Santidade Salesiana

Santa Maria Domingas Mazzarello

Nascimento: 09/05/1837
Falecimento (Nascimento para o céu): 14/05/1881
Beatificação: 20/11/1838
Canonização: 24/06/1851
Celebração Litúrgica: 13 de maio

Maria Domingas Mazzarello, familiarmente chamada Main, é uma jovem simples e normal, cheia de vida e sonhos, de defeitos e fraquezas, como muitas outras jovens do seu tempo. Neste sentido, está muito "próxima" de nós, torna-se companheira no caminho da santidade. Ela confirma que a santidade é possível, é linda, é plenitude de vida. Entremos na história da sua vida para descobrir como ela viveu a sua juventude e que mensagem ela nos quer deixar hoje1.

Nascida a 9 de maio de 1837, em Mornese (Alessandria), no Alto Monferrato (Piemonte), de uma família de camponeses e cristãos autênticos, Main recebeu, desde o início, uma profunda formação humana e cristã. A família foi para ela a primeira escola de fé, de humanidade e de socialização. Os pais, de caráter diferente um do outro, encontraram a sua unidade na fé e completaram-se mutuamente na educação dos filhos. Dos pais, Main herdou uma fé firme e um amor pela vida. Da mãe, aprendeu a sinceridade e generosidade, e a coragem para encarar a vida com desenvoltura e humor, amor filial a Nossa Senhora. Primogénita de treze filhos, ela era uma trabalhadora e colaboradora fiel da mãe na educação dos irmãos e irmãs.

À medida que crescia, tornou-se também o braço direito do pai no trabalho do campo. José, seu pai, de quem ela gostava muito, deixou uma marca indelével na sua vida. Ela própria reconheceria que, se havia nela alguma virtude, algo de bom, devia-o a ele. De facto, ela aprendeu com o pai a interiorizar uma visão cristã da vida. Ela mesma recordaria que, ainda menina, lhe fizera uma pergunta: «Pai, o que fazia Deus antes de criar o mundo?» A resposta do pai permaneceu-lhe impressa na sua mente durante toda a vida: «Deus contemplava-se a Si mesmo, amava-se, adorava- se»2. Assim, José colaborava para abrir os horizontes da vida e da fé à filha que se sentia imersa no mistério de Deus, aprendia a descobri-Lo na história, como presença, um Deus Pai, amante da vida, que fala no íntimo do coração. Nesta trama de boas relações familiares, Main aprendia a acolher a vida como um dom, para ser partilhado e missão a desempenhar.

Com a educação dos pais, assumiu, nos anos da adolescência e da juventude, o acompanhamento sábio e prudente de Dom Domenico Pestarino. Se hoje reconhecemos a santidade de Main, devemos também agradecer a este santo sacerdote, seu guia espiritual durante 27 anos.

Main não nasceu santa. Como toda a gente, ela tinha qualidades e defeitos. Vivia a adolescência com todos os riscos e potencialidades que esta idade traz consigo e com a força do coração que é própria deste período da vida. Do ponto de vista humano-psicológico, era uma jovem de temperamento forte e franco, inteligente, intuitiva, viva, de natureza ardente, mente clara e afetividade saudável, por natureza reflexiva e alegre; era empreendedora, dotada de grande capacidade de comunicação, caracterizada por um sentido realista e de bom humor.

Do ponto de vista espiritual, adquiriu uma vida cristã profunda. Tinha o gosto pela contemplação da natureza; ativamente empenhada no trabalho agrícola e no apostolado. A sua espiritualidade era caracterizada por uma piedade sólida, mais interior que exterior, pela simplicidade, alegria, transparência de vida e generosidade no dom de si aos outros.

No entanto, tinha de percorrer um caminho de purificação para que o seu coração jovem se tornasse cada vez mais luminoso e transparente. Todas as qualidades positivas que possuía, se não fossem orientadas sabiamente, poderiam esconder algum perigo: tornar-se impaciente e prepotente, pouco respeitadora para com os outros e até mesmo autoritária. Diz-se que, de jovem, era inclinada à vaidade no vestir, mas fazia esforço por se corrigir; era ambiciosa, levada ao orgulho, de natureza pronta, ardente e fogosa; firme nos seus pontos de vista e pouco complacente, de tal modo que ficava vermelha no rosto quando era contrariada. Era uma jovem aberta à oração, mas inicialmente sentia relutância em abeirar-se da Confissão; as prédicas aborreciam-na, às vezes chegava até a adormecer na igreja.

