Providência, dos Ex-Alunos e dos Amigos. Em seguida, realizando intuições previdentes, serão criados na Pequena Obra da Divina Providência também o Instituto Secular Orionita e o Movimento Laical Orionita.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919) multiplicaram-se escolas, colégios, colônias agrícolas, obras caritativas e assistenciais. Em especial, Pe. Orione fez surgir na periferia de grandes cidades os “Pequenos Cottolengos”: em Gênova e Milão, em Buenos Aires, em São Paulo e em Santiago do Chile. Estas instituições, destinadas a acolher os irmãos mais sofredores e necessitados eram entendidas por ele como “novos púlpitos” de onde falar de Cristo e da Igreja, “faróis de fé e de civilização”. O zelo missionário do Pe. Orione, que já se expressara com o envio ao Brasil, em 1913, dos seus primeiros religiosos, estendeu- se depois à Argentina e ao Uruguai (1921), à Palestina (1921), à Polônia (1923), a Rodes (1925), aos Estados Unidos (1934), à Inglaterra (1935). Ele mesmo, em 1921-1922 e 1934-1937, fez duas viagens missionárias à América Latina: Argentina, Brasil, Uruguai e Chile.
Gozou da estima pessoal dos papas Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, e das Autoridades da Santa Sé, que lhe confiaram muitos delicados encargos para resolver problemas e curar feridas tanto no interior da Igreja como nas relações com o mundo civil. Prodigalizou-se com prudência e caridade nas questões do modernismo, na promoção da Conciliação entre Estado e Igreja na Itália, na acolhida e reabilitação dos sacerdotes “lapsi”. Foi pregador, confessor e organizador incansável de peregrinações, missões, procissões, presépios vivos e outras manifestações populares da fé. Grande devoto de Nossa Senhora, promoveu a sua devoção com todos os meios. Com o trabalho manual dos seus clérigos construiu os santuários de Nossa Senhora da Guarda, em Tortona (1931), e de Nossa Senhora de Caravaggio, em Fumo (1938).
No inverno de 1940, já sofrendo de angina pectoris e depois de dois ataques cardíacos agravados por crises respiratórias, Pe. Orione deixou-se convencer pelos coirmãos e pelos médicos a buscar repouso numa casa da Pequena Obra em Sanremo, embora, como dizia, “não é entre as palmeiras que eu quero viver e morrer, mas entre os pobres que são Jesus Cristo”. Depois de apenas três dias, rodeado pelo afeto e pelos cuidados dos coirmãos, Pe. Orione morreu em 12 de março de 1940, suspirando: “Jesus! Jesus! Eu vou”. Seus despojos, disputados pela devoção de muitos, receberam solenes homenagens em Sanremo, Gênova, Milão, concluindo o itinerário em Tortona, onde foi tumulado na cripta do Santuário de Nossa Senhora da Guarda. Seu corpo, encontrado intacto na primeira exumação de 1965, foi posto em lugar de honra no mesmo santuário.
Pe. Orione encarnou o carisma da caridade para com os pobres, vendo neles o rosto de Jesus e servindo-o na mais santa alegria. Sempre em movimento, vivia uma vida penitente e paupérrima. Estava convencido de que o maior bem fosse viver na presença de Deus e crer na sua Divina Providência. Era este o refrão do Pe. Orione: “Mais fé, mais fé, irmãos, é preciso mais fé! A nossa fé, que é poderosa contra todas as batalhas, torna-se o maior e mais divino conforto da vida humana; ela é a mais elevada inspiração de qualquer valor, de todo santo heroísmo, de toda bela arte, que não morre, de toda verdadeira grandeza moral, religiosa e civil”.
Fonte: sdb.org