“Fizemos uma escolha como Congregação: nunca abandonaremos a nossa presença entre os povos originários”. Com estas palavras muito claras, pronunciadas à margem da 150ª Expedição Missionária Salesiana (2019), o Reitor-Mor dos Salesianos, Pe. Ángel Fernández Artime, hoje Cardeal, estabeleceu de forma categórica e comprometida para o futuro o empenho perene dos Filhos de Dom Bosco em favor das populações indígenas. Isto é particularmente verdadeiro para a realidade do Brasil e da Inspetoria Santo Afonso Maria de Ligório, onde o compromisso com os povos indígenas é parte fundamental do trabalho salesiano.
Vivem no estado de Mato Grosso 47 povos indígenas, com aproximadamente 26.500 habitantes. As etnias originárias de Mato Grosso vivem há mais de um século num contexto de lutas pela conservação de seus territórios, cuja biodiversidade está cada vez mais ameaçada pelo cultivo intensivo e seu consequente uso indiscriminado de agrotóxicos e pela extração de diversos recursos naturais por latifundiários, pecuaristas e mineradores. Estas invasões comprometem o acesso a recursos fundamentais como nutrição, saúde e educação, uma vez que as populações indígenas praticam agricultura de subsistência, caça, pesca e artesanato.
Criado em 1972, quando a ditadura militar brasileira adotou a assimilação das minorias étnicas na sociedade majoritária como única perspectiva sobre a questão indígena, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) é uma organização vinculada à Conferência Nacional dos Bispos, que imediatamente começou a trabalhar com a sensibilização para os direitos, promovendo grandes assembleias com os povos originários, nas quais foram traçados os primeiros contornos da luta pela garantia do direito à diversidade cultural.
Os salesianos estão presentes em Mato Grosso desde o final do século XIX e atuam no CIMI desde a sua fundação. Desde 2022, conduzem um projeto precioso que visa contribuir para o fortalecimento dos processos de autonomia dos povos indígenas, apoiando os seus direitos originários ao território e à identidade, à sustentabilidade econômica, à educação, à saúde e às formas próprias de organização, em total conformidade com as diretrizes do CIMI.
O projeto está estruturado para beneficiar diretamente 80 lideranças (homens e mulheres) e 5.870 pessoas pertencentes a 10 comunidades indígenas assentadas no coração de Mato Grosso (Bororo, Kayabi, Apiaká, Munduruku, Xavante, Chiquitano, Rikbaktsa, Nambikwara, Myky e Enawenê- Nawê).
Organizado em diversas atividades de formação, sensibilização e valorização, o projeto envolve plenamente todos os membros das 10 comunidades, desde chefes de aldeia até pessoas comuns. A iniciativa visa melhorar a participação e o exercício dos direitos das populações indígenas, além do fortalecendo o tecido social e econômico destas comunidades para a conservação do seu patrimônio natural e cultural.
Os povos indígenas enfrentam preconceito e discriminação e precisam de assistência para reconhecer os seus direitos. O crescente número de profissionais indígenas e o fortalecimento do Movimento Indígena são recursos potenciais para a defesa destes direitos. Por isso, os salesianos não cansam de estar ao lado dos povos indígenas e de trabalhar em prol de seu pleno reconhecimento e emancipação.
Fonte: Agenzia Info Salesiana (ANS)