Maria Domingas era, ao mesmo tempo, delicada de consciência, cheia de confiança em Deus e determinada em seguir o caminho do amor. Sob a orientação sábia e exigente do seu confessor e diretor espiritual, o padre Pestarino, venceu a repugnância pela Confissão, aprendeu o domínio de si, suavizou o seu caráter, assumiu atitudes de docilidade e bondade, e, gradualmente, abriu-se a Deus e às pessoas e avançou na unificação interior. Ela, jovem de coração dócil à graça3, não teve medo de empreender o caminho do profundo, a peregrinação interior que, através da sombra do limite e do pecado, conduzia à verdade última que a habita: Deus. A experiência de Maria Domingas atesta que, sob a ação da graça, a juventude pode tornar-se uma experiência de vida bela, feliz, "agraciada", transfigurada em Cristo.

A jovem mornesina fundamentava a sua vida em alguns valores básicos: Deus, a família, as amizades, o trabalho, o dom de si mesma para a alegria dos outros, a fé em Deus. As palavras de Qoèlet parecem esclarecedoras para ilustrar a sua vida: «Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude» (Qo 12,1). Deus torna-se depressa o centro da sua existência na sua mocidade. Juntamente com a sua tarefa na família, Maria Domingas abriu-se à missão apostólica na paróquia através de uma intensa vida sacramental, especialmente empenhada na catequese e nos grupos de jovens. Abriu-se também à realidade da sua terra com a criação de uma rede de relações sociais e amizades verdadeiras e sinceras. Um exemplo de amizade autêntica foi a que se estabeleceu entre Maria Domingas e Petronilla Mazzarello, e que não diminuiu ao longo dos anos. Main foi também uma jovem profundamente "paroquiana": ela é um fruto maduro da santidade paroquial4.

Não só recebeu muito da paróquia, mas também, sem o saber, ela contribuiu para a renovação espiritual da paróquia de Mornese. Para Maria Domingas, a juventude foi também o tempo da descoberta alegre do seu próprio lugar na história, o momento emocionante da abertura à missão, recebida de Deus, da escolha de vida que requeria esforço e fidelidade. O chamamento do Senhor e o desejo de se Lhe entregar com todas as suas forças, aconteceram bastante cedo, e evoluíram progressivamente para a plena realização, passando de uma vocação laica para uma vocação religiosa salesiana.

1855 marca a data oficial da fundação da Pia União das Filhas de Maria Imaculada5, instituição que, por suas características e objetivos, antecipava os Institutos Seculares. Maria Domingas, que desde os 15 anos se tinha entregue ao Senhor com o voto de castidade, sentiu-se imediatamente atraída pela proposta e foi uma das primeiras inscritas. Durante 17 anos viveu a vocação laical, fez uma experiência forte de espiritualidade apostólica, consagrando-se a Deus explicitamente no «exercício da caridade», através de uma intensa atividade social e eclesial entre os jovens, as mães, os doentes e os necessitados da sua terra. As Filhas da Imaculada estavam ligadas umas às outras por um forte espírito de família e viviam uma forma de acompanhamento recíproco. Lê-se na sua Regra: «As Filhas da Pia União devem considerar-se como verdadeiras irmãs, e como uma boa irmã ajuda a sua querida irmã em todas as suas necessidades, assim deverão ajudar-se reciprocamente, o melhor que puderem».6 Mas, acima de tudo, viviam o acompanhamento recíproco como amizade espiritual para crescer no amor de Deus, a correção fraterna, advertindo sobre os defeitos, o exercício da caridade.

Uma experiência fundamental e decisiva na vida de Main aconteceu quando ela tinha 23 anos de idade. Ela foi atingida pelo tifo. Foi a experiência dura da prova e da confiança total em Deus. A doença ameaçou a sua vida e o seu futuro. Deus, porém, na sua imensa bondade, tinha para ela um novo projeto de amor. Quando tudo parecia ter terminado, começou para ela uma aventura fascinante. Main, fragilizada na sua força física, não se fechou em si mesma, mas reagiu de uma maneira resiliente e perguntou o que queria Deus dela. Ele quer tudo, o dom total da vida, até mesmo a fragilidade, para fazer dela um dom para os outros jovens. Main abandonou-se a Ele num gesto de confiança: «Oh, Senhor! Se me dais ainda algum tempo de vida, fazei que eu seja esquecida por todos. Sou feliz por ser recordada apenas por vós»7. O Senhor escutou a sua oração e achou-a preparada para a nova missão.

Indo um dia por uma estrada do Borgoalto, em Mornese, teve uma visão misteriosa: viu um grande edifício com muitas meninas que corriam no pátio, e ouviu uma voz que disse: «A ti as confio»8. Para Maria Domingas, este era um chamamento a abraçar uma missão maior que ela. Com grande humildade, acolheu o que Deus lhe pediu e fez uma escolha radical de vida: dedicar-se totalmente à educação cristã das jovens. O amor é sempre criativo, ousado e desperta as melhores energias de bem que existem na pessoa. Depois, uma intuição, quase uma marca divina: aprender costura com uma finalidade educativa, ensinar às jovens uma profissão, mas sobretudo educá-las a conhecer, amar e servir o Senhor.

O amor envolve e arrasta. Partilhou a sua intuição, que a abriu a um novo futuro, com a sua amiga Petronilla e foi nascendo assim, progressivamente, uma oficina de costura, um oratório, um lar. O Espírito Santo moldou nela um coração materno. Prudente e sábia, educou as meninas com amor preventivo. A obra cresceu. Uniram-se a Maria Domingas outras companheiras naquela missão e, em 1867, começaram a viver em comunidade na Casa Imaculada, próxima da paróquia. O grupo era incentivado e acompanhado por dom Pestarino. Maria Domingas não sabia para onde a conduzia o Senhor, mas confiou n'Ele, escolheu o caminho da radicalidade evangélica expressa na fidelidade ao quotidiano e na alegria do coração apaixonado por Cristo.

Algo estava para acontecer e, mais uma vez, mudou a sua vida, ou melhor, ampliou os seus horizontes de mulher educadora apaixonada. Em outubro de 1864, Dom Bosco foi, pela primeira vez, a Mornese. Era o primeiro encontro entre os dois "Santos dos jovens". Maria Domingas percebeu de imediato a santidade daquele sacerdote: «Dom Bosco é um santo e eu sinto-o!»9 A Dom Bosco, certamente, não passou despercebido aquele grupo das Filhas da Imaculada e o bem que elas estavam a realizar às meninas da terra. E, quando se tratou de fundar um instituto religioso, dedicado à educação das jovens, Dom Bosco escolheu, precisamente daquele grupo, as primeiras pedras da futura obra.

Quando Maria Domingas ouviu a sua proposta, não hesitou: pronunciou, imediatamente, sem hesitar, o seu sim e tornou-se Co-fundadora do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). No dia 5 de agosto de 1872, Maria Domingas Mazzarello e dez das suas companheiras deram início ao novo Instituto, consagrando-se a Deus com votos religiosos. Ela tinha 35 anos; era uma mulher adulta. A sua paixão apostólica pela salvação das jovens, em poucos anos alcançou as dimensões do mundo. Viveu os últimos nove anos numa intensa maternidade espiritual e sem nunca perder a juventude do espírito.

Ir. Eliane Anschau Petri (FMA)

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1 Para mais informações, pode ser útil refletir sobre a “missão” de Maria Domingas Mazzarello em relação aos jovens cf ANSCHAU PETRI Eliane, A santidade de Maria Domingas Mazzarello. Hermenêutica teológica dos testemunhos nos processos de canonização e beatificação, Roma, LAS 2018, 300-311.

2 MACCONO Ferdinando, Santa Maria Domingas Mazzarello. Cofundadora e primeira Superiora Geral das Filhas de MariaAuxiliadora, vol. I, Turim, Instituto FMA 1960, 17.

3 A “docibilitas” é a capacidade da mente e do coração de se deixar formar pela vida ao longo de toda a existência. Esta atitude permite viver cada dia e cada relação, cada idade e estação, cada acontecimento e circunstância, mesmo as inéditas ou que parecem adversas, como tempo e oportunidade de formação (cf CENCINI Amedeo, A árvore da vida. Para um modelo de formação inicial e permanente, Cinisello Balsamo [Milão], São Paulo 2005, 125).

4 Cf POSADA María Esther, História e santidade. Influência do teólogo Giuseppe Frassinetti sobre a espiritualidade de Santa Maria Domingas Mazzarello, Roma, LAS 19922, 107.

5 A Associação das Filhas da Imaculada surgiu da intuição de uma outra jovem mornesina: Ângela Macanho (Mornese 1830-1890) oriunda de uma família abastada. Foi a primeira professora municipal da aldeia, completando a sua formação em Génova. Naquela cidade conheceu José Frassinetti, que se tornou seu diretor espiritual. Distinguiu-se pela sua dedicação apostólica e pela espiritualidade mariana. Em 1851 ela teve a inspiração de iniciar em Mornese a Pia União das Filhas da Imaculada e escreveu o primeiro esboço da Regra. Frassinetti compilou, com base nesse "esboço", uma Regra, que publicou em 1856 e reelaborou em 1863. A Macanho foi a primeira Superior da Pia União de Mornese. Morreu em conceito de santidade a 16 de janeiro de 1890. Dom Domenico Pestarino foi promotor e guia espiritual desta Associação.

6 Expressão presente na fórmula de consagração das Filhas da Imaculada estabelecida pela Regra (cf FRASSINETTI José, Regra da Pia União das Filhas de Santa Maria Imaculada, in ID., Obras ascéticas, vol. II, ao cuidado de Giordano Renzi, Roma, Postulação Geral dos Filhos de S. Maria Imaculada 1978, 69).

7 Cronistoria I 93.

8 Ivi 96.

Fonte: cgfmanet.org/pt

 

